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Novas rotas para biocombustíveis


Decio Luiz Gazzoni
Cianobactérias
Décio Luiz Gazzoni
 
É muito conhecida a potencialidade de algas para a produção de biocombustíveis e de especiarias químicas. As cianobactérias (algas azuis) são os mais primitivos organismos semelhantes a plantas, com capacidade de adaptação a múltiplos ambientes. Elas prosperam em regiões áridas, em oceanos ou lagos, e até sobre as rochas.

A amplitude ecológica das cianobactérias é possível devido às adaptações fisiológicas, como a fotossíntese e a fixação do nitrogênio da atmosfera, permitindo colonizar habitats adversos e tornando-as simbiontes de plantas superiores. Elas podem se reproduzir e crescer no escuro, por muito tempo. Espécies do gênero Planktothrix crescem no escuro, à mesma taxa que à luz, utilizando a respiração de glicogênio, obtendo energia de glicose, frutose ou sacarose em condições escuras e anoxigênicas.
E para que elas servem? Os principais usos são biocombustíveis e química fina e farmacêutica. As cianobactérias são ricas em metabólitos secundários com propriedades interessantes. Um dos seus primeiros produtos comerciais, a citonemina, bloqueia a radiação ultra violeta da luz solar, absorvendo a radiação no comprimento de onda de 325-425 nm. Das bactérias se extrai um antiviral eficaz contra HIV, e as microcistinas, com potencial anticancerígeno.
Também podem ser obtidas as microgininas, que são lipopeptídeos, contendo quatro a seis aminoácidos, com efeito inibidor sobre a enzima conversora de angiotensina (ACE). Portanto, são potenciais agentes para o tratamento de hipertensão e de doenças associadas, tais como a insuficiência cardíaca crônica e a nefropatia diabética.

As cianobactérias também produzem vários polissacarídeos extracelulares, que são usados para o sequestro de nutrientes, proteção contra herbívoros e resistência à dessecação. Elas contêm várias proteínas ligadas a açúcares, que permitem a obtenção de substâncias com propriedades químicas demandadas por diferentes segmentos do mercado de química fina. Este texto é um exemplo da revolução silenciosa que o dueto biodiversidade e biotecnologia já estão produzindo, gerando produtos úteis à sociedade. Brevemente, além de cultivarmos as microalgas, também teremos produtores de algas azuis.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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