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Supersafra, mas como escoá-la?


Decio Luiz Gazzoni
Na mesma quinta feira, 28/2, em que o JL veiculou a coluna “Apagão Logístico”, um grande jornal do país publicou o Editorial “Supersafra Represada”, no mesmo tom, embora mais veemente, e utilizando outros fatos e números. Na segunda, 4/3, um telejornal de âmbito nacional divulgou auditoria do TCU, a qual constatou que, até um mês após a conclusão de recente operação “tapa-buracos”, estes voltaram a aparecer nas mesmas rodovias federais. Dez de onze rodovias auditadas tiveram as obras reprovadas pelo TCU. Foram só 1.000 km auditados, de um total de 70.000 km de estradas, porém a má aplicação dos recursos foi de R$800 milhões. Caso isolado? Negativo, é um episódio recorrente.

        Entretanto, o fato que dominou a pauta econômica da semana passada foi o assim chamado “Pibinho”, o baixíssimo crescimento econômico do Brasil, inferior à média do mundo, da América Latina, dos BRICS, dos países emergentes, entre outros comparadores usados pela imprensa. Uma das explicações para o PIB fraco foi, justamente, o baixo nível de investimento da economia brasileira, posto que a prioridade de alocação de recursos foi no consumo (crédito ao consumidor) e não na produção e infraestrutura. O consumidor está muito endividado, perdeu a capacidade de resposta ao crédito e, por outro lado, a produção estancou.
        Outra explicação foi a estabilização do PIB agrícola, motivado pela forte seca da safra 2011/12. Quando o agronegócio não bate recordes, o PIB brasileiro vai para o acostamento. Porém, nesta safra 2012/13, em que vamos colher a maior produção agrícola da História, que poderia alavancar o PIB nacional, parte da produção será perdida por falta de infraestrutura. Perdida porque a soja acaba caindo dos caminhões sacudidos nas estradas esburacadas. Perdida na ineficiência de armazenamento e de portos, ou nos excessivos custos de fretes e multas portuárias. Os silos do país podem armazenar apenas 70% da safra (133% nos EUA!). O frete de uma tonelada de soja do MT ao porto vale R$170, contra R$46 nos EUA ou R$40 na Argentina.

        PIBÃO dependerá de diversos fatores: governança, investimentos, tecnologia. Mas não dispensará logística e infraestrutura na dimensão da ambição do crescimento econômico.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa.

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