CI

Influenza aviária


Decio Luiz Gazzoni

A gripe do frango, cujo nome técnico é influenza aviária, vem apenas reafirmar um conceito que se solidifica a cada dia: a sanidade agropecuária é a pedra angular do comércio agrícola internacional. Sanidade e tecnologia agropecuária são indissociáveis e formam o cerne da competitividade nesse mercado. Os recentes episódios com febre aftosa e vaca louca já haviam demonstrado que a diferença entre lucrar ou perder bilhões de dólares é uma condição sanitária adequada ou inadequada. Desta vez nem os EUA – que detêm o sistema de sanidade agropecuária mais avançado do mundo - escaparam das restrições ao comércio de sua carne de frango, impostas por outros países.

Vírus

A gripe do frango é causada pela estirpe H5N1 de um vírus que ocasiona influenza em aves. Para entender o código, o “H” vem de hemaglutinina e o “N” vem de neuroaminidase. Ambas são proteínas presentes na superfície do vírus. Existem 15 variantes da primeira proteína e 9 da segunda, permitindo as combinações que compõem o código utilizado pelos cientistas (H5N1). O vírus é letal para as aves e também pode afetar o ser humano, normalmente por contato direto com as aves infectadas. No caso de zoonoses – doenças humanas presentes em animais ou por eles transmitidas – as restrições sanitárias são ainda mais sérias, a ponto de bloquear integralmente a exportação dos países atingidos.

Transmissão

A transmissão aos seres humanos, a partir de aves infectadas ou de materiais contaminados (fezes, restos de alimentos, superfícies ou através do ar no ambiente do aviário), é uma possibilidade concreta, sendo uma das hipóteses mais fortes para explicar o princípio de epidemia que ocorre no Sudeste Asiático e na China. Mais de 100 milhões de aves contaminadas foram incineradas para evitar que sirvam como alimento para o Homem ou para outros animais, assim perpetuando a cadeia de transmissão.

Sobrevivência

O vírus da influenza está adaptado para sobreviver em diversos hospedeiros, além das aves (domésticas ou selvagens), como cavalos e animais aquáticos. O vírus também sobrevive na água entre 4 dias (22º. C) e 30 dias (0º. C). Nas fezes de animais contaminados pode sobreviver por períodos até maiores. Nesses meios o vírus permanece latente enquanto aguarda a oportunidade de infectar um hospedeiro final ou intermediário.

Homem

Nos casos verificados em seres humanos, foram isoladas outras variantes do vírus. Devido à alta variabilidade protéica, que é muito associada à patogenicidade e à capacidade de adaptação do vírus aos hospedeiros, eliminar as aves infectadas significa não apenas exterminar o inóculo como evitar o surgimento de novas variantes. Ao menos do ponto de vista teórico, uma dessas variantes pode ser altamente patogênica, virulenta e adaptável ao ser humano, configurando o risco de uma potencial epidemia mundial da gripe do frango em seres humanos. Entretanto, a suspeita dos especialistas é de que suínos infectados com o vírus apresentam maior probabilidade de dar guarida a mutantes patogênicos ao Homem.

Risco

A preocupação dos especialistas da OIE, da FAO, da OMS e dos órgãos de controle sanitário de quase todos os países do mundo faz sentido e tem respaldo histórico. Suspeita-se que as grandes epidemias de gripe, que atingiram a espécie humana, tenham tido origem na influenza aviária. Em 1918 o agente foi o H1N1, assim como em 1976. Em 1957 a epidemia foi causada pelo H2N2 e em 1968 pelo H3N2. Mais recentemente comprovou-se a transmissão do vírus da estirpe H5N1 para seres humanos (Hong Kong, 1997). Nos últimos anos foram referidos casos de morte de seres humanos infectados com o H9N2, H5N1 e H7N7. As duas primeiras estirpes afetaram cidadãos de Hong Kong, enquanto a última alastrou-se pela Europa (2003), afetando quase uma centena de pessoas que trabalham em aviários ou seus familiares.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage: www.gazzoni.pop.com.br

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.