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Competência ou muita sorte?


Amélio Dall’Agnol
O campo está em festa e os agricultores eufóricos. A safra foi boa, o galpão está cheio e os preços dos grãos continuam aquecidos. Alegria geral e muito dinheiro no bolso.

Alguns produtores fizeram por merecer a super safra, outros tiveram apenas sorte. O campo, por gentileza do bom velhinho, disponibilizou chuvas na quantidade necessária e na hora certa, beneficiando por igual os bons produtores e os demais, fazendo com que os primeiros se perguntem: para que investir em tanta tecnologia, se meu vizinho colheu quase igual a mim plantando grãos pirateados, descuidando da época de plantio e da população de plantas, quase não gastou com fertilizantes, não fez o controle fitossanitário adequado e tão pouco se preocupou com rotação de culturas? E tem mais: o campo dele tem sinais de erosão e está compactado.


Calma produtor, existem dias que exímios pescadores se igualam aos aventureiros de primeira viagem. Mas todos sabem que isto acontece eventualmente e por alguma feliz coincidência, enquanto que para os profissionais da pesca, todo o dia é dia para peixe, em maiores ou menores quantidades.

Fato semelhante acontece com os bons produtores de grãos. Em anos de chuva abundante e bem distribuída, todos colhem bem, aproximando a produtividade dos bons agricultores com a dos demais, visto que o principal fator de produção de uma lavoura é a água. Sem ela não adianta plantar a melhor variedade, na época mais adequada, com a população mais ajustada e com boa dose de fertilizantes.

É na falta de água que o bom agricultor aparece, porque consegue otimizar o uso da água escassa, através de um eficaz manejo do solo e da cultura, superando parcialmente a deficiência hídrica e produzindo bem. Se a estiagem não for prolongada, poderá, até, não sofrer perda alguma, porque solos bem manejados não apresentam compactação, nem erosão, acumulam mais matéria orgânica, que, por sua vez, retém mais água, dando sobrevida à cultura:
“só quando a maré abaixa é que a gente fica sabendo quem está nadando pelado ou com a sunga rasgada".

A propósito agricultor, se você é dos que colheram bem pela pura sorte, cuidado com os gastos baseados na repetição improvável da última safra. Mesmo que a boa colheita se repita, os preços de mercado e o lucro poderão despencar. Não comprometa o que você ainda não ganhou. Comprar mais terra, máquinas e carro novo?! Só à vista.

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