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MST invade a ESALQ


Decio Luiz Gazzoni
Nos últimos 40 anos, o Brasil promoveu uma revolução sem paralelo na História das Nações. De importador, passou a maior exportador líquido de produtos agropecuários. Sua produção alimenta toda a população brasileira e sua exportação alimenta outros dois brasis. Os ganhos de produtividade, por adoção de tecnologia, sustentaram a expansão da agropecuária.

O sucesso se deveu ao forte investimento em geração e transferência de tecnologia e às escolas de Agronomia que prepararam os profissionais do agronegócio. Destaco a atuação do IAPAR, da Embrapa e da ESALQ-USP, sendo esta a principal formadora dos talentos que ajudam os agricultores produzirem mais, melhor e sustentavelmente. O mundo reconhece a excelências dos institutos de pesquisa do Brasil e de escolas como a ESALQ, um portento reverenciado mundo afora. Sem pesquisa e ensino, o Brasil ainda viveria a época do Jeca Tatu.
Apesar de o mundo se render à excelência dessas instituições brasileiras, elas não estão livres de assaques retrógrados. Dezenas de estações e campos experimentais de instituições de pesquisa, incluindo a Embrapa, já foram invadidas pelo MST. Em alguns casos, a destruição foi completa, como nas estufas de experimentação florestal. Anos e anos de pesquisa perdidos, dezenas de milhões de reais de investimentos dilapidados, a chegada do futuro retardada.
Quando imaginamos haver atingido um patamar civilizatório mínimo, eis que a fazenda experimental da ESALQ, em Londrina, é invadida. Alexandre Von Pritzelwitz, agrônomo e ex-aluno da ESALQ, doou a propriedade para a Universidade. Na área já foram – ou estavam sendo – conduzidas pesquisas que muito auxiliaram o agricultor. Em uma delas, demonstrou-se ser possível multiplicar por três a lotação de gado por hectare, um benefício enorme para o pecuarista, para o consumidor e para o ambiente. Na fazenda, 1,2 mil hectares de floresta de Mata Atlântica nativa e preservada constituem uma RPPN.

Se há uma coisa que não falta neste país, é terra. Até quando a sociedade e as autoridades permitirão que áreas altamente produtivas, ou dedicadas a garantir o desenvolvimento tecnológico do país sejam vilipendiadas, atrasando a chegada do futuro e de uma agropecuária cada vez mais sustentável?
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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