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DIA MUNDIAL DA FOME; OPS, DA ALIMENTAÇÃO


Amélio Dall’Agnol
Em 16 de outubro comemoramos o Dia Mundial da Alimentação, data instituída pela ONU, à raiz da declaração dos Direitos Universais do Homem. Um desses direitos é o da Alimentação. O acesso à alimentação é algo mais que um direito humano; é um direito animal (Jacques Diouff, Diretor Geral da FAO).O paradoxo desta data, é que ela comemora o Dia da Alimentação, quando, na verdade, o que a ONU quer lembrar é a falta de alimentação. Ela gostaria de sensibilizar os cidadãos bem alimentados do mundo de que tem gente passando fome. E, paradoxo maior, a grande maioria dos cidadãos que comemoram esta data, desconhece o significado prático da palavra fome, pois nunca passou por isso. Mas, neste exato momento, mais de um bilhão de seres humanos estão famintos e sentem no próprio corpo as conseqüências dessa tragédia humana. Para eles, o Dia da Alimentação é apenas mais um Dia de Fome, não havendo razões para comemorá-lo. A bem da verdade, sequer sabem que existe esse dia e que eles têm direito à alimentação. E, se soubessem, não haveria a quem reclamar o direito.

A preocupação histórica dos governantes, quando confrontados ao problema da fome, é recomendar a produção de mais alimentos para acabar com ela. Mas não se acaba a fome dos famintos produzindo mais comida. O problema não está na falta de alimentos e nem na nossa capacidade para produzí-los em maiores quantidades. O problema está na falta de dinheiro que os cidadãos marginalizados enfrentam para adquirí-los, como conseqüência de um modelo de desenvolvimento econômico injusto e excludente, que privilegiou os ricos e empobreceu ainda mais os já pobres, privando-os do dinheiro que lhes proporcionaria acesso a uma alimentação digna do nome.
A oferta global de alimentos vem de há muito superando o crescimento da população, a qual poderia produzir muito mais se houvesse demanda de mercado. Apenas para exemplificar, a produção dos quatro grãos mais importantes do mundo (milho, trigo, arroz e soja) cresceu de 936 milhões de toneladas, em 1970, para 1,973 bilhões de toneladas, em 2003. Um crescimento de 110% nos grãos, contra um aumento de 75% na população humana, a qual passou, no mesmo período, de 3,7 para 6,5 bilhões de indivíduos. Os pobres, infelizmente, apesar de consumidores potenciais, são clientes marginais desse mercado.

A propósito, o que uma instituição de C&T como a Embrapa pode fazer para minimizar o problema da fome no Brasil? Infelizmente, muito pouco. A pobreza, que está na raiz da fome, não é um problema tecnológico. É um problema político/social. Não se resolve produzindo mais alimentos e tampouco, gerando mais recursos financeiros, os quais poderiam, uma vez mais, beneficiar quem não os necessitam. Mais do que alimentos e dinheiro, o problema da fome se resolve com uma melhor distribuição desses bens. Só os legisladores e os governantes dispõem das ferramentas para fazê-lo, manejando adequadamente as políticas econômicas, sociais e fiscais.
A fome é companheira da pobreza, que é, em boa medida, conseqüência da ignorância. Uma boa escola poderá ser mais eficiente no combate à fome, do que uma bolsa alimentação. De qualquer maneira, apoiamos as boas intenções do Fome Zero.

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