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Há mesmo uma “máfia de branco” e até contra os pobres rurais?


Climaco Cezar de Souza
Penso que quem mora no interior e sabe das dificuldades de acessos ao saneamento básico e aos acompanhamentos e tratamentos médicos, sobretudo os mais pobres rurais, não conseguem ser contra o atual Programa “MAIS MÉDICOS” (ainda temporário quiçá definitivo). E digo isto sem nenhuma conotação política, mas humanitária, e porque os pobres rurais não têm o acesso que aqui posso ter para reclamar, lutar por eles e tentar ser lido por alguns – poucos, mas bons - formadores de opinião responsáveis (“só aqui já são quase 3 anos de patriotismo, de cabeça erguida e de lutas – gratuitas - por uma agricultura realmente brasileira, moderna, desenvolvimentista, justa e para todos”).

Também, penso que boa parte dos médicos e profissionais de saúde do País (os sérios, cristãos e humanitários ainda são a maioria, em especial no interior) não são contra, realmente, ao MAIS MÉDICOS, mas também nada podem escrever aqui ou sequer pensar em ir contra suas entidades pretensamente representativas de todos. Tenho amigos médicos e cristãos generalistas (“faz tudo”) no interior que, sigilosamente, parece que não concordam com estas ações de suas entidades, mas nada podem falar e, pior, têm que concordar, senão são banidos do meio, humilhados e até, possivelmente, escarnecidos pelos médicos especialistas das capitais (que alguns ainda chamam de “máfia de branco”. Será?). Obviamente, meus amigos são o orgulho local e, principalmente, de suas famílias, amigos e ainda – o que mais importa - modelos de “ser humano” para seus filhos, netos e jovens rurais. 
É impossível conceber que em pleno novo Milênio ainda haja pessoas e entidades insensíveis as dificuldades humanas, em especial no interior que sempre se cala nas dificuldades e que precisa mendigar por migalhas. Pior é que muitos médicos urbanos possivelmente estudaram por muitos anos de forma gratuita (a maioria), graças ao dinheiro do povo (sobretudo rural), e agora se parece que se negam e se esquecem do povo, de suas dificuldades e até de suas raízes. Não custava ajudar e honrar o meio rural nem que fosse por uns 4 anos, até como aprendizado cientifico prático, social e cristão? “podem até estar perguntando: Hipocrates, quem é ele mesmo”? 
Será que a perseguição urbana contra a classe rural e o interior são redundantes, desinformadas ou preconceituosas? Também, no recente Código Florestal quem mais foram contra os abnegados, sofredores e teimosos agricultores - e suas produções de alimentos e outros itens para todos - foram, exatamente, os desinformados e preconceituosos “ambientalistas de araque” URBANOS.
Também, estranha e curiosamente, até agora não vi ou não li uma única entidade rural (de qualquer tipo e local) sequer defender em publico ou nos jornais os pobres rurais - alvos prioritários do MAIS MÉDICOS - e/ou ainda elogiar a ação cristã e altamente profissionalizada dos bravos e pouquíssimos médicos e profissionais de saúde que, abnegados, ainda teimam em ficar no interior. Não acredito, mas será que estão com medo de defender o óbvio e o necessário? Sei que não são todos/todas, mas “pior do que consentir é calar-se”. Além das grandes entidades empresariais e representantes dos produtores - mais das prefeituras (de quaisquer partidos), câmaras, sindicatos rurais e cooperativas locais -, não vi ninguém nem da CONTAG nem do MST saudando os médicos cubanos e de outros países nos desembarques no País ou no interior. Seria desinteresse real, desinformação, teimosias ou burrice política? No interior e cidades de médio porte, as carências médicas são tantas que não há como questionar quaisquer ajudas externas recebidas, seja de onde e como vier. 
Vejamos alguns dados e depoimentos estarrecedores sobre esta nefasta e perversa realidade (anticristã e em desfavor dos mais pobres rurais, possivelmente até como fazem as máfias em alguns países):
Em 2008, o Brasil tinha 455 municípios sem médicos, de um total de mais de 5.560 cidades. O problema era mais acentuado nas regiões distantes dos maiores centros urbanos, como no Nordeste, que liderava a lista de cidades sem médicos, com 117 (25,7% do total do país). No Sudeste eram 111, a maioria de cidades pequenas. No Nordeste, 42,3% dos hospitais consultados disseram ter muitas dificuldades para contratar pediatras. 
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u470754.shtml  
Em 2011, segundo dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), “o País tinha 287.832 médicos e menos de terço deles residia fora das regiões Sul e Sudeste. “Dos 287.832 médicos cadastrados nessa base apenas 13,0% estavam em municípios com até 50 mil habitantes (que correspondem a quase 90% das cidades brasileiras e contêm 64 milhões de pessoas). Enquanto os ricos Sul + Sudeste tinham quase 201 mil médicos, os ainda pobres Centro-Oeste + Nordeste + Norte dispunham apenas cerca de 87 mil (vide mapa por estado no link a seguir)”.

“Na imensa maioria dos municípios, a quantidade de médicos disponíveis é considerada baixa (menos de 2,5 médicos/1.000 hab.), sendo que, pelos critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), a média Brasil deveria ser de 1,5”. “Vale notar que os dados apresentados a seguir contam o médico apenas uma vez e não refletem, por exemplo, situações de profissionais que trabalham em mais de um município”.
VIDE:  http://oglobo.globo.com/infograficos/medicos-municipios/
Já segundo a União dos Municípios da Bahia (UPB), a falta de médicos no interior do Brasil gera leilão entre as prefeituras (de todos os partidos): “Quem paga mais e oferece maiores benefícios, leva”. 
“Nos municípios do interior da Bahia, médicos são artigos de luxo, disputados entre as prefeituras na base do quem paga mais. O salário pode variar de R$ 10 mil até R$ 20 mil (líquidos) para médicos que atendem em postos do Programa de Saúde da Família (PSF) e por uma jornada de 40 horas, em tese. Isso sem falar nas ajudas de custo "por fora" e nos plantões - pagos pelas prefeituras. A demanda é grande e a oferta pequena, segundo a União dos Municípios da Bahia e quem fica desassistida é a população.” Considerando que no interior já não há mais desconforto como outrora e nem falta de bons estudos/lazer/alimentação etc., PORQUE ALGUNS PROFISSIONAIS PREFEREM FICAR NAS CAPITAIS E GRANDES CIDADES E GANHANDO BEM MENOS? DESINFORMAÇÃO, ILUSÃO, MIOPIA OU FALTA DE VISÃO?
SEJAS BEM VINDO “MAIS MÉDICOS”, BEM VINDOS SEJAM TAMBÉM MÉDICOS BRASILEIROS E ESTRANGEIROS QUE PENSAM NOS POBRES RURAIS COMO PESSOAS E NÃO COMO NÚMEROS. Os pobres rurais de 3.511 cidades do País (mais da metade) vos aguardam ansiosos, necessitados e confiantes.
Futuramente, quando possivelmente houver maior responsabilidade social e cristã, acredito que o “MAIS MÉDICO” possa funcionar mais com médicos brasileiros e também com os brasileiros formados em medicina no exterior e que também precisam de um lugar ao sol e de oportunidades neste País e para todos, pois “a messe é grande e os operários são poucos”.

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