Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A ONG OBSERVATÓRIO DO CLIMA enviou carta (na segunda feira dia 16 de setembro) à presidente da Comissão Européia (Ursula Van der Leyen) em protesto contra a carta do Ministro da Agricultura do Brasil que pede o adiamento da entrada em vigor da Lei AntiDesmatamento cujas restrições trarão prejuízos diretos ao Brasil da ordem de bilhões de dólares.
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Parece que sim. Veja, no último dia 19 o Comandante Militar do Norte, general José Ricardo Vendramin Nunes foi barrado por indígenas em bloqueio na BR-230. Um comandante do Exército teve sua passagem impedida.
https://www.sociedademilitar.com.br/2024/09/video-comandante-militar-do-norte-general-jose-ricardo-vendramin-nunes-e-barrado-por-indigenas-em-bloqueio-na-br-230-sp1.htmlParece que sim. Veja, no último dia 19 o Comandante Militar do Norte, general José Ricardo Vendramin Nunes foi barrado por indígenas em bloqueio na BR-230. Um comandante do Exército teve sua passagem impedida.
https://www.sociedademilitar.com.br/2024/09/video-comandante-militar-do-norte-general-jose-ricardo-vendramin-nunes-e-barrado-por-indigenas-em-bloqueio-na-br-230-sp1.htmlParece que sim. Veja, no último dia 19 o Comandante Militar do Norte, general José Ricardo Vendramin Nunes foi barrado por indígenas em bloqueio na BR-230. Um comandante do Exército teve sua passagem impedida.
https://www.sociedademilitar.com.br/2024/09/video-comandante-militar-do-norte-general-jose-ricardo-vendramin-nunes-e-barrado-por-indigenas-em-bloqueio-na-br-230-sp1.htmlParece que sim. Veja, no último dia 19 o Comandante Militar do Norte, general José Ricardo Vendramin Nunes foi barrado por indígenas em bloqueio na BR-230. Um comandante do Exército teve sua passagem impedida.
https://www.sociedademilitar.com.br/2024/09/video-comandante-militar-do-norte-general-jose-ricardo-vendramin-nunes-e-barrado-por-indigenas-em-bloqueio-na-br-230-sp1.htmlParece que sim. Veja, no último dia 19 o Comandante Militar do Norte, general José Ricardo Vendramin Nunes foi barrado por indígenas em bloqueio na BR-230. Um comandante do Exército teve sua passagem impedida.
https://www.sociedademilitar.com.br/2024/09/video-comandante-militar-do-norte-general-jose-ricardo-vendramin-nunes-e-barrado-por-indigenas-em-bloqueio-na-br-230-sp1.html
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
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- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- .
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- .
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- .
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- .
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- .
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas
Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine
Izner Hanna Garcia
A capacidade do ser humano de negar o uso da racionalidade somente tem correlação com sua capacidade de, justamente, exercer sua razão
Daniel Kahneman foi um psicólogo cujos estudos centraram-se na investigação da motivação da tomada de decisões pelos seres humanos. Evidentemente que uma tomada de decisão é precedida por um juízo de avaliação e valor.
Em apertado resumo fica claro em sua obra que o ser humano, tão arrogante quanto à sua capacidade de pensar (a ponto de termo-nos auto intitulado como sapiens) na verdade é muito falho na capacidade de avaliação racional de uma situação, mais ainda quando se tem muitos ‘dados’ (variantes) que devem ser conectados e quando se tem uma linha temporal que foge à nossa experiência sensória.
Nassim Taleb traz muitas dos estudos de Kahneman para demonstrar que a lógica do mercado financeiro é muito mais ilógica que gostamos de admitir.
Em resumo, de maneira geral, nossas conclusões são prejudicadas por alguns erros comuns como, por exemplo: o preconceito da disponibilidade, que faz com que tomemos nossas decisões com base na informação que está mais prontamente disponível em nossas memórias, em vez dos dados de que realmente precisamos. O preconceito da percepção tardia, que faz com que associemos probabilidades maiores a eventos depois que eles aconteceram (ex post) do que antes que eles acontecessem (ex ante); o problema da indução, que nos leva a formular regras gerais com base em informação insuficiente. A falácia da conjunção (ou disjunção), que significa que tendemos a superestimar a probabilidade de que sete eventos com 90% de probabilidade irão acontecer, todos, enquanto subestimamos a probabilidade de que pelo menos um dos sete eventos com 10% de probabilidade aconteça; o preconceito da confirmação, que nos inclina a procurar por evidência confirmadora de uma hipótese inicial, em vez de evidência refutadora, que a invalidaria. Os efeitos de contaminação, pelos quais permitimos que uma informação irrelevante, mas imediata, influencie uma decisão. A heurística afetiva, pela qual os julgamentos de valor preconcebidos interferem em nossa avaliação de custos e benefícios; a negligência do escopo, que nos impede de ajustar proporcionalmente o que estaríamos dispostos a sacrificar para evitar danos de diferentes ordens de magnitude; o excesso de confiança na calibração, que nos leva a subestimar os intervalos de confiança dentro dos quais as nossas estimativas ficarão fortalecidas (i.e., combinar o cenário do “melhor caso” com o “mais provável”) e a apatia do circunstante, que nos inclina a abdicar da responsabilidade individual, quando estamos numa multidão.
Se somos um aparelho neural que é formado por várias camadas que agregam desde o mais primitivo até a essência da razão e, mais complexo, este ‘aparelho neural’ deve estar atento e atender ao interno (afinal imagine você controlar esta máquina chamada corpo humano com todas as suas funções integradas) mas também – ao mesmo tempo -- responder e também atender aos estímulos externos, é quase inacreditável que fiquemos loucos.
Então, voltando ao ponto inicial, não devemos “nos culpar” de sermos tão falhos nas avaliações e juízos. Afinal, somos humanos. Fazemos o máximo que podemos.
Bem, no artigo anterior que escrevi aqui (Mudanças Climáticas) fiz observações, como leigo, empíricas sobre a questão.
Ufa!
Foi o que bastou.
Choveram mensagens e e-mails irados contra meu artigo. Desde algumas críticas educadas, poucas com algum argumento mas muitas, muitas que vão desde “tchutchuca do agronegócio”, “incendiário” e, claro, como é moda, até fascista afinal nos dias que vivemos quem nos é contrário é fascista, não?
Não quero responder nos mesmos termos. Seria colocar a possibilidade de reflexão em uma régua muito rasa. Vou tentar, na medida da paciência de você que lê-me, desenvolver um caminho de raciocínio para, sem pretensão de não incorrer nos erros de julgamento que fazem-me humano, afastar a maior parte possível de um julgamento falho.
A frase título do artigo, em alemão, pode soar estranha: Wenn Du Mich Siehst, Dann Weine.
A tradução significa: "se você me vir, chore" e foi parte de uma reportagem publicada pela BBC em 10 de agosto de 2002.
Dizia a reportagem:
“A Europa está vivendo uma seca que tornou visíveis as chamadas "pedras da fome" — um aviso sinistro do passado pressagiando períodos de miséria.
Comuns na Europa central, as "pedras da fome" são rochas nos leitos dos rios que só são visíveis quando os níveis de água estão extremamente baixos.
Populações que viviam entre os séculos 15 e 19 onde hoje estão países como Alemanha e República Tcheca deixaram marcos nessas pedras com mensagens sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas.
A inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba (que nasce na República Tcheca, corre pela Alemanha e deságua no Mar do Norte) data de 1616 e está em alemão. Ela diz wenn du mich siehst, dann weine, que pode ser traduzido para o português como "se você me vir, chore".”
https://www.bbc.com/portuguese/geral-62498309
Em 2022 (parece tanto tempo atrás, não?!) a Europa enfrentou uma seca terrível e, lógico, não faltaram análises de que a tragédia se devia ao aquecimento global, ao agronegócio predatório e toda a cartilha que é bem difundida em toda mídia.
A conjunção adversativa deve ser exercida: mas se a inscrição da pedra da fome data de 1.616 não é de concluir-se, de forma irrefutável, que mais de 400 anos atrás houve uma seca tão terrível como a vivenciada em 2022?
Colocado de outra forma: a seca de 1.616 foi tão avassaladora como a de 2022 porquanto, por óbvio, não poderia haver as inscrições nas pedras até então submersas caso assim não fosse.
Se esta é a conclusão será possível atribuir-se as causas desta seca de 1.616 à ação antropogênica? Lembremos: 1.616 não estávamos nem na era do vapor, não utilizávamos o carvão nem qualquer motor à combustão.
Eis que no último dia 16 deste mês de setembro foi manchete no Jornal Nacional: “Chuvas torrenciais atingem países da Europa e provocam as piores enchentes em duas décadas”, relatando que milhares de pessoas foram desalojadas de suas casas.
Dois anos após secas terríveis temos enchentes terríveis.
A reportagem ainda teve o cuidado de pontuar: “...piores enchentes em duas décadas” o que nos permite, então, induzir que há duas décadas houveram outras enchentes tão ou piores que as atuais.
“O clima extremo também levou chuvas torrenciais para a África e para a Ásia. Xangai está enfrentando o tufão mais forte na China em 75 anos; 400 mil moradores da Região Metropolitana precisaram sair de casa.”
De novo atentemo-nos: “...o tufão mais forte na China em 75 anos...”
O que estas singelas observações nos dizem?
Os apontamentos de Kahneman são um alerta constante que devemos ter quando exercemos um juízo:
- o problema da indução
- o preconceito da disponibilidade
- preconceito da confirmação
- o excesso de confiança na calibração
- a apatia do circunstante
Em termos climáticos nossa conclusão está muito, mas muito aferrada a um tempo muito curto de observação. Nossa perspectiva em virtude de nosso tempo de vida é muito curto para o raciocínio climático, ecológico e geológico. 100 anos é um piscar de olhos nestas ciências.
Só para ilustrar vejamos alguns exemplos:
- Em 1931 houve a Grande Inundação do Rio Amarelo, na China. Estima-se que houve algo como 1,4 milhão de mortos.
- Em 1916 o Rio Mississipi, nos EUA, levando a mais de 1 milhão de pessoas desabrigadas.
Enfim, este planetinha nosso é agitado e ‘se sacode’ muito.
Nós, pobres seres humanos, somos tangidos para um e outro lado, mais ainda em um mundo extremamente interconectado e informado. Aliás, cabe um parênteses: já pensou que INformação é a negação da formação. Mas esse é assunto para outra hora.
Falando em informação lembremos a capa da revista TIME de 28 de abril de 1975:
http://www.motorhome.wiki.br/mtrs/pg-mt-aquecimentoglobal.php
Claro, aqui no Brasil a matéria foi reproduzida pela mídia nacional.
Estavam errados?
Pode ser que sim. Ou pode ser que não. O que são 50 anos nestas conclusões?
Aliás, há hipóteses e teses que, justamente, a ação do ser humano (que é evidentemente indutora do aquecimento global em alguma medida) seja um ponto que pode impedir de ingressarmos em uma (terrível) era glacial. Nesta tese (que pode estar errada) nossa ‘má conduta’ seria benéfica para a espécie, ao menos nossa espécie.
Mas vejamos quanto não sabemos nada ou, para não ser tão radical, quanto sabemos pouco.
Em 2023 a Terra vivenciou um Tsunami que durou 9 dias consecutivos com onda de 200 metros e, na época, ninguém percebeu.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4g5d301d9qo
O sinal sísmico, em setembro de 2023, foi captado por sensores em várias partes do mundo levando cientistas a investigarem a origem de um pulso a cada 90 segundos por 9 dias seguidos.
Enfim, após várias pesquisas, descobriram que tal se deu em virtude do deslizamento de um fiorde na Groelândia.
E esta outra notícia: “Pesquisadores encontraram um inusitado e enorme oceano nas profundezas da Terra, a 700 quilômetros abaixo da crosta. A descoberta muda algumas concepções científicas sobre o ciclo da água, a origem dos oceanos e sua estabilidade nos bilhões de anos do nosso planeta.”
Minha imaginação remeteu-me a Júlio Verne e sua Viagem ao Centro da Terra. Minha imaginação infantil passeou pelo centro da Terra com Júlio Verne. E eis que agora vem nos dizer que o tal oceano (não precisamente assim um oceano mas com água equivalente) foi descoberto.
O interessante aqui é percebermos o quão ainda sabemos pouco. Ou o quanto ainda falta para sabermos.
Toda a magia, sim, é este o nome certo, que cerca nossa vida parece que fez-nos perder o senso de humildade e da real ignorância que ainda padecemos.
Pense comigo: já imaginou o quão fantástico são os aplicativos de localização? Você coloca um endereço e uma ‘mocinha’ te leva direitinho ainda monitorando o melhor tráfego em tempo real. E este whatsapp. Ligação ‘gratuita’, ainda de vídeo. Claro, abra-se aspas ao gratuita porque quando não cobram o produto, na verdade, você é produto.
Mas vamos além: você vai a um supermercado e estão ali prateleiras e prateleiras de infinitos produtos para sua escolha e consumo. E veja: ainda sentimos ‘preguiça’ de ir ao supermercado. Já imaginou isso na época daqueles que inscreveram as advertências nas pedras da fome na Alemanha?
Lembrando aqui, só uma digressão de um já velho, eu ainda vi e vivi na casa de meus avós o galinheiro no quintal. Tinha-se galinha e vi muitas vezes matar a galinha que comeríamos no almoço.
Enfim, toda esta magia (repito) nos tirou da realidade. Como afoitos aprendizes de feiticeiros estamos achando e sentindo, o que é muito pior, que sabemos de tudo e que já deciframos tudo.
Esta conclusão errada (não estou dizendo sobre a mudança climática ser ou não gerada pela ação do homem mas sim sobre a supervalorização de nossos juízos) pode nos causar males grandes e concretos.
Mais especifica e prementemente coloquemos atenção à diretriz ambiental que a União Européia aprovou e irá ser implementada (se não for revista) à partir de 2025.
Esta legislação europeia irá banir a importação de grãos e carnes de áreas desmatadas mesmo, note isso, aquelas que foram desmatadas em acordo à legislação ambiental.
Estudo do Ministério da Agricultura estima que em torno de 31% das exportações do Brasil para a Europa poderão ser afetadas por tal normativa.
Qualquer um que conheça a Europa, mesmo que só em filmes, perceberá que o ditame europeu seria ridículo se não fosse tão pernicioso. Fico imaginando aplicarmos a legislação ambiental do Brasil à Europa. Por exemplo, vamos regenerar as margens (APPs) do Rio Sena na França? Certamente se “soltássemos” os fiscais ambientais dos órgãos brasileiros na Europa seria a festa da multa e, só com as autuações, arrecadaríamos mais que o orçamento que falta ao governo federal para cobrir seus déficits e combater (por que não?) os incêndios.
Brincadeiras à parte compensa ‘perder’ um tempo e assistir uma palestra (já antiga mas totalmente atualizada) de Evaristo de Miranda, então presidente da Embrapa sobre a ocupação agrícola do Brasil comprovada por nada menos que levantamentos de imagens satelitais da NASA.
https://www.youtube.com/watch?v=oDixTvtEsx8&t=5s
Alguns dados que ele trouxe:
- O Brasil tem 1.871 unidades de conversavação
- 600 áreas indígenas = 14% do território do Brasil
- 30% do território brasileiro é de área protegida (ambiental e indígena)
- Em termos comparativos, considerando países com mais de 2 milhões de km²: Austrália protege 19,2%; China 17%: EUA 13%; Rússia 9,7%; Canadá 9,7%; Argentina 8,9%; Argélia 7,5%; Índia 6% e Cazaquistão 3,3%
- Se “tirarmos” o Brasil da conta a média de proteção global dos maiores países é de 10%, tal seja, o Brasil protege 3x mais a vegetação nativa e, ainda, há que se considerar que outros países alocaram suas áreas de proteção em áreas imprestáveis como os desertos de Sonora, de Mojave, da Mongólia, da Austrália, do Ténére. O deserto do Ténére é a área protegida da Argélia que é o pior local do Saara
- A área protegida do Brasil equivale a soma do território de 15 países da União Européia
- A União dos Produtores de Milho dos EUA elaboraram um documento chamado Fazendas Aqui Florestas Lá em que defendem lobbies e ações para que o crescimento da produção agrícola no Brasil fosse barrada com vistas a que, justamente, os produtores norte americanos possam açabarcar o crescimento da demanda de alimentos
- O Brasil tem aproximadamente 9.500 assentamentos provenientes da reforma agrária, representando 88 milhões de hectares, ou seja, uma área de 1,5x a área hoje de produção de grãos do Brasil
- São 12.184 áreas atribuídas para conversvação
- São 315 milhões de hectares para conservação
- São 37% do território do Brasil
- Além destas áreas de conversação, proteção ambiental, parques nacionais e reservas indígenas – que somam 37% do território do Brasil – ainda temos as áreas de reserva ambiental das propriedades particulares e as APPs
- O Estado de São Paulo (que foi o estado que mais desmatou porque a agricultura iniciou-se ainda sem leis ambientais) tem incríveis quase 4 milhões de hectares em reservas ambientais e APPs ou seja praticamente 22% do território do Estado de São Paulo tem cobertura vegetal nativa. Isso em uma região que a reserva ambiental obrigatória é de 20% da área da propriedade
- Se tomarmos o Brasil, tal seja, a área ocupada por propriedades rurais privadas, a preservação ambiental atinge 218 milhões de hectares ou 50% das áreas destes imóveis ou 25% do território nacional
- São 2.127.000 km²
- Para compararmos: a Alemanha tem uma área de 357.000 km²; a França tem uma área de 543.000 km²; a Inglaterra tem uma área de 130.000 km²; a Espanha de 505.000 km²; a Espanha de 305.000 km²; a Polônia de 312.000 km²
- Praticamente a área preservada ambientalmente pelos produtos privados no Brasil equivale a área total da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha e Polônia
- Somando as áreas protegidas, reservas indígenas, assentamentos, quilombolas, parques nacionais e a área protegida pelas propriedades privadas o Brasil preserva área equivalente a toda União Européia
- Enfim, a conclusão do estudo da Embrapa, com dados de satélite confirmados pela NASA, é que o Brasil tem incríveis 66,3% do território protegido em vegetação nativa ou 631.000.000 de hectares
- O uso do solo no Brasil para agricultura ocupa 7,8% do território, para pastagens 13,2%, pastagens nativa 8,2% para reflorestamento 1,2% e para infraestrutura 3,5%
Estes números, chocantes, são um contrassenso à nossa percepção, não?
Mas foram corroborados não só pela Embrapa mas por um estudo da NASA:
É incompreensível que o Brasil seja “taxado” como o grande agente do mal ambiental do mundo, como um predador insano. Aliás, na verdade, ‘carregamos’ um grande patrimônio ambiental que é ‘colhido’, sem qualquer contrapartida, por toda humanidade.
Os europeus, que não preservaram absolutamente nada, que não regeneraram nem as APPs do Rio Sena, que exploram petróleo na Guiana, querem agora nos dar lição e impor restrições à nossa produção de alimentos?
Será que estamos loucos?
Diz uma frase batida que Deus limitou a inteligência dos homens mas não a burrice.
Não será a primeira vez que atacamos ‘moinhos de vento’. Na peste negra, triste e injustamente, os judeus então foram acusados de serem os causadores da doença e foram perseguidos e mortos. Não adiantava argumentar com o senso lógico que eles também morriam da peste.
Mas não precisamos ir tão atrás. No século XX, não tanto tempo atrás, Mao Tsé Tung tentou uma mal fadada política agrícola na China com o projeto do Grande Salto Adiante e as Comunas Populares. Tais ações embalaram erradamente então esta grande nação, culta e antiga e levaram a entre 15 e 50 milhões de mortos entre 1958 e 1961.
Holomodor é nome que se dá à grande fome em 1931 / 1932 na União Soviética fruto de uma combinação de erros governamentais com Stalin à frente.
Não se pode dizer que Stalin ou Mao eram ignorantes ou irracionais.
E como não lembrar a grande depressão da década de 30 do século passado?
Hoovervilles é o nome dos assentamentos (favelas) que surgiram em decorrência do grande crash de 29 e subsequente depressão que abateu-se sobre o pais.
Veja as imagens do que foi este período nos EUA, menos de 100 anos atrás:
Lembremos, nós seres humanos erramos. Muito. Muito mais que gostaríamos de admitir.
Mas, enfim, depois de tudo que tratamos acima qual a conclusão?
Não existe aquecimento global? Não existe risco de mudanças climáticas? Não existem desafios à humanidade? O homem é culpado pelo aquecimento global? Ou pelo resfriamento? Ou pela destruição da Natureza?
A toda e qualquer pergunta a resposta será sim e não. Somente a uma questão a resposta é inequívoca: a mudança climática é uma constante.
A mudança climática é uma lei da Natureza, queiramos ou não, não vamos detê-la.
Levantar, para o conforto de nosso errôneo juízo, falsas acusações, imputar culpados (falsos ou verdadeiros), rogar pragas, não irá nos ajudar em nada. Ao contrário.
Usando o bom senso, a ciência empírica básica e modelos simples mas eficazes, deveríamos estar, enquanto humanidade, olhando este planeta e de fato pensando em soluções.
Alguns problemas saltam à vista mas, enfim, são difíceis de enfrentar.
Por exemplo:
- A concentração populacional em determinadas regiões
Não é difícil enxergar, para qualquer leigo que tenha mais que dois neurônios pensantes, que se pegarmos um mapa do globo veremos que grande parte da população mundial concentra-se em centros específicos.
Vamos pensar no Brasil que teve um censo em 2022.
A região norte tem uma população de 17.349.619 habitantes. Uma área de 3.853.576 km².
A conta é simples: a região norte representa 45% do território brasileiro e abriga 8,5% população do Brasil.
É óbvio que tal concentração é uma fragilidade porque sobrecarrega áreas enquanto outras estão inutilizadas.
São Paulo, a cidade, é um exemplo. A concentração populacional desta megalópole (se tomado o ABCD) é um grande problema mas ainda em um país com parcos recursos públicos. Mais dia menos dia haverá uma crise, por exemplo, de fornecimento de água com menos chuvas no verão e atraso das chuvas do próximo ciclo. Será isso culpa do aquecimento global ou da má utilização do terreno?
Sem falar na ocupação costeira mundial. Grandes cidades estão localizados na costa. Qualquer alteração climática (antropogênica ou não) irá causar um grave problema global.
Mas voltando à questão: vamos ter uma mudança climática? Sim, óbvio que sim. Quando? Pode estar em curso ou não. Mas que haverá mudanças climáticas é certo.
Hoje mesmo é notícia nos jornais que as pesquisas na chamada Geleira do Juízo Final (Antártica) tem a conclusão inafastável de que o derretimento do gelo está em ritmo acelerado e que esta aceleração indica uma catástrofe irreversível e próxima.
“A Thwaites contém água suficiente para aumentar o nível do mar em mais de 60 centímetros. Mas, como ela também atua como uma rolha, segurando a vasta camada de gelo da Antártica, seu colapso poderia, em última instância, levar a um aumento de cerca de 3 metros no nível do mar, devastando comunidades costeiras de Miami e Londres até Bangladesh e as ilhas do Pacífico.”
Pode ser que sim, que estejam certos.
Mas então? Vamos continuar dizendo que é o Brasil que vai acabar com o mundo ou tratar, nos próximos 200 anos estimados do desastre, de rever o ‘mapa’ do homem na Terra para nos adequarmos?
Bem, 200 anos é nada em termos climáticos e geológicos mas para nós é muito tempo. Capaz que esses problemas serão enfrentados no devido tempo pela humanidade e até lá, porque não, continuemos com nossos jogos de interesses penalizando os não culpados e, claro, ganhando dinheiro, muito dinheiro com tudo isso.
Humildade. Precisamos de humildade.
Izner Hanna Garcia, advogado, pós graduado Fundação Getúlio Vargas