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Infra-estrutura, o gargalo


Decio Luiz Gazzoni

Estudo do IPEA considerou o desenvolvimento tecnológico como o principal responsável pelo sucesso do agronegócio brasileiro. Com tecnologia adequada, o Brasil será o principal país agrícola do mundo, na avaliação da UNCTAD. Entretanto, apesar de os cientistas da Embrapa cumprirem a sua missão, as deficiências de infra-estrutura restringem o potencial do agronegócio brasileiro.

Estradas

A Confederação Nacional dos Transportes estima que 82% das estradas possuem sérias deficiências. Cerca de 8.000 km de estradas, que já tiveram piso asfáltico, estão intrafegáveis. Quem por elas circula corre o risco - otimista - de danificar o veículo. Na hipótese pessimista, o risco é de morte do condutor e dos passageiros. Ironicamente, o Ministério dos Transportes, que deveria prevenir e solucionar esses problemas, limitou-se a informar que a safra de 2004 terá “sérios problemas de escoamento por falta de investimentos no setor”. De acordo com o Centro de Estudos de Logística da UERJ, a perda por deficiências nos sistemas de transporte atinge 16% do PIB. Esse valor equivale ao pagamento de um salário mínimo, todo o mês, para 49,7 milhões de trabalhadores. Mesmo com o salário mínimo dobrado, seriam 24,8 milhões. Eis aí nossa sugestão para o presidente Lula resgatar suas promessas de criar 10 milhões de empregos e dobrar o valor do salário mínimo, eliminando o desemprego estrutural no Brasil!

Caminhões

A frota de caminhões tem idade média de 18 anos, com tecnologia defasada - pré-carroça, de acordo com o nada saudoso ex-presidente Collor. A idade avançada significa altos custos de manutenção e operação e redução da velocidade média do transporte. Nos últimos anos, a velocidade dos veículos de carga que se dirigem aos portos diminuiu em 40%. Para quem buscava um exemplo de custo Brasil, esse é didático.

Ferrovias

Um estudo do Geipot demonstrou que a racionalização do transporte da safra economizaria R$ 80 milhões aos players do agronegócio – equivalente a produzir 2 milhões de sacas de soja adicionais. A melhoria decorrente da privatização foi insuficiente para atender demandas nacionais. Nossa malha (32.000 km) equivale à do Japão, país com 5% da área do Brasil, e coberto por cordilheiras inacessíveis. A velocidade de nossos trens é risível (25 km/h), em decorrência de bitolas estreitas e composições com defasagem tecnológica.

Barcos e navios

O transporte fluvial e a cabotagem costeira são incipientes. Apesar do potencial hidroviário de 40 mil km apenas 2% do transporte de carga é fluvial. Um mau exemplo é o complexo Tietê-Paraná, com 2,4 mil quilômetros de extensão, que custou à sociedade US$ 2 bilhões, e opera com 10% de sua capacidade, escoando 2 milhões de toneladas de carga/ano. Um comboio trafegando pelo rio Madeira equivale a 600 caminhões transportando soja de Mato Grosso aos portos do sul (Santos ou Paranaguá). O grande segredo não é investir, maciçamente, em um ou outro meio de transporte – como fizemos com as rodovias. Estrategicamente, devemos investir nos sistemas multimodais, aproveitando as vantagens comparativas de cada sistema, em função da mercadoria, da localização geográfica e das distâncias.

Portos

A recente paralisação do Porto de Paranaguá demonstra sua inadequação gerencial e operacional, que eleva os custos de carga e mina nossa competitividade. Chegamos ao absurdo de ter uma fila de caminhões ligando o porto a Curitiba! A paralisação significou um prejuízo de R$ 1,6 bilhão aos agricultores. Enquanto a média internacional indica o carregamento de 40 conteineres/hora, no Brasil a média é de 24. Nossa alocação de mão de obra chega a ser 9 vezes superior à existente nos portos eficientes. Se o Governo não acordar de sua letargia, que embarga o desenvolvimento nacional, o agronegócio brasileiro perderá mais uma de suas oportunidade de ouro e o Brasil abrirá mão de bilhões de dólares em divisas, mesmo ralo por onde escoarão centenas de milhares de empregos.

A Embrapa parou. Parou porquê?

Recebemos mais de mil e-mails de solidariedade à Embrapa, em função da coluna da semana passada. Agradecemos a todos, porém aguardamos que, além da solidariedade, ações concretas sejam tomadas para resgatar a Embrapa a fim de que ela continue bem servindo a sociedade brasileira – enquanto ainda há tempo!

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

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