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Gerar novas ou investir na transferência das velhas tecnologias?


Amélio Dall’Agnol
A produtividade média dos quase 28 milhões de hectares de soja cultivados no Brasil em 2012/13 foi de cerca de 3.000 kg/ha. Isto indica, que se esta foi a média, houve produtores produzindo mais e outros produzindo menos do que 3 t/ha.
Recentemente, tivemos a oportunidade de participar de evento promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB), onde foram apresentados os resultados do último concurso nacional (2012/13) sobre máxima produtividade da soja. Quem venceu o desafio foi um produtor do Paraná, com a produtividade de 6.633 kg/ha ou, em outros termos, mais de 110 sacas/ha. Outros produtores que participaram do concurso, também obtiveram produtividades próximas desse teto.

Ora, se temos agricultores produzindo mais do que 100 sacas/ha, é porque existem tecnologias de produção disponíveis para o alcance de tais níveis. Por alguma razão, essas tecnologias não estão sendo aproveitadas por grande contingente de produtores, visto que, dadas as mesmas condições, onde um consegue outros deveriam conseguir o mesmo. Isto nos permite intuir que não é o acesso a novas tecnologias o que faz mais falta ao moderno produtor brasileiro, mas a utilização das tecnologias já existentes e há muito disponibilizadas, mas ainda inaproveitadas por boa parte dos agricultores.
Pareceria, portanto, racional concordar com o questionamento de quem pergunta: não seria mais eficaz para aumentar a produtividade dos campos brasileiros, investir mais no fortalecimento dos processos de transferência das tecnologias já existentes, ao invés de gastar fortunas na geração de novos conhecimentos?
Infelizmente não, meu caro leitor. A pesquisa não pode parar com o equivocado entendimento de que o teto de produtividade está bom e isto garante competitividade no mercado global. Garante hoje, amanhã não mais. O conhecimento é dinâmico e transforma rapidamente o moderno em obsoleto.
Observe o que acontece com as tecnologias da informação: a cada ano precisamos trocar o computador e o celular porque ficam desatualizados. Bill Gates, o maior ícone da indústria da computação declarou, em 1981, que ninguém precisaria possuir computadores com mais do que 640 kbites. A propósito, qual é a capacidade do seu computador? Até o Bill ficou obsoleto, sem ter ficado velho.

Com a agricultura não é diferente. Se tivéssemos interrompido a pesquisa de soja há meio século, a produtividade teria estacionado em cerca de 2.000 kg/ha e só se produziria soja no sul do Brasil, visto que a tecnologia existente nos anos 70 só permitia produzi-la em latitudes próximas ou superiores a 30°. A soja tropical, adaptada para as condições de baixa latitude do Centro Oeste, Norte e Nordeste brasileiros não existiria e, possivelmente, também teria desaparecido do sul do Brasil, dizimada por doenças como a Mancha Olho de Rã, o Cancro da Haste ou a Ferrugem Asiática, controladas pelas novas tecnologias desenvolvidas desde então. 
Quem pensa que se pode desenvolver uma nação dispensando a pesquisa, já é um derrotado. Sem pesquisa e geração permanente de novos conhecimentos, nenhuma nação prospera. A tecnologia é a alma do negócio de qualquer nação desenvolvida. Nações ricas não são necessariamente as detentoras de recursos naturais abundantes - como a Venezuela - mas as que dominam o conhecimento - como Israel, o Japão ou a Coreia do Sul.

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