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MST


Decio Luiz Gazzoni

Duda Mendonça é um gênio do marketing político, destarte sua paixão pelas rinhas galináceas. Cunhou o bordão “Lulinha Paz e Amor” para isolar o candidato José Inácio Lula da Silva da “briga de foice no escuro” por uma vaga no segundo turno. Apesar de não interferir no resultado da eleição (o eleitorado já havia decidido votar contra o Governo), o slogan néo-hippie induziu na população o que seria o modus operandi do Governo. Por exemplo, quando criticou a invasão do Iraque, Lula foi só Paz e Amor, em contraposição ao Bush Guerra e Ódio.

 

Hippie?

MST não combina com Paz e Amor. Após cada eleição, o MST retoma sua senda de invasões. Julgando deter a prerrogativa de nomear gerentes do INCRA, invade as sedes do órgão onde não impôs o seu gerente. Cada vez mais o MST mostra sua verdadeira face: um movimento político e não um movimento social. Legítimo enquanto movimento, eis que a Constituição garante a livre associação, essa legitimidade se esborroa ao não assumir sua identidade jurídica, e ao apelar para a violência e a afronta ao estamento legal, mormente o dispositivo constitucional que garante a propriedade (art 170, II).

 

Ação

A terceira Lei de Newton postula “A toda ação corresponde uma reação, de mesma intensidade e direção e sentido contrário”. O corolário dessa lei se aplica às interações políticas e sociais, porém nada garante a intensidade das reações e contra-reações. Se alguém imaginava proprietários rurais contemplando o seqüestro de seu patrimônio, de forma passiva, que faça analogia com outros expropriados: como reagiria o dono de apartamento invadido?; o presidente de banco assaltado? o dono de supermercado saqueado?; o proprietário de automóvel roubado?; o governo frente à sonegação?; a criança de quem se tira o pirulito?

 

Reação

Os produtores rurais buscam fórmulas para garantir a integridade patrimonial (reação), muitas delas tão condenáveis quanto a invasão (ação). Milícias são formadas, proprietários acampam na beira da estrada, em vigília em frente a acampamentos do MST; lideranças reúnem-se em para organizar as formas de luta. Assediado pela mídia, o Ministro Chefe da Casa Civil (José Dirceu) faz coro com o Presidente do PT (José Genoíno) afirmando que as invasões devem ser evitadas a todo o custo e, caso aconteçam, as determinações judiciais devem ser cumpridas de imediato. Palavras que o vento levou.

 

Contramão

É lastimável assistirmos a recidiva do MST quando o PIB agrícola atinge seu pico histórico, quando o Brasil se encaminha para ser o maior exportador de soja do mundo e, na seqüência, o seu maior produtor. Quando o setor primário ancora o desenvolvimento, sustenta nossa balança comercial no azul e garante a geração e distribuição de renda, criando novos empregos. A Nação brasileira deveria unir-se em torno de sua vantagem competitiva, ao invés de dispersar energia e recursos - que são insumos da produção - para apaziguar o ambiente produtivo.

 

Emprego e renda

O maior problema do Brasil não é a fome ou a violência. A matriz dos problemas sociais está na falta de emprego e renda e na sua injusta distribuição. Teríamos menos sem-terra legítimos, se pequenos agricultores não houvessem sido expulsos de sua terra. Parcela da solução está na reforma agrária. Que deve assegurar competitividade e rentabilidade, permitindo ao cidadão viver com dignidade do fruto de seu trabalho e de sua terra. Nas condições atuais, isso significa portentosos investimentos em infra-estrutura (transporte, armazenagem, centrais de abastecimento, portos, energia) e apoio ao produtor (pesquisa, assistência técnica, educação, cooperativismo). Como essa solução é cara e demanda muito tempo, a sociedade precisa respaldar o agricultor legitimamente vocacionado, até que adquira competitividade para andar com as próprias pernas. Essa deveria ser a discussão estratégica do momento e não como evitar invasões ou expulsar invasores de terra.

 

O autor é Engenheiro Agrônomo e pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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