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Novas variedades de pêssego


Decio Luiz Gazzoni
Quando eu era jovem – meros 30-40 anos – pêssego era produzido só em Pelotas, e colhido de 20 a 30 de dezembro. Nem antes, nem depois. Era pequeno, de sabor comum, bichado. Não havia divisas para importação de consumo supérfluo – como frutas! – portanto pêssego argentino aqui não aportava.

Essa fruta pode ser um ícone de como a tecnologia transformou o agronegócio brasileiro e beneficiou os consumidores. Hoje o pêssego é cultivado em múltiplas localidades. A diversidade genética, as técnicas de manejo, e os sistemas de conservação pós-colheita permitem abastecer o mercado na maior parte do ano. E como exportamos muitos produtos agrícolas, temos divisas para importar pêssego na entressafra.
Em 2012, a Embrapa lançou uma nova variedade (Fascínio), resultado de 20 anos de pesquisa de um cruzamento de pêssego com nectarina, e sua qualidade ombreia-se com os pêssegos europeus ou argentinos. A fruta chama a atenção pelo seu tamanho se comparada a um pêssego médio, por pesar 200 a 300 gramas, ter muita polpa e caroço pequeno. Mais parece manga que pêssego, tchê!
A responsável pela pesquisa, Dra. Maria Clara Raseira, da Embrapa, escolheu a denominação ‘Fascínio’. Pelas regras estabelecidas, o nome não pode coincidir com outro já utilizado, em qualquer parte do mundo. Não pode ser adjetivo, nome próprio, de lugar ou de pessoas. E fascínio bem descreve a primeira reação de quem vê a fruta madura: um pêssego bonito, que enche os olhos de brilho, a boca de água e dá uma vontade incontrolável de morder!

Adaptado ao sudeste do Brasil, como locais altos em São Paulo ou sul de Minas, a nova variedade promete ser um forte concorrente dos pêssegos produzidos no sul. A previsão dos especialistas é que haja uma grande aceitação dos consumidores, pelos seus atributos visuais, por suas qualidades organolépticas, e pela elevada relação entre a polpa e o caroço – algo como muito filé e pouco osso! Com tantas qualidades a variedade Fascínio tem chances até de concorrer com os importados.
Esta nova variedade pode ser um marco histórico, permitindo não apenas abastecer o mercado doméstico, como posicionar o Brasil como forte competidor no mercado internacional de pêssego.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa. www.gazzoni.eng.br

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