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Novas fronteiras


Decio Luiz Gazzoni
Há enorme probabilidade de o leitor nunca ter ouvido falar de Edmar Correa, um mineiro que trocou a pequena propriedade de 30 hectares e migrou para o Tocantins há 17 anos, em busca de vida melhor. Ele é adepto da integração lavoura e pecuária e, em 1100 hectares, consegue uma produção de gado quatro vezes maior que a média nacional. Os ganhos de produtividade obtidos por produtores como Correa contribuíram para que a agropecuária brasileira registrasse uma expansão de 3,9% em 2011 (IBGE).

Edmar é um dos desbravadores do Matopiba, a nova fronteira agrícola, envolvendo Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. Segundo o Ministério da Agricultura, a produção do Matopiba deve crescer 50% nos próximos dez anos, contra a média brasileira de 21%. A razão é que, nas áreas novas como o Matopiba, a tecnologia é mais avançada que nas tradicionais.
O Edmar, em Pedro Afonso (TO), planta soja em 75% da propriedade e deixa os 25% restantes para pastagens. Após a colheita, os pastos são deslocados para as áreas de soja, que receberam fertilizantes. Desse modo, o capim é mais produtivo e Correa consegue obter até 1.800 kg de ganho de peso por hectare, por ano, contra 400 kg da pecuária tradicional. Os ganhos de rendimento e produtividade não poderiam ser obtidos apenas com a adubação do capim, que é muito caro. Já capim após a soja, permite alto ganho de produtividade e menor custo.
Esta é uma tendência que está se tornando realidade em todo o Brasil. Com a integração, o produtor consegue manter o solo ocupado e coberto quase o ano todo, obtendo maior renda com menor custo, dispensando a incorporação de novas áreas à agricultura. Há melhor aproveitamento da água e do adubo.

Os resultados são entusiasmantes. Enquanto em 2011 a média brasileira de produção de soja foi de 52 sacas por hectares, no Oeste da Bahia foi de 56. Em municípios como Luiz Eduardo ou Barreiras (BA), os resultados são ainda melhores, de 66 sacas por hectare. O uso de tecnologia adequada e sustentável é o caminho mais curto para juntar alta produtividade com alto retorno financeiro, não apenas eliminando o avanço da fronteira agrícola, como diminuindo a área ocupada pela agropecuária, embora com produção sempre crescente.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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