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Euforia e angústia no campo


Amélio Dall’Agnol
Não poderia haver momento mais propício do que o atual, para que os produtores de grãos comemorassem os bons resultados financeiros do seu negócio, especialmente os que produzem soja e milho. A estiagem de 2011 ocorrida nos países produtores da zona do Mercosul, seguida de outra em 2012 nos Estados Unidos (EUA), reduziram a expectativa de colheita da soja e do milho em cerca de 140 milhões de toneladas. Esta redução diminuiu ainda mais os estoques mundiais das duas commodities, que já estavam baixos. Esse fato sinalizou com a possibilidade de desabastecimento, para um mercado ávido pelos dois produtos. A resposta do mercado veio com a lógica de sempre: oferta limitada + demanda aquecida = preço elevado.

O preço da saca de soja alcançou, em algumas praças brasileiras, incríveis R$ 90,00 e da saca do milho, cerca de R$ 35,00, como nunca antes na história deste país. Mesmo assim, dizem haver produtores segurando o grão e esperando por preços maiores. Poderão até conseguí-los, mas o mais provável é que não. Para que isto ocorra, as más condições climáticas ocorridas na safra 2011/12 nos EUA e depois no Brasil/Argentina teriam que repetir-se, o que é extremamente improvável. Não nos esqueçamos do rápido sobe e desce do preço da soja em 2004, que deixou produtores na rua da amargura, depois de desperdiçarem a oportunidade de vender na alta. A alta foi resultado da queda na produção americana, seguida de quebra na safra brasileira. A queda, por sua vez, respondeu ao incremento na área plantada nos EUA na safra seguinte e às boas condições climáticas nesse país, que resultaram na sua maior safra de soja de todos os tempos.
Diferentemente de 2004, o mercado atual sinaliza com perspectivas de manutenção dos altos preços, dado que os estoques mundiais estão muito baixos e a demanda está aquecida. A expectativa é de que os preços dessas commodities flutuem na alta até a colheita da próxima safra de verão nos países do Mercosul (Março/Abril). Se a safra nessa região for muito boa, os estoques se recomporão parcialmente e haverá queda moderada dos preços. Mas, se a boa colheita na região do Mercosul for seguida pelo plantio de área maior do que a esperada nos EUA, e esse plantio resultar em safra recorde, os preços deverão cair para os níveis normais (cerca de R$ 45/saca, nos valores atuais), de vez que os estoques mundiais serão recompostos e o temor de desabastecimento desaparece.
Mas, os bons tempos não beneficiam a todos. Se por um lado os altos preços da soja e do milho estão animando os que produzem esses grãos, por outro lado, eles estão comprometendo a atividade dos produtores de suínos e de aves e, também, dos produtores de leite. Enquanto o preço da proteína animal não se alinhar com o custo dos insumos utilizados na sua produção (80% do custo corresponde aos farelos de soja e de milho), os produtores de carnes vêem-se forçados a amargar prejuízos para não fechar o empreendimento. Ruim, também, para os consumidores, muito particularmente para os de baixa renda, que terão que pagar mais caro pela carne, pelos ovos e pelo queijo, feitos, basicamente, a partir do farelo desses grãos.
Infelizmente, a euforia de alguns corresponde à angústia de outros.

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