CI

Não se pode desligar o cérebro


Amélio Dall’Agnol
Gostaria de ser produtor rural, mas não sou. Se fosse, acho que eu não seria diferente de boa parte dos agricultores que, com a chegada dos cultivos transgênicos e outras novas tecnologias disponibilizadas pelas instituições de pesquisa, tiveram a vida de produtor rural bastante facilitada. A complexa estratégia de controlar as plantas daninhas, por exemplo, foi grandemente facilitada pelo uso da tecnologia Roundup Ready (RR). Por causa dela, o agricultor foi dispensado das pulverizações com inúmeros herbicidas para o controle das diferentes espécies de plantas daninhas em seus distintos estágios de desenvolvimento que infestam as lavouras brasileiras, Agora, tudo pode ser controlado com a pulverização de um único herbicida, que mata folha larga e estreita por igual e em qualquer estágio de desenvolvimento da cultura transgênica. Não falemos, por enquanto, das plantas daninhas resistentes ao herbicida Roundup Ready.

A facilidade de manejar os cultivos transgênicos não termina com o eficiente controle das plantas daninhas. O controle de pragas e doenças, também está sendo facilitado com a transgenia. Já temos a soja, o milho e o algodão que, além da tecnologia RR, já incorporam a tecnologia Bt, a qual dispensa a aplicação de inseticidas para o controle de várias pragas. Além dessas, outras maravilhas da engenharia genética, muito provavelmente estão a caminho. Só não sabemos quais são e nem quando chegarão ao mercado, porque são, ainda, segredos que as empresas de biotecnologia só revelam quando prontas para usar.
Contudo, essas maravilhas tecnológicas podem embutir um risco para o agricultor: dispensá-lo de pensar nos custos e benefícios da adoção de tais tecnologias, que vêm acompanhadas de outros insumos na forma de pacotes prontos, um para cada fabricante. Esses pacotes não são, necessariamente, a melhor opção para aquilo que o produtor mais busca: maior produtividade e maior eficiência econômica.
Sabe-se, por exemplo, que os melhores defensivos agrícolas, em termos de seus princípios ativos, não fazem parte do portfólio de um único fabricante. O melhor herbicida poderá ser encontrado na indústria “A”, o melhor inseticida na indústria “B”e o melhor fungicida na indústria “C”. Por essa razão, cada fabricante monta um pacote com os seus próprios produtos e os distribuidores de insumos são estimulados, através de significativos descontos, a comercializar o pacote de um único fabricante.
O ideal para o produtor seria que ele montasse o seu próprio pacote de insumos com o auxílio dos órgãos de assistência técnica e, com isso, adquirindo os melhores produtos de fornecedores diferentes. Mas isso é trabalhoso e nem sempre o agricultor está consciente da necessidade de buscar as melhores opções, razão pela qual ele pode ser facilmente induzido pelo seu fornecedor tradicional a aceitar passivamente o pacote do fornecedor A, B ou C e não gastar o cérebro fazendo contas sobre os ganhos potenciais de produtividade que ele teria se montasse o pacote mais adequado para as condições de sua propriedade.
A cada ano, a semente que o produtor planta chega acrescida de outros aditivos tecnológicos, um para cada problema que ele poderia vir a ter. Desse modo, por comprar o pacote completo de seu fornecedor, ele acaba sendo induzido a não buscar a assistência prestada pelos órgãos de extensão rural. Para quê? Ali, junto com a semente está o inoculante, o fertilizante, o enraizante, o bioestimulante, o promotor ou redutor de crescimento, o nematicida, o fungicida, o inseticida, entre outros.
Precisa mais?! Talvez não precise de tantos aditivos tecnológicos pelos quais estará aumentando os seus custos de produção, mas essa é outra história e o produtor que não mais precisa pensar, também é induzido a não perguntar.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.