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O biodiesel na matriz enegética brasileira


Amélio Dall’Agnol

O programa de incentivo à produção de biodiesel do governo federal está dando certo. Muitos empresários aderiram à idéia e estão investindo muito dinheiro na instalação de novas unidades industriais para transformação do óleo vegetal em biocombustível, principalmente a partir do óleo de soja, responsável por quase 90% do óleo vegetal produzido no Brasil.

Esta febre pelo novo combustível está permitindo ao governo pensar na antecipação das metas de uso obrigatório de 2% e 5% de biodiesel no diesel, de 2008 para 2007 (B2) e de 2013 para 2010 (B5). Já são mais de 2.000 postos de abastecimento no País oferecendo com alarde o B2, como se já não estivessem vendendo biocombustíveis há muito tempo, na forma de álcool puro ou misturado na gasolina.

A novidade é que o novo biocombustível substitui o diesel e substituir o diesel pelo biodiesel é muito mais difícil do que substituir a gasolina pelo álcool, visto que a quantidade de óleo vegetal produzido por hectare, é muito menor que a de álcool produzido na mesma área.

 

O biodiesel está na moda, embora muitas dúvidas ainda pairem sobre a sua identidade. A confusão começa na definição do que é o biodiesel. Há, simplesmente, os que o confundem com o óleo vegetal bruto. Também, há os que não diferenciam o biodiesel puro (B100) do biodiesel misturado (B2, B5...) e falam de um e de outros como se fossem a mesma coisa, resultando em números equivocados sobre a quantidade produzida ou consumida. Também, há os que não diferenciam o biodiesel do novo diesel desenvolvido pela Petrobrás: o H-Bio. Vamos aos esclarecimentos.

DIESEL é um dos combustíveis obtidos pelo refino do petróleo. É um combustível fóssil, não renovável e poluente. Está ficando raro e, conseqüentemente, caro, ensejando a oportunidade para alternativas mais econômicas e sustentáveis, como a do biodiesel.


BIODIESEL é um combustível renovável, na faixa do diesel, menos poluente e obtido pela reação química entre uma gordura vegetal ou animal com álcool etílico ou metílico (transesterificação), na proporção de 90/10, respectivamente, resultando, para cada 100 litros da mistura, 90 litros de biodiesel e 10 kg de glicerol, o qual tem sido utilizado na produção de cosméticos e explosivos. No entanto, se produzido em grandes quantidades, poderá ser um estorvo e novos usos deverão ser buscados para evitar o problema. 

Denomina-se B100 o biodiesel puro, obtido pelas usinas de processamento do óleo vegetal ou gordura animal, conforme acima indicado. Apenas o B2 (mistura de 2% de B100 com 98% do petrodiesel) está liberado para comercialização no Brasil, onde já operam mais de 2.000 pontos de venda do produto. Sua comercialização é opcional até 2007 e será obrigatória a partir de 2008, quando será opcional a oferta do B5 até 2012 e obrigatória a partir de 2013. O uso de B10, B20 ou mais, dependerá do mercado futuro. A mistura do biodiesel com o diesel será feita nas distribuidoras (BR, SHELL, ESSO), não nas refinarias. Nesta fase de transição, a Petrobrás está bancando a compra de todo o biodiesel (via leilões), mas no futuro, todas as distribuidoras participarão na aquisição do produto, oferecido livremente no mercado. Segundo a indústria automobilística, o uso de B2 e B5 poderá ser feita sem necessidade de ajuste nos motores.


H-BIO é um combustível na faixa do diesel, obtido a partir da reação química entre o óleo mineral e óleos vegetais, na presença de hidrogênio, num processo denominado hidrotratamento. Apesar de utilizar-se de óleos vegetais (até 18%) como matéria prima, ele não é biodiesel. É um diesel ecológico, pois contém menos enxofre e, portanto, polui menos. Só refinarias de petróleo conseguem produzir o H-Bio economicamente, pois utilizam unidades industriais muito caras (US$ 120 milhões), mas já existentes nas refinarias, que, ademais, produzem o hidrogênio utilizado no processo. Cada tonelada de óleo vegetal produz 850 kg de H-Bio, que consome, adicionalmente, 27 kg de hidrogênio. Sendo diesel e não biodiesel, o H-Bio terá que receber 2% de biodiesel a partir de 2008, para cumprir com a nova legislação brasileira.


A soja e o algodão, cujos teores de óleo são dos mais baixos entre as oleaginosas (19 e 15%, respectivamente), serão os principais fornecedores do óleo necessário para a produção do H-Bio e do Biodiesel. Atualmente, mais de 90% do óleo vegetal produzido no Brasil provém da soja (88%) e do algodão (5%) e tudo indica que, mesmo com a incorporação de novas oleaginosas no processo produtivo do óleo, elas continuarão respondendo pela parte do leão nesse novo e lucrativo negócio. A soja, principal cultura do agronegócio brasileiro, pode ser produzida em todo o território nacional, tem mercado garantido e sobre ela temos domínio tecnológico completo, principalmente para produzir em regiões tropicais. Os cientistas brasileiros tropicalizaram a soja, viabilizando centenas de milhões de hectares como potenciais áreas de cultivo da oleaginosa, cuja velocidade de incorporação ao processo produtivo nacional dependerá do mercado do farelo e do óleo, cada vez mais requeridos pela indústria de rações, para a produção de carnes. O farelo de soja responde por cerca de 70% do suprimento protéico na fabricação das rações que alimentam a indústria de frangos, de suínos e de bovinos confinados, cujas carnes são cada vez mais demandadas pelo crescimento das economias de países como China, Índia e Brasil, entre outros.
É a demanda por farelo e por fibra, a razão principal da liderança da soja e do algodão na produção de óleo, que no processo produtivo, se constitui no produto secundário.

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