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Copa, carnaval, eleições e agronegócio


Amélio Dall’Agnol
O ano de 2014 será lembrado como o ano da Copa do Mundo, do Carnaval tardio e de eleições para Presidente. Não é todo o ano que eventos como esses acontecem no Brasil (Carnaval acontece todo o ano, mas não em março). São acontecimentos interessantes, embora ainda não saibamos se atenderão às nossas expectativas.

Contudo, tem evento que se repete todo ano e que atende às nossas melhores expectativas: é a sucessão de super safras anuais quebrando o recorde do ano anterior e o mesmo acontecendo com os superávits comerciais.
A produção total de grãos no país, em 2014, será um recorde: cerca de 200 milhões de toneladas. Só de soja e milho serão mais de 170 milhões de toneladas, boa parte oriunda do Cerrado tropical. A atual super safra de soja deve colocar o Brasil na liderança global da produção do grão, deslocando em definitivo os Estados Unidos (EUA) da liderança de mais de meio século, visto que o Brasil ainda dispõe de muita terra apta para crescer, condição inexistente nos EUA, onde, para aumentar a área de soja, será necessário diminuir a do milho, trigo ou algodão.
No rastro da soja, a produção de milho também cresceu, visto que soja e milho constituem a matéria prima para a produção de carnes, produto cuja demanda global cresce continuamente como consequência do aumento da renda per cápita dos países emergentes. Como grande produtor de soja e milho, o Brasil tornou-se, também, grande produtor e exportador de carnes: 2º, 3º e 4º produtor de carne bovina, de frango e suína e 1º, 1º e 4º exportador, respectivamente.
Reconheça-se, o Brasil que deu certo está no campo. Seus bilhões de dólares de superávit gerados anualmente ao longo das últimas décadas têm livrado o país de déficits monumentais em sua balança comercial e, ainda, tem deixado sobras para garantir reservas cambiais que permitem ao Brasil enfrentar soberanamente crises econômicas como a de 2008.
Apenas para exemplificar, em 2013 o setor agrícola exportou US$ 101,5 bilhões, gerando superávit de US$ 83 bilhões, enquanto o superávit do Brasil foi de, apenas, US$ 2,5 bilhões. Ou seja, o agronegócio bancou o déficit de incríveis US$ 80,5 bilhões dos demais setores da economia e ainda deixou troco. Só o complexo agroindustrial da soja teve um saldo de US$ 30,8 bilhões.

No entanto, segundo Kátia Abreu, o bem maior da revolução agrícola brasileira não foi na economia (mesmo tendo sido gigante), mas nas mudanças que promoveu na condição social dos brasileiros, reduzindo a desigualdade e promovendo a ascensão de grandes contingentes à classe média.
A eficiência do Brasil na produção agrícola em terras tropicais tem despertado o interesse de lideranças globais - cujas regiões têm histórico de baixa produtividade e subdesenvolvimento - e fez com que governos desses países, assim como organismos internacionais que prestam assistência a esses países, demandassem apoio do Brasil na transferência dos conhecimentos que deram origem ao nosso avanço agrícola tropical. Produtores brasileiros, inclusive, estão sendo aliciados por governos de países africanos (Sudão, Moçambique, Etiópia, entre outros) para produzirem lá e assim transferir aos produtores locais as nossas eficientes técnicas de produção.
Mas, se bem o agronegócio está bombando da porteira para dentro, fora dela há deficiências crônicas em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e silos, o que encarece a produção e anula parcialmente os ganhos de produtividade obtidos dentro da porteira. É injustificável a ausência de ações saneadoras desses estrangulamentos logísticos, considerando que a dinâmica do agronegócio sinaliza, há décadas, que o país alcançaria o atual nível de produção.
Mas o produtor pode ficar tranquilo, porque a Copa do Mundo, as eleições e o Carnaval estão garantidos. Gargalos, se houver, serão sanados em tempo. 

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