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Desvendando a lógica do agricultor


Amélio Dall’Agnol
Se eu fosse agricultor e ainda não tivesse comercializado minha safra de soja -  a que passou e a próxima - eu estaria muito nervoso. Porque? Porque existe uma real possibilidade de queda dos preços da commodity, visto que os estoques mundiais estão muito altos. Porque estão altos? Por causa das duas últimas supersafras: uma na América do Sul (2013/14), seguida de outra na América do Norte (2014), regiões que respondem por mais de 80% da produção mundial da oleaginosa.
Os estoques mundiais de soja, principalmente nos Estados Unidos, estiveram perigosamente baixos de 2007 até 2013, o que explica os altos preços de mercado durante esse período. Mas isso acabou. E tem mais. Está a caminho uma segunda supersafra sul americana, pois tanto o Brasil quanto a Argentina aumentaram sua área plantada e, juntos, prometem jogar mais de 140 milhões de toneladas no mercado já saturado, ainda em 2015.
Pela lógica do mercado, quando a oferta é maior do que a demanda, o preço cai. É o que está acontecendo agora. A queda, no entanto, só não poderá ser muito grande porque o custo de produção também cresceu e, também, porque a queda será freada pela demanda que continua aquecida, impulsionada pelo aumento do consumo de carnes. E carne se produz com farelo de soja. Certo?
Mas a grande maioria dos produtores brasileiros não está, aparentemente, apreensiva com as possibilidades de queda no preço da soja. Pela lógica deles, o escambo dos insumos e das máquinas por sacas de soja, não flutua igual flutua a cotação da commodity em Reais. Isto explica porque muitos agricultores não vendem as sobras de safra aproveitando picos de alta. Só vendem o necessário para saldar financiamentos bancários; o resto é guardado. Tampouco, eles se lastimam quando o mercado recua e eles não aproveitaram um pico de alta.
Via-de-regra, os nossos produtores rurais não utilizam dinheiro para comprar os bens que necessitam na propriedade. Se você perguntar a um agricultor quanto vale o seu lote de terra, ele vai te informar o preço em sacas de soja, não em Reais.
A saca de soja é a moeda de troca do sojicultor brasileiro. Ele prefere guardar sacas de soja no armazém da Cooperativa, do que dinheiro vivo no Banco. Na Cooperativa ele confia, no Banco não. Isto também acontece porque a soja, igual que o petróleo, é uma mercadoria de fácil comercialização e sempre tem boas cotações, sendo amplamente aceita como moeda de troca nos negócios de qualquer natureza.
Mas a causa que melhor explica a estratégia de comercialização do produtor está na incidência de imposto de renda sobre os eventuais lucros de venda da produção. Comprando os insumos e outros bens necessários à sua lavoura com sacas de produto, ele está isento do imposto que incide sobre o dinheiro ganho com a comercialização da safra. Em anos de fartura, as sobras que ele não comercializa são generosas e ficam guardadas no armazém aguardando uma oportunidade de negócio - de preferência, mais um pedaço de terra. Só isto explica o exorbitante preço da terra na nossa região.
 

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