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Desconfie de milagres


Amélio Dall’Agnol
Tem sido recorrente em tempos recentes, período durante o qual os preços das commodities agrícolas estiveram em alta, a oferta de um sem número de novos produtos tecnológicos milagrosos, destinados a incrementar a produtividade dos cultivos e, consequentemente, os ganhos do produtor. Mas, via-de-regra, quando o agricultor se serve deles, joga dinheiro fora e nem fica sabendo.

Fico angustiado quando me coloco no lugar de um técnico de campo, o qual, ciente de que determinado insumo tem uma relação custo/benefício negativa para a maioria dos produtores, mas não pode afirmá-lo porque, eventualmente, dadas raras combinações de fatores climáticos e do solo, o dito insumo funciona.
Na melhor das hipóteses, o técnico pode afirmar que pesquisas científicas indicaram resultados negativos para a maioria dos casos em que o insumo foi disponibilizado à planta, mas não pode desrecomendá-lo, eventualidade em que o fabricante poderia processá-lo por difamação, de vez que poderá comprovar que em determinadas circunstâncias o produto dá respostas positivas. O que é verdade.
Já comentamos neste espaço a irracionalidade de se gastar dinheiro com o uso de nitrogênio mineral na adubação da soja, uma vez que existem bactérias que quando inoculadas nas sementes da oleaginosa, são capazes de infectar a raiz e prover - a custo quase zero - esse nutriente às plantas.
Mesmo assim, há agricultor gastando seu suado dinheiro na aplicação de fertilizantes nitrogenados, convencido da sua utilidade porque observa uma coloração mais escura das folhas da soja nos primeiros estágios do seu desenvolvimento, intuindo aumentos da produtividade, o que não acontece, de vez que as bactérias nitrificadoras recuperam a aparente desvantagem das fases iniciais de desenvolvimento, quando começam a funcionar cerca de 15 dias após a germinação.

Há outras maravilhas sobre as quais o agricultor deve ter cuidado antes de investir dinheiro, como o uso de enraizantes, bioestimulantes, promotores ou redutores do crescimento, nematicidas, entre outros.
Mais recentemente, os agricultores estão sendo assediados por fabricantes de formulações líquidas de calcário, as quais substituiriam – em doses irrisórias (cerca de 10 kg/ha) - as várias toneladas de calcário em pó tradicionalmente recomendadas para corrigir a acidez dos solos. A oferta é tentadora, pois o calcário líquido, além de custar menos, teria também um custo menor de transporte e de distribuição no campo.
Mas essa é uma propaganda enganosa, de vez que 10 kg/ha de calcário líquido não substituem, em capacidade de neutralização da acidez do solo, várias toneladas de calcário em pó.  10 kg de calcário líquido podem até equivaler a 20 ou 30 kg de calcário em pó, considerando que os nutrientes cálcio e magnésio do calcário líquido, podem estar mais prontamente disponíveis do que no calcário em pó. Nada mais
Milagres, caro produtor, só Deus faz e Ele não tem sido muito generoso.

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