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MST e as externalidades não programadas


Decio Luiz Gazzoni
Até os anos 90, praga de algodão era praga de algodão; de milho era de milho; de soja era de soja. Raramente uma mesma praga atacava diferentes culturas de importância econômica. Mas, o cenário mudou, e as pragas de uma cultura se adaptaram às outras, criando um enorme problema para os agricultores, porque há oferta continuada de alimentos (culturas no campo) para essas pragas. Como os inseticidas para seu controle são poucos, sempre os mesmos produtos são usados. Esta é a receita do desastre: cria-se uma pressão de seleção enorme, as pragas se tornam tolerantes, depois resistentes a esses inseticidas. Aí o agricultor aplica cada vez mais e em doses maiores, até o dia em que nada mais controla a praga. Por que chegamos a este ponto?

Volte o filme para o início da década de 90. Com o ingresso do bicudo do algodoeiro, a cultura do algodão desaparece do Paraná e São Paulo e reaparece, mais tarde, nas grandes propriedades do Centro Oeste e Bahia. Soja ou milho eram culturas de verão, o inverno era do trigo. Os agricultores, pressionados por diversos riscos (endividamento, clima, mercado, pragas, insegurança jurídica e patrimonial), buscavam fórmulas para manter-se na atividade. A fim de diluir custos fixos e aproveitar uma janela de oportunidade, alguns agricultores arriscaram plantar milho após a colheita da soja. O fato chamou a atenção de outros agricultores, que viram na safrinha uma fórmula de manter a propriedade ocupada de forma quase permanente, porque vislumbravam o risco de que os companheiros do MST, que estavam logo aí, do outro lado da cerca, invadiriam a propriedade na primeira piscada de olho.
Hoje o MST desapareceu, é mantido em vida artificial por seus líderes que precisam da massa para permanecer em atividade. Mas a sucessão de culturas (soja/milho/feijão, soja/algodão/pastagem e até soja/soja) é uma realidade. Com elas as pragas possuem alimento quase permanente de outubro a junho, tornando cada vez mais difícil e complexo o seu controle. Talvez esta venha a ser a lembrança que os agricultores terão do MST, nas próximas décadas: de como ele fez parte, involuntariamente, do processo de agravamento dos problemas fitossanitários no Brasil!

 
O autor é Engenheiro Agrônomo. www.gazzoni.eng.br

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