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O melhor negócio não é viver da agricultura e sim viver dos agricultores


Opinião Livre
Autor não identificado.
Este muito antigo porem cada vez mais atualizado provérbio não pode continuar sendo ignorado porque ele está penalizando os produtores rurais e os consumidores das suas colheitas. Vários estudos indicam que os  produtores rurais latino-americanos estão recebendo, em média, apenas 15% dos preços que os consumidores pagam pelos alimentos nos supermercados. Dos outros 85% se apropriam os crescentes elos das cadeias de intermediação, alguns necessários porem outros prescindíveis, abusivos e até parasitários. Este artigo demonstra que, em boa medida, esta injustiça pode ser evitada e/ou corrigida pelos próprios produtores rurais; com a única condição de que estejam adequadamente capacitados e organizados solidariamente com os seus vizinhos, para que além de tornarem-se mais eficientes na etapa de produção propriamente dita, possam executar algumas atividades, anteriores à semeadura e posteriores à colheita, etapas que atualmente são realizadas por numerosos intermediários. 
Ao contrário do que afirmam muitíssimos teóricos, os principais problemas econômicos dos produtores rurais desta privilegiada região latino-americana não necessariamente ocorrem por causa do capitalismo, do colonialismo, do imperialismo, das políticas do FMI e do Banco Mundial, da globalização dos mercados, dos subsídios que os países ricos concedem aos seus agricultores; tampouco ocorrem por falta de reforma agrária, de créditos generosos e de garantias de comercialização das suas colheitas. Para a grande maioria dos produtores rurais os problemas ocorrem, fundamentalmente, devido à crescente inadequação, insuficiência e/ou obsolescência dos conhecimentos que eles herdaram dos seus antepassados, os quais necessitam ser rapidamente atualizados para adaptá-los às novas e crescentes exigências dos mercados globalizados e altamente competitivos. 
Neste artigo demonstro que este novo desafio de “eficientizar” os produtores rurais para torná-los muito menos dependentes do esgotado paternalismo governamental e simultaneamente menos vulneráveis aos insaciáveis apetites dos intermediários “não é o fim do mundo”. Os produtores rurais poderão fazê-lo adotando de maneira gradual e correta a maioria das seguintes dez medidas propostas neste texto:  
Primeira medida – Mudanças nas atitudes dos produtores rurais no sentido de substituir a ilusão de que receberão soluções paternalistas pelo eficiente e organizado protagonismo dos próprios agricultores e pecuaristas na solução dos seus problemas econômicos. Pelo elementar motivo de que a capacidade (operativo-institucional, financeira e política) dos nossos governos de solucionar os problemas de todos os produtores rurais pela via do paternalismo é mínima para não dizer nula. Em vez de continuar esperando pelas improváveis, insuficientes, ineficazes ajudas materiais e financeiras governamentais, recomendo que os produtores rurais se associem imediatamente a uma cooperativa agrícola que já esteja proporcionando assistência técnica aos seus associados; pelo simples motivo de que na era da globalização dos mercados o conhecimento adequado, atualizado e inteligível pelos agricultores é o insumo mais imprescindível, mais eficaz e mais duradouro para melhorar a rentabilidade na agricultura e na pecuária. Caso tal cooperativa ainda não exista no município ou região, os produtores rurais poderão formar um grupo pré-cooperativo com uns 10 ou 20 agricultores solidários e em conjunto contratar um extensionista (agrônomo, zootecnista, veterinário ou técnico agrícola, que preferentemente tenha mais criatividade e  "mais calos nas mãos” que títulos acadêmicos pendurados nas paredes do seu escritório). Este extensionista deverá ter real capacidade teórica e especialmente prática para melhorar a eficiência do grupo solidário na produção propriamente dita, na administração das propriedades rurais e na comercialização das colheitas. Caso os recursos deste incipiente grupo cooperativo não sejam suficientes para pagar o salário do extensionista, os produtores rurais não devem desistir deste insubstituível objetivo educativo; devem solicitar/reivindicar que a prefeitura municipal, alguma ONG ou outra instituição de apoio ao agro o contrate e o coloque à disposição do grupo solidário recém-constituído; porque no mundo moderno este eficiente assessoramento técnico é absolutamente imprescindível para que todos os produtores rurais possam começar, imediatamente, a adotar as próximas nove medidas que proponho a seguir. 
Segunda medida –  É necessário aumentar os baixíssimos rendimentos médios latino-americanos, por hectare e por animal, descritos nos próximos itens a, b, c, d, e, f e g, como a mais urgente e eficaz medida para começar a substituir a pobreza pela prosperidade rural.
Porque neste mundo globalizado e altamente competitivo os produtores rurais, simplesmente não poderão sobreviver economicamente: 
a. Enquanto continuarem colhendo em média apenas 5.000 ou 8.000 kg de milho por hectare, porque dentro e fora da América Latina existem muitos produtores que já estão colhendo dez, doze e até mais de dezesseis ton/ha.  
b. Enquanto continuarem colhendo em média apenas 2.400 kg de trigo por hectare porque nos países latino-americanos existem muitos produtores que estão colhendo mais de 7.000 kg/ha. Triticultores chilenos estão colhendo 9.500, 10.600 e até 12.000 Kg/ha. Na Alemanha e na França, por exemplo, o rendimento médio nacional é superior a 8 toneladas de trigo/ha. 
c. Enquanto continuarem colhendo apenas 20.000 kg de batata inglesa por hectare porque os produtores eficientes estão colhendo quarenta, cinquenta e até sessenta toneladas por hectare. Na Bélgica o rendimento médio nacional é de 49 toneladas/ha
d. Enquanto continuarem colhendo 900 kg de feijão por hectare porque os produtores eficientes já estão colhendo até 3.700 kg /ha
e. Enquanto continuarem colhendo apenas 74 toneladas de cana-de-açúcar por hectare porque os produtores eficientes já estão colhendo mais de 300 toneladas/ha
f. Enquanto as suas vacas continuarem parindo um terneiro a cada 20 ou 22 meses e cada uma delas produzindo apenas quatro litros de leite ao dia; porque as vacas de muitos produtores eficientes dentro e fora do Brasil têm regularmente um parto de 13 em 13 meses e cada uma delas já está produzindo em média 40 litros de leite ao dia. As vacas do desértico Israel produzem 12.000 litros de leite por lactação e as nossas apenas 1.200 litros. Relatórios informam que as super-vacas do Estado de Wisconsin nos Estados Unidos produzem 87 litros de leite por dia.
g. Enquanto os seus novilhos continuarem atingindo o peso de abate aos 40 e até aos 48 meses de vida, porque terão que competir com pecuaristas muitíssimo mais eficientes cujos animais, melhorados geneticamente, bem alimentados e sadios, atingem o peso de abate aos 24, outros aos 20, outros aos 18 meses; e os novilhos super-precoces estão sendo abatidos aos 16 e os hiper-precoces aos 14 meses de vida. Devido à crescente globalização dos mercados sobreviverão economicamente apenas os produtores rurais eficientes; os ineficientes lamentavelmente terão que dedicar-se a outras atividades não agrícolas.
Terceira medida – Com o propósito de que todos os produtores rurais possam começar, imediatamente, a incrementar estes baixíssimos rendimentos recomendo a seguinte estratégia: Iniciar a intensificação produtiva introduzindo aquelas muitas inovações de baixo ou zero custo, cuja adoção depende muito mais do como fazer que do com o que fazer. Porque tais inovações para serem adotadas geralmente não requerem de recursos materiais ou financeiros adicionais àqueles que os produtores rurais já estão utilizando (sejam próprios ou de terceiros). Com esta atitude realista, de fazer o possível imediatamente, em vez de continuar esperando por improváveis ajudas paternalistas governamentais, inclusive os produtores rurais mais pobres poderão começar imediatamente, a incrementar os rendimentos por unidade de terra e de animal; e consequentemente a melhorar a renda familiar; porém reconheço e insisto que necessitarão fazê-lo por etapas, passo a passo.  
Poderão iniciar esta “eficientização” produtiva introduzindo aqueles melhoramentos que para serem introduzidos requerem muito mais de conhecimentos adequados que de créditos abundantes, como por exemplo: a. Medidas para melhorar a eficiência na pecuária bovina: antes do parto recolher a vaca a um local seco e limpo, assisti-la durante o parto, desinfetar o umbigo do recém nascido, garantir que ele tome 4 ou 5 litros de colostro nas primeiras quatro horas de vida, separar o terneiro da mãe desde o primeiro dia de vida e mantê-lo com ela apenas durante a amamentação, garantir que o úbere fique completamente esvaziado/esgotado depois de cada ordenha ou amamentação com o objetivo de estimular que a próxima secreção de leite reinicie imediatamente, desmamar o terneiro aos quatro meses de vida, adotar medidas de higiene antes, durante e após a ordenha, vacinar e eliminar os ecto e endoparasitas dos animais, melhorar a produtividade e a qualidade nutricional das pastagens, se possível adotar o pastoreio rotativo, armazenar alimentos/forragens que abundam e são desperdiçados nos meses mais produtivos (armazenar estes excedentes em forma de grãos, silagem e/ou feno) para que os animais estejam, quantitativa e qualitativamente, bem alimentados e se mantenham produtivos durante os 365 dias do ano, elaborar rações balanceadas utilizando para tal fim os ingredientes que podem ser produzidos nas suas propriedades, tais como milho, sorgo, soja, alfafa, guandu (Cajanus cajan), leucaena, algaroba, etc. b. Medidas para melhorar a eficiência na agricultura: Manter o solo permanentemente coberto com novos cultivos ou com os restos da colheita anterior, jamais queimar a palhada, fazer teste de germinação antes da semeadura, se necessário inocular as sementes das leguminosas, regular/calibrar a plantadeira para assegurar a quantidade adequada de plantas por hectare, semear obedecendo as curvas de nível, recolher e incorporar ao solo os estercos para melhorar a sua fertilidade., diversificar as espécies produzidas para reduzir riscos de clima, de pragas/doenças e de mercado, na diversificação incluir gramíneas com elevado potencial para produzir um rápido e abundante crescimento radicular que permita melhorar a porosidade e promover a descompactação do solo, adotar a rotação de culturas e o eficientíssimo sistema integral/completo de plantio direto, eliminar as ervas daninhas antes que elas prejudiquem o cultivo, na medida do possível adotar o manejo integrado de pragas, de doenças e de ervas daninhas, de modo que os pesticidas sejam o último recurso e não o primeiro e muito menos o único recurso para eliminá-las, reduzir as perdas que ocorrem durante e depois da colheita de grãos, não dedicar-se apenas à etapa mais pobre do agronegócio que é a etapa de produção propriamente dita e finalmente produzir espécies mais nobres e sofisticadas que sejam consumidas pelos compradores que tem poder aquisitivo mais elevado. Os alimentos consumidos pelos pobres devem ser produzidos pelos grandes produtores rurais devido à sua elevada escala de produção que lhes permite diluir os custos de produção por uma elevada quantidade de hectares. 
Estas 29 medidas recém propostas para “eficientizar” a pecuária bovina e a agricultura, aparentemente tão elementares, são muito eficazes para uma primeira etapa de elevação da produtividade/rendimento; porém elas não são suficientes.  Depois que os produtores rurais as adotarem de maneira correta, aumentarão a renda familiar a qual poderá ser utilizada para financiar a segunda etapa de intensificação produtiva. Esta nova etapa lhes permitirá aumentar a renda familiar e utilizá-la para semear mais hectares, ampliar o rebanho e melhorar a sua genética, fertilizar e irrigar as pastagens, renovar a maquinaria agrícola, adotar a agricultura de precisão, incorporar valor agregado às colheitas, etc. Com a diferença de que, adotando esta estratégia de gradualismo, os produtores rurais utilizarão para a segunda etapa os recursos financeiros que eles geraram dentro das suas propriedades (em vez de endividar-se com os bancos ou com os agiotas). Foi adotando esta modesta porem eficaz estratégia de partir do possível para chegar ao desejável e de produzir mais e melhor com menos recursos, que muitíssimos ex-pobres rurais de todos os países da América Latina deixaram de ser pobres.
Quarta medida – Substituir a quantidade pela produtividade dos fatores de produção, isto é cultivar menos hectares e criar menos animais para que ambos produzam com rendimentos mais elevados. Com tal propósito sugiro manter nas propriedades rurais apenas a quantidade de animais que os pecuaristas possam alimentar adequadamente, durante os 365 dias do ano. Como regra geral, será economicamente muito mais conveniente utilizar/ocupar apenas um hectare de terra  e melhorar a sua produção forrageira para alimentar adequadamente uma vaca geneticamente melhorada, que poderá produzir 40 litros de leite ao dia; em vez de ocupar 10 hectares de terra escassa e de baixíssima produtividade forrageira para manter neles 10 vacas quantitativa e qualitativamente mal alimentadas, que em conjunto produzirão os mesmos 40 litros que poderá produzir uma única vaca muito mais produtiva ocupando apenas um hectare de terra. O mesmo principio se aplica às atividades agrícolas; utilizar menos hectares e neles colher mais sacos de grãos. Aumentar a renda familiar através do incremento da produtividade dos fatores escassos e do associativismo (para comprar melhor, produzir mais e vender melhor), é especialmente importante; porque a grande maioria dos produtores rurais latino-americanos é constituída por minifundistas; consequentemente esta maioria necessita estar muito bem capacitada para ser capaz de compensar a insuficiência dos seus fatores de produção.
Quinta medida – Substituir as antiquadas e equivocadas monoculturas de grãos, tubérculos ou raízes, que produzem apenas uma ou duas entradas de dinheiro ao ano. Recomendo adotar a diversificação produtiva para obter colheitas e rendas familiares em várias épocas do ano. Será conveniente diversificar a produção agrícola e, se possível, distribuir/escalonar as datas das semeaduras. Através da diversificação, além dos cultivos extensivos os agricultores poderão produzir em pequenas quantidades algumas espécies de frutas e hortaliças, criar pequenos animais e algumas vacas leiteiras com o duplo propósito de obter frequentes/permanentes produções de alimentos para melhorar a nutrição familiar e ter entradas de dinheiro em distintas épocas do ano. Os produtores de bovinos, cabras e ovelhas deverão, em primeiríssimo lugar, melhorar a produtividade e a qualidade nutricional das pastagens/forrageiras para tornarem-se menos dependentes da aquisição das rações balanceadas industrializadas.
Sexta medida - Realizar, também em forma gradual, a reconversão produtiva, substituindo as espécies tradicionalmente cultivadas pelos agricultores pobres e adquiridas pelos consumidores também pobres (mandioca, batata inglesa, batata doce, abóbora, arroz, feijão). Em seu lugar recomendo produzir espécies/bens que são adquiridos pelos consumidores de poder aquisitivo mais elevado. Porque é muito difícil que esta grande maioria de agricultores pequenos e pobres que dispõe de minúsculas superfícies de terra e produz espécies consumidas pelos pobres possa sobreviver economicamente; por mais elevada que seja a produtividade dos seus terrenos. Porque estas seis espécies recém mencionadas produzem pouquíssimas receitas monetárias por hectare e por ano. Analisem a possibilidade e/ou conveniência de substituí-las por algumas outras produções mais “nobres” ou sofisticadas que são adquiridas pelos consumidores que podem e estão dispostos a pagar preços mais elevados; tais como algumas das seguintes espécies que atingem preços muito mais elevados na comercialização: brócolis, alcachofras, tomates-cereja, melões e melancias, morangos, abacaxis, anonáceas, figos, hortaliças orgânicas, frangos-caipira.  
Sétima medida - Reduzir as lamentáveis (porque algumas são facilmente evitáveis) perdas de grãos, hortaliças e frutas, que ocorrem antes, durante e depois da colheita. No caso dos grãos, além de regular/calibrar corretamente a colheitadeira para reduzir as perdas durante a colheita, os agricultores poderão evitar a incidência de mico-toxinas e os elevados danos provocados por gorgulhos e roedores. Também poderão reduzir as perdas de hortaliças e frutas que abundam nas épocas de colheita e se perdem por não transformá-las nas muito apreciadas conservas artesanais tais como polpas de frutas, de tomates e de outras hortaliças, geléias, compotas, marmeladas; ou as que se perdem por não desidratar as frutas, expondo-as diretamente ao sol ou utilizando secadores solares. Varias frutas secas/desidratadas têm excelente sabor, grande aceitação e elevados preços nos mercados; tais como: abacaxis, pêssegos, ameixas, mangas, figos, maçãs, papaias e peras.  A propósito, destas evidentes possibilidades de melhorar a renda familiar, até agora descritas, formulo a seguinte pergunta: quantos produtores rurais estão adotando estas sete medidas reconhecidamente de baixo custo e alta eficácia?  Infelizmente, pouquíssimos, não por falta de altas decisões políticas ou de créditos abundantes; e sim devido à baixa qualidade da maioria das instituições governamentais de educação rural. Com raras exceções é no seu interior que estão silenciosamente instaladas, e poucas vezes questionadas, as causas mais profundas do subdesenvolvimento agrícola e rural de todos os países da América Latina. Estas causas podem e devem ser urgentemente removidas, em boa medida, pelos seus próprios diretores e professores.
Oitava medida – Melhorar a apresentação visual fazendo uma “maquiagem” nas colheitas antes de comercializá-las. Como, por exemplo; lavá-las, classificá-las por tamanho, fracioná-las e empacotá-las. Utilizando a mão de obra familiar os agricultores poderão fazer uma “maquiagem” tão elementar como a que realizam os supermercados antes de vender as frutas, as hortaliças, as raízes/tubérculos e os grãos leguminosos. É graças ao fracionamento e ao melhoramento da apresentação visual, ambos de baixíssimo custo, que os supermercados costumam duplicar e até triplicar os preços de venda dos mencionados produtos. Então, se os funcionários dos supermercados podem ser treinados para fazê-lo, é evidente que as famílias rurais também poderão ser orientadas com idêntico propósito; porém, lamentavelmente pouquíssimas vezes alguém as motiva e capacita para que queiram e saibam fazê-lo. 
No entanto é necessário reconhecer que a adoção de algumas das oito medidas recém descritas requer investimentos de custo mais elevado, que cada pequeno produtor não poderá realizá-los em forma individual. Por este motivo, para que esta proposta melhore ainda mais a renda familiar será conveniente adotar a nona e a décima medidas, ambas descritas a seguir.
Nona medida – Adotar a “verticalização”/integração vertical do agronegócio. Porque a única etapa do negocio agrícola à qual a maioria dos agricultores atualmente se dedica ( aquela que vai da semeadura até a colheita), é a que exige mais trabalho, é a que está mais exposta/vulnerável a riscos/incertezas de clima, pragas/doenças e de mercado e é a menos rentável. Por esta razão recomendo que os produtores rurais deponham o individualismo, formem grupos cooperativos/solidários para que possam ampliar a escala de produção que lhes permita assumir a execução de algumas etapas ricas do agronegócio;  porque é nelas,  e não na etapa de produção propriamente dita, que os produtores rurais  poderão melhorar muito mais a sua rentabilidade. 
Exemplificando, os suinocultores poderão cultivar nas suas propriedades ou em terras arrendadas os ingredientes com os quais são fabricadas  as rações balanceadas. Através de um grupo solidário poderão adquirir um triturador de grãos, uma balança e um misturador de rações e elaborar, os próprios criadores, as mencionadas rações, comprando apenas os suplementos vitamínicos e minerais. Posteriormente, com estas rações fabricadas pelo grupo solidário poderão alimentar os seus animais com custos incomparavelmente mais baixos. Com o propósito de que eles adotem tal procedimento que lhes é tão conveniente, os produtores rurais deverão ser informados e advertidos de que o componente alimentação incide nos custos de produção em até 80% na criação de suínos e aves e em até 50% no custo da produção de leite; consequentemente é nos custos das rações que será definido o êxito ou o fracasso econômico dos criadores. Quando os  suínos chegarem ao peso de abate, ao invés de vendê-los vivos ao primeiro intermediário, os criadores poderão, em forma individual ou grupal, abater os suínos que criaram, industrializá-los em forma artesanal e transformá-los em presuntos, salames, bacon, mortadelas ou linguiças e finalmente poderão vender estes derivados dos suínos  aos supermercados ou diretamente aos consumidores finais, sem intermediação. Se adotarem apenas estas duas medidas de verticalização, serão os suinocultores, e não os fabricantes de rações e nem os frigoríficos que normalmente  industrializam os suínos, os beneficiários de toda a riqueza que os produtores rurais  produziram nas suas pequenas propriedades. Porém se os criadores continuarem não fazendo-o, as riquezas que produzem continuarão beneficiando os intermediários que compram dos agricultores os mencionados ingredientes (soja, milho, etc.), os caminhoneiros que os transportam  até as longínquas fábricas de rações, os industriais que as transformam em rações balanceadas, novamente os caminhoneiros que as trazem de volta ao município no qual foram produzidos os ingredientes das rações  e finalmente os comerciantes do município que lhes vendem, com alto valor agregado, as rações balanceadas que, provavelmente, foram fabricadas utilizando os mesmos  ingredientes que saíram das suas propriedades ou dos seus municípios. Ao ter tantos “sócios” com os quais os produtores rurais atualmente estão compartilhando as riquezas que produzem nas suas propriedades, não é de surpreender a lamentável distorção/injustiça que descrevo a seguir.
Reiterados estudos indicam que, em média, os produtores rurais da América Latina recebem apenas 15% dos preços que os consumidores finais pagam pelos alimentos nos supermercados ( frutas, hortaliças, cereais, leguminosas,  derivados do leite, carnes fracionadas ou industrializadas, etc. ). Dos outros 85% se apropriam, sem merecer, os numerosos  intermediários que menos trabalharam, que não produziram os mencionados alimentos e que não se expuseram a maiores riscos. A propósito desta inaceitável distorção o seguinte e antigo provérbio está cada vez mais atualizado: “O melhor negócio não é viver da agricultura e sim viver dos agricultores”. Esta injusta distorção é consequência do individualismo e da  ingenuidade que os próprios produtores rurais poderiam e deveriam eliminar dos seus procedimentos. 
Décima/última medida – Abandonar o individualismo que está destruindo economicamente os produtores rurais. Juntar-se com os seus vizinhos para  ampliar a escala de produção, para reduzir/diluir  os custos fixos em maquinaria e instalações de alto custo, para incorporar valor agregado às colheitas e para fortalecer o poder de negociação/barganha na aquisição dos insumos e na comercialização das colheitas. Os próximos três exemplos demonstram claramente que, devido ao individualismo (que deveria ter sido, desestimulado nas atitudes das crianças quando elas frequentaram as escolas fundamentais rurais)  os próprios produtores são importantes causadores dos seus  problemas econômicos:
Primeiro exemplo – Eles pagam preços desnecessariamente altos pelos insumos porque os adquirem com alto valor agregado, sempre em forma individual, em minúsculas quantidades, do último intermediário de uma longa cadeia de intermediação e na pior época do ano. 
Segundo exemplo - Quando comercializam as suas colheitas eles obtém preços muito baixos porque fazem o contrario do descrito no primeiro exemplo; pois  vendem as colheitas  ao primeiro intermediário que aparece na propriedade, sem incorporar valor agregado. Adicionalmente as vendem na pior época do ano, quando todos os produtores rurais necessitam comercializá-las para poder liquidar suas dívidas e os preços se deprimem.
O individualismo os tornou extremamente frágeis e os conduziu à seguinte submissão: quando compram os insumos adotam a atitude normal de perguntar ao vendedor quanto custa? Porém quando se convertem em vendedores das suas colheitas, em vez de determinar o preço de venda, continuam perguntando quanto me pagam? Devido ao individualismo, os produtores rurais nunca são formadores de preços, sempre são passivos tomadores/’’aceitadores” de preços que lhes impõem os vendedores de insumos e os compradores das suas colheitas.   
Terceiro exemplo – Economicamente só se justifica possuir uma colheitadeira de grãos individual quando o agricultor cultiva áreas superiores a 300 hectares. Infelizmente, muitos produtores rurais que cultivam apenas  10 ou 20 hectares, se endividam desnecessariamente adquirindo uma máquina individual de altíssimo custo, que a utilizam durante poucos dias ao ano. Cometem esta incoerência ao invés de formar um grupo solidário e adquirir uma boa colheitadeira que proporcione serviços eficientes a todos os integrantes do grupo. 
Este frequente e equivocado investimento em maquinaria superdimensionada produz consequências economicamente desastrosas contra os próprios agricultores. Porque, em muitíssimos casos, o dinheiro que eles mal gastaram   ao adquirir a maquinaria individual superdimensionada que permanecerá subutilizada, é o dinheiro que, mais adiante, lhes faltará para adquirir o que é muitíssimo mais prioritário e indispensável, como por exemplo: para comprar sementes melhoradas, fertilizantes, inoculantes, pesticidas, anti parasitários, sais minerais; ou para renovar, fertilizar e irrigar as pastagens. Devido a este individualismo, aparentemente inofensivo, os agricultores  estão adotando estes três procedimentos equivocados, todos eles contrários aos seus próprios interesses econômicos. É necessário que eles deponham este individualismo autodestrutivo e comecem a praticar a solidariedade com os seus vizinhos. Oxalá que iniciem a fazer algo similar ao que já o fizeram e continuam fazendo, com extraordinário êxito, as cooperativas agroindustriais do Paraná, de Santa Catarina  e do Rio Grande do Sul e em menor escala as de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. 
E para concluir, um oferecimento e uma solicitação.  As pessoas que, após a leitura deste artigo, desejarem enviar-me os seus comentários críticos poderão contatar-me  através do email [email protected] ou do telefone ( 041 ) 3243 2366. Solicito a colaboração de todos vocês no sentido de reenviar este artigo aos seus contatos; gentileza pela qual antecipo os meus sinceros agradecimentos. Saudações Engenheiro Agrônomo Polan Lacki.

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