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Inovação e segurança


Decio Luiz Gazzoni

A biotecnologia será o paradigma científico do século XXI, como a química e a física embasaram o avanço científico e o progresso do século XX. Entretanto, toda a revolução de usos e costumes - a substituição de um modelo dominante por um novo arquétipo - é acompanhada de turbulências, contestações e inseguranças. Este é um comportamento típico de seres humanos (e de outros animais também), que preferem transitar em um terreno que conhecem e dominam, a enfrentar o desconhecido, o que implica em novos desafios.

 

Filosofia da ciência

É importante filosofar em torno da questão, para melhor entendê-la, pois a ciência não é um fim em si mesma. Existem diversas motivações para a investigação científica. Uma é a curiosidade social (como as pirâmides foram construídas?); outra, a explicação de fenômenos (porque o ano tem estações?); ou ainda, entender como as coisas funcionam (como os insetos se comunicam?), entre outras. Entretanto, a maioria das vertentes converge para o atendimento de necessidades sociais.

 

Indutores do progresso

No meu entender, a Humanidade evolui movida por três grandes forças: necessidade, comodidade e ambição – nesta ordem. A necessidade de proteger-se do frio levou o homem pré-histórico a esfolar animais para vestir-se com sua pele. A ambição e a vaidade humana fizeram a glória dos ternos Giorgio Armani. A necessidade de comunicação criou os hieróglifos. A comodidade induz os cientistas a introduzirem, quotidianamente, novas ferramentas na Internet.

 

Progresso e risco

Nãoprogresso sem inovações científicas. Porém, existe um componente da inovação que é o risco de efeitos colaterais não desejados. Alimentos são nutritivos, essenciais à sobrevivência, porém podem conter princípios tóxicos ou provocar o acúmulo de LDL-colesterol no organismo, favorecendo acidentes cardio-vasculares. Por este motivo, a sociedade exige dos cientistas, com crescente veemência, a caracterização dos riscos associados a novas utilidades emanadas dos laboratórios.

 

Análise de risco

Fruto dessa pressão social, os novos avanços científicos e tecnológicos, embora mais revolucionários, complexos e mais excitantes no imaginário popular, tendem a ser mais seguros. Quando a sociedade conscientizou-se ex-post do perigo do lixo atômico ou de agrotóxicos, forçou a evolução e implementação da análise de risco. Trata-se de uma ferramenta que permite avaliar ex-ante os riscos associados ao uso de qualquer inovação, suportada por embasamento científico que seja inquestionável à luz do conhecimento atual e das dúvidas consideradas razoáveis.

 

Custo/benefício

Assim, torna-se transparente para a sociedade o custo/benefício de novos produtos ou tecnologias e a delimitação precisa dos riscos associados com seu uso. Há um consenso entre os cientistas que, produtos derivados da biotecnologia têm uma probabilidade muito menor de embutirem perigos não detectáveis. Há um evidente contraste com tecnologias desenvolvidas há 50 anos, quando as técnicas de avaliação eram mais rudimentares e a pressão pela caracterização dos perigos e transparência na sua comunicação eram incipientes.

 

Qualidade de vida

A força dominante que determina o foco das inovações científicas da atualidade é a qualidade de vida. Mirando o passado, verifica-se que química e indústria farmacêutica andaram de mãos dadas, da mesma forma que física e tecnologia da informação são indissociáveis. As aplicações da biotecnologia associarão inovação e qualidade de vida no futuro próximo. No entanto, a biotecnologia interfaceará com outras ciências, sobretudo a química e a física, com um espaço de sombreamento entre elas. Como exemplo desta convergência pode-se citar o uso energético do etanol, novas variedades de plantas ou raças de animais, biomateriais e biofármacos como realidades. os bio-sensores e os bio-computadores estão na bancada dos cientistas e vão revolucionar nosso “way of life” da próxima década. Mas isto será tema de outra coluna, sobre nanotecnologia.

 

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja (www.gazzoni.pop.com.br)

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