CI

O manejo do Plantio Direto precisa de ajustes


Amélio Dall’Agnol
Salientamos recentemente, neste mesmo espaço, a importância da adoção do Sistema de Plantio Direto na palha (SPD) para explicar o espetacular desenvolvimento do agronegócio brasileiro a partir dos anos 70, o que promoveu o Brasil de importador à condição de segundo maior exportador global de alimentos e a caminho da liderança. Dissemos, inclusive, que o SPD merecia monumentos de reconhecimento em muitas cidades brasileiras, pelo tanto que essa tecnologia representou para a solução de antigos problemas de erosão dos solos e sua consequente degradação, resultando em baixa produtividade no campo e pobreza nas cidades.
Fazendo analogia com a sustentabilidade agrícola, que se apoia sobre o tripé das perspectivas econômica, social e ambiental, o SPD também tem três fundamentos para funcionar adequadamente: 1) Baixo revolvimento do solo. 2) Que ocorra formação de abundante palhada e 3) Que seja realizada a rotação de culturas.
Talvez pelos bons resultados desse sistema de manejo do solo nas duas últimas décadas, muitos produtores adquiriram excesso de confiança no sistema e descuidaram os fundamentos que o regem, permitindo, inclusive, a eliminação dos terraços de contenção das enxurradas para facilitar as operações de semeadura e colheita, com o agravante de realizar tais operações morro abaixo.
O ponto mais crítico de desvio do rumo certo do SPD está relacionado com o acúmulo insuficiente de palhada na superfície do solo, resultado da prática deficiente da rotação de culturas. A rotação é fundamental na formação de abundante palhada, a qual favorece a proteção do solo e conservação da umidade, além de ajudar no controle das plantas daninhas.
Nada contra a repetitividade do “sistema soja-milho safrinha”, o qual tem favorecido o agricultor com bons resultados econômicos nas duas últimas décadas. Mas que tal se agora, ao menos se buscasse a alternativa de diversificar as culturas de inverno? Não digo substituir toda a área hoje cultivada com milho safrinha, por trigo, aveia ou pastagem, mas parte dela. Isto reduziria o atropelo na colheita da soja e plantio do milho, além de diminuir a compactação do solo pelo excesso de trânsito de máquinas num período normalmente mais chuvoso. Outra prática relevante para aprimorar a rotação de culturas seria a substituição de parte da soja semeada na primavera (25%) por milho, garantido milho em toda a área a cada quatro anos.
A palhada de trigo, embora em menor quantidade em relação a do milho safrinha, apresenta maior cobertura do solo, resultando em maior retenção da água das chuvas e melhor controle de plantas daninhas que resistem aos herbicidas, como a buva, por exemplo. Por outro lado, sendo a palhada do milho deficiente na cobertura do solo, porque não incrementá-la cultivando braquiária entre as fileiras do milho! Vai competir com o milho? É possível, mas diante dessa possibilidade aplique pequena dose de herbicida para atrasar o desenvolvimento do pasto, o qual se desenvolverá a pleno quando o milho amadurecer, deixando um colchão de massa verde, que, somado à resteva do milho, deixará o solo bem protegido contra a erosão, a perda de umidade e a proliferação de plantas daninhas, além de oportunizar lucros servindo de foragem para o engorde de bovinos. Com muita palhada, seria até possível distanciar um pouco mais os terraços, sem, no entanto, eliminá-los.
O SPD foi e é muito relevante para o crescimento do agronegócio brasileiro. Ele merece os ajustes necessários para que continue sendo sustentável em longo prazo.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.