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Transgênicos na mesa


Decio Luiz Gazzoni
Pesquisas de opinião nos Estados Unidos e na Europa indicam que a resistência aos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) tem diminuído, refletindo uma gradual mudança de posição da percepção pública. Institutos científicos independentes têm demonstrado que a transgênese, obedecidos os rígidos protocolos de segurança impostos pela legislação, não apresenta riscos à saúde do consumidor superiores aos existentes em alimentos convencionais e tradicionais.


Órgãos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), têm aceitado e repercutido essa posição, o que consolida a nova visão global sobre transgênicos. É esta nova percepção que permitiu, segundo dados do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), que mais de 170 milhões de hectares fossem cultivados com transgênicos em todo o mundo. No Brasil, são quase 40 milhões com crescimento anual superior a 20% nos últimos anos.

Talvez o grande indicador da mudança seja a aprovação pelos órgãos de controle dos EUA do salmão transgênico, que pode chegar ao mercado em 2014. Trata-se do primeiro animal geneticamente modificado a entrar na cadeia de consumo comercial, após haver enfrentado anos de estudos, discussão e polêmica.

A lista de produtos geneticamente modificados já é grande e tende a crescer aceleradamente nos próximos anos. O futuro será marcado pela diversidade, fruto de ondas sucessivas de produtos GM que, além das características que interessam ao produtor (resistência a pragas ou tolerância a herbicidas), atenderão anseios do consumidor, principalmente em aspectos nutricionais.

OUTROS ASPECTOS

Microrganismos como bactérias, fungos ou fermentos foram modificados com genes de estômagos de animais para produzir quimosina, e passaram a ser cultivados em laboratório. A quimosina resultante deste processo – e que depois é inserida no soro do leite para produzir queijo – é tida como idêntica à que era extraída de forma tradicional. Essa enzima é pioneira entre os produtos gerados por OGMs e está no mercado desde os anos 90.


Trigo e centeio, que são os principais cereais usados para fazer pão, continuam sendo plantados de forma convencional. Entretanto, outros ingredientes usados em pães e bolos vêm da soja (farinha, óleo e lecitina), do milho (glucose e amido) ou de microrganismos modificados (ácido ascórbico, enzimas e glutamato).

Nas cadeias de energia, a transgênese é uma ferramenta fundamental para obter microrganismos tanto para aproveitamento de material lignocelulósico (resíduos) quanto para diversificar o portfólio de biocombustíveis. A obtenção de etanol celulósico e de farneseno a partir de cana-de-açúcar é exemplo concreto de tecnologias pré-comerciais.

Há 20 anos, quando a engenharia genética engatinhava, escrevi um artigo prevendo que, na década de 2020, todo o produto agrícola importante cultivado no mundo teria variedades transgênicas e que, ao final daquela década, a maior parte da área cultivada no mundo seria coberta com materiais GM. Hoje, produtos derivados de variedades geneticamente modificadas já ocupam parcela significativa da dieta alimentar, em escala global. Isso se tornou possível em virtude da mudança de percepção social a respeito do risco dos transgênicos – uma consequência direta do rigor dos protocolos de segurança, do avanço da ciência e das políticas públicas de proteção à saúde do consumidor.

Artigo originalmente publicado em Revista Cultivar Grandes Culturas, em 1º/04/2013

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