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Infraestrutura precária


Decio Luiz Gazzoni
        Há uns 8 anos, meu amigo Roberto Rodrigues vaticinou: dia virá em que viveremos um apagão logístico. Algo como a fila de caminhões de soja começando no porto de Paranaguá e terminando em Ponta Grossa! Sem qualquer dúvida, o maior limitador da realização do potencial do agronegócio brasileiro é a logística. Começa nas estradas rurais abandonadas pelas prefeituras nos últimos anos, continua pelo lastimável estado das estradas asfaltadas (estreitas, esburacadas e saturadas), passa pela ridícula malha ferroviária e ausência de hidrovias e acaba no caos dos portos.

        A depender exclusivamente do agricultor, os 185 milhões de toneladas de grãos colhidos em 2013 seriam 350 ou 400 Mt. O entrave é o gargalo logístico que, no primeiro instante, cobra preços exorbitantes pelo frete; e, no segundo, por saturação, é inelástico em relação ao preço. Não fora a precariedade logística e exportaríamos o dobro ou o triplo das 25Mt de milho previstas para 2013, bem como exportaríamos mais soja, carne e açúcar, gerando mais renda e empregos.
        Veja a diferença entre o agricultor e a infra-estrutura: Apenas em 2013, o produtor aumentou em 3 Mha a área de soja e vai colher 5 Mt de milho a mais. Por outro lado, na semana passada, eram 82 navios na fila, esperando para carregar grãos, somente em Paranaguá! Isto é impensável em qualquer país sério! O custo médio de
demurrage (multa paga ao fretador por atraso) de um navio parado, esperando carga, é de US$ 30 mil por dia – equivalente a 60 t de soja. Segundo exportadores, para evitar 45 dias de fila de espera em Paranaguá, os caminhões são desviados para o Porto de Rio Grande, onde as filas duram menos de dez dias. Não bastassem os 2.500 km no trecho de Mato Grosso a Paranaguá, estica-se mais 1.000 km até Rio Grande – para ser mais rápido, embora mais longe da Europa! Para pagar a multa dos 45 dias seriam necessárias 2.700 t de soja, cerca de 4% da carga do navio, quase a produção de 1.000 hectares – evaporados à conta do Custo Brasil.
        O agronegócio brasileiro enfrenta diversas ameaças para concretizar seu potencial de ser o protagonista em escala global, mas nenhuma se equipara aos entraves de logística e infra-estrutura que arrosta.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo – www.gazzoni.eng.br

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