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Consertando o estrago


Decio Luiz Gazzoni
Em meados da década passada o setor sucroenergético viveu um momento excepcional de investimentos, prevendo-se, para esta década que o Brasil produziria, anualmente, mais de 50 bilhões de litros de bioetanol, para consumo doméstico e exportação. Infelizmente, em 2014, produziremos menos de 12 bilhões de litros.

Em 2009, o bioetanol representou 55% do combustível usado por veículos leves, no Brasil; em 2013 foi inferior a 30%. Em 2009 foram queimados 25 bilhões de litros de gasolina, em 2013 mais de 41 bilhões. A razão é a compressão artificial do preço da gasolina, que hoje custa, em valores reais, quase metade do valor de 2003, apesar de o barril de petróleo haver saltado de US$40 para US$110 no período.
A Petrobras compra ou extrai petróleo e o refina por um valor acima do preço de venda dos seus derivados no varejo, assumindo a diferença como prejuízo. Um absurdo: quanto mais combustível vende, maior o prejuízo! Juntamente com as denúncias de corrupção que afloram com a delação premiada do seu ex-diretor, os prejuízos com os subsídios aos combustíveis fósseis estão dilapidando a Petrobras, um patrimônio público.
Enquanto isso o bioetanol, um biocombustível mais limpo e mais barato que a gasolina, que gera riqueza distribuída no interior do Brasil, e que reduz o impacto ambiental em mais de 70% em relação ao combustível fóssil, foi vilipendiado. E ainda há o impacto na saúde pública: um estudo da USP mostrou que se os veículos utilizassem apenas gasolina, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, as internações hospitalares por problemas respiratórios e cardiovasculares aumentariam em 9.247, e os custos do sistema de saúde incrementariam em R$429 milhões. O número de mortes decorrentes desse fator de risco seria aumentado em 1.384.

De outra parte, com o uso do etanol, haveria uma redução de 505 internações e de 226 mortes por ano. Com o uso exclusivo de etanol, os gastos com internações hospitalares custariam R$67 milhões a menos aos cofres públicos, em relação ao patamar atual.
O Brasil precisa retomar a produção e uso de bioetanol, pelas múltiplas vantagens que apresenta. É um dos desafios para o próximo presidente da República.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo.

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