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Destruindo o bioetanol


Decio Luiz Gazzoni
A preocupação com a preservação do meio ambiente somente ocorre na crista de desastres pavorosos, que excitam o civismo, ou quando é uma opção economicamente favorável. Um exemplo é o esforço para mitigar as mudanças climáticas globais, substituindo combustíveis fósseis por renováveis. O processo ia bem até a crise financeira de 2008, quando os preços do petróleo, gás e carvão despencaram, junto com os investimentos em energia renovável. O mundo esqueceu de purgar pecados do passado recente e de não reincidir nos mesmos. A nova musa energética é o combustível de xisto, tão poluente quanto as fontes fósseis já em uso, e cujo processo de extração é de uma agressividade ambiental ímpar. A demanda de água é muito alta, há contaminação do lençol freático e os vazios deixados na rocha provocam mini abalos sísmicos. Com um pouco de visão de futuro, vê-se que a conta será certa, salgada e virá logo.

Para os EUA, o gás de xisto é a redenção energética, transmutando-o de maior importador para maior exportador de petróleo. Aqui em Pindorama não precisamos de xisto ou pré sal. Nossa vantagem competitiva está na energia renovável. Com sua matriz energética limpa, fundada na hidroeletricidade e na energia de cana, o Brasil provava aos demais países que outro mundo era possível.
Era! Há uma década desaceleramos os investimentos em energia hidroelétrica, e, cada vez mais, passamos a usar termoelétricas movidas a gás, carvão mineral ou petróleo. A eletricidade poderia vir de termoelétricas movidas a biomassa,  por cogeração em usinas de cana ou utilizando outras fontes. Mas, há cerca de seis anos, estamos destruindo o setor sucroenergético brasileiro, por compressão artificial e populista dos preços dos derivados de petróleo. Por oportuno, a Petrobras também está sendo destruída por este mesmo mecanismo irracional. Ao invés de energia renovável, estamos cavocando a 7 mil metros de profundidade, para emporcalhar a atmosfera com o carbono do petróleo que a Natureza, inteligentemente, estocou lá embaixo, há centenas de milhões de anos. Fazendo isto, estamos demonstrando que
outro mundo não é possível: portanto, locupletemo-nos todos e que nossos netos paguem a conta das opções erradas que fazemos hoje.

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