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Integração lavoura-pecuária e o aquecimento global


Amélio Dall’Agnol
Amélio Dall’Agnol e Eduardo Assad*

O fenômeno que conhecemos como efeito estufa é resultado do aquecimento da superfície terrestre pela radiação solar, em que parte desse calor é devolvida ao espaço onde encontra uma barreira de gases - como o Dióxido de Carbono (CO2) - os quais obstruem a passagem do calor, o qual fica retido na atmosfera e a aquece como se ela fosse uma estufa.

Esse fenômeno sempre existiu no nosso planeta e tem sido responsável pela manutenção da temperatura terrestre em níveis suportáveis. Sem a retenção desse calor, a temperatura média na superfície da terra seria de 18°C negativos. Frio demais.

Por esta razão, o que preocupa a moderna sociedade não são os Gases de Efeito Estufa (GEE), mas o seu acúmulo excessivo na atmosfera, e, consequentemente, a elevação da temperatura terrestre a níveis anormais, ameaçando a nossa sobrevivência.

Há controvérsias quanto à real possibilidade de ocorrência desse fenômeno, haja vista que o nosso planeta já passou por outros períodos de mudanças climáticas e retornou à normalidade. Os céticos poderiam, inclusive, argumentar que a temperatura do último inverno/primavera no Hemisfério Norte – Europa, em especial – foi das mais baixas em décadas, intuindo que a temperatura na superfície da terra está caindo e não subindo.

Mas há evidências de que a concentração dos GEE na atmosfera tem aumentado consistentem
ente desde a revolução industrial iniciada em 1750. Apenas nos últimos 50 anos a concentração de CO2 na atmosfera subiu de 310 para 400 ppm (partes por milhão) e segundo os especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC/ONU), a partir desse nível de concentração de CO2 é certo que haverá um aumento mínimo de 2°C na temperatura média da terra. E, pasme, esse índice foi atingido no último dia 9 de maio (NOAA Institution of Oceanography).

Segundo o IPCC, mantido o atual ritmo de emissões de GEE, até o final deste século teríamos um aumento de até 6,4°C na temperatura média da terra, o que seria um desastre. Só para refletir: os 10 anos mais quentes desde 1880 ocorreram ao longo dos últimos 16 anos.

Essa mudança de temperatura poderá determinar o derretimento do gelo acumulado nas áreas polares, o que elevaria o nível dos mares e inundaria cidades costeiras como Rio, Salvador, Recife e Fortaleza. Além do derretimento do gelo polar, outros eventos poderiam ocorrer com maior frequência e com maior intensidade, como secas, furacões, ciclones e tornados.

Para frear a emissão desses gases só há um jeito: reduzir a queima de combustíveis fósseis e de outros materiais orgânicos, reduzir o desmatamento/queimadas e maximizar estratégias de sequestro do carbono, como a recuperação de áreas degradadas via plantio direto na palha, integração lavoura/pecuária/floresta e reflorestamento de áreas não agricultáveis.

O processo produtivo agrícola brasileiro tem sido e ainda é reconhecido como eficiente no uso de boas práticas agrícolas para a recuperação de terras degradadas, através de cujo processo é incrementada a produção de biomassa, uma importante estratégia para capturar o CO2 da atmosfera via fotossíntese, a qual incorpora o carbono (C) nos tecidos orgânicos vegetais e libera o oxigênio (O2) na atmosfera.

Resultados de pesquisa mostram que os sistemas de produção agrícola que integram a produção de grãos, com pastagens (ILP) ou grãos, com pastagens e florestas (ILPF) têm potencial para estocar grandes quantidades de carbono no solo e na biomassa aérea, contribuindo efetivamente para o sequestro de CO2 da atmosfera, mantendo-o preso aos tecidos vegetais incorporados ao solo. Solos ricos em matéria orgânica (MO) são um grande depósito de carbono, o qual poderá, no entanto, retornar à atmosfera como CO2, se medidas de manejo adequadas, como o plantio direto, a ILP e a ILPF não forem implementadas para retardar a mineralização da MO via atividade microbiana do solo e, consequentemente, manter o carbono na forma orgânica por períodos mais longos.
*Engenheiros Agrônomos da Embrapa

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