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Soja: um negócio da China para o Brasil


Amélio Dall’Agnol

 

Faz 126 anos que a soja chegou ao Brasil. Um país que já foi a terra da cana, do cacau e do café, pela ordem, mas que hoje, mais do que qualquer outra denominação, merece ser reconhecido como "O PAÍS DA SOJA". E não tanto pelo que ele já é, com seus 23 milhões de hectares cultivados com essa oleaginosa, mas pelo que ele ainda haverá de ser, dado o potencial de crescimento que possui, representado por suas imensas reservas de terras aptas e disponíveis para incorporação imediata ao processo produtivo de soja, assim que o mercado o exigir. O Brasil é a grande promessa de fornecimento do esperado incremento da demanda mundial de soja, cujo crescimento médio, nos últimos 40 anos, tem sido da ordem de cinco milhões de ton/ano.

Está difícil pensar o Brasil sem a soja. Sem os mais de 10 bilhões de dólares que agrega anualmente à sua balança comercial, assim como, os outros 50 bilhões de dólares que gera em benefícios indiretos representados, principalmente, por 4,5 milhões de empregos derivados da sua extensa cadeia produtiva que inclui, antes da porteira, a indústria de defensivos, de fertilizantes, de máquinas e de implementos e, depois da porteira, as empresas de transporte, de armazenagem, de processamento e de exportação, para não falar apenas do grande negócio que é o processo produtivo da oleaginosa dentro da porteira, onde 240.000 produtores brasileiros vivem do cultivo da soja.

Está claro que o verdadeiro fenômeno brasileiro não é o Ronaldo e nem o é Ronaldinho, é a soja. Ela fez e faz por este país muito mais do que os penta campeões da bola. Em menos de meio século, a soja evoluiu de uma cultura marginal de pequenos produtores do interior gaúcho, para a principal lavoura do País. Originária da China, ela converteu-se num verdadeiro negócio da China, mas para o Brasil.

           A soja ponteia soberana no contexto do complexo agroindustrial brasileiro e tudo indica que sua hegemonia não será ameaçada em curto prazo, visto que o mercado está francamente comprador e o Brasil é o único país, entre os grandes produtores mundiais da oleaginosa, capaz de aumentar substancialmente sua área de cultivo, podendo mais do que dobrar sua atual oferta do grão no mercado mundial. Um, de cada quatro dólares exportados pelo complexo agroindustrial brasileiro provem da soja, sem considerar que a carne de frango e de porco que exportamos, nada mais é do que soja, com valor agregado.

          Apesar do transtorno causado pela gripe aviária que reduziu o consumo de frango em curto prazo, afetando, conseqüentemente, o consumo de soja, tenham certeza que os consumidores dessa carne logo retornarão e a demanda por soja continuará em alta, mesmo porque, quando um consumidor rejeita um tipo de carne, ele passa a consumir mais outras carnes, também dependentes da proteína de soja. Considere-se, adicionalmente, que também será estímulo ao consumo de soja a utilização do seu óleo na produção de biodiesel, de plásticos, de detergentes, de lubrificantes e de tintas, entre outros, substituindo o petróleo, cada vez mais caro, porque cada vez mais raro.

 Mas, se bem o Brasil vai bem com as riquezas produzidas pela soja, gerando essa montanha de dólares e de empregos referidos anteriormente, o produtor vai mal. Seus custos de produção cresceram perigosamente e os ganhos, quando existentes, são desprezíveis. Ele argumenta que fez a sua parte, gerando riquezas para o País na forma de empregos no campo e na cidade, de dólares com as exportações e de impostos na compra de máquinas para o plantio e a colheita, de veículos para o transporte das safras e de insumos para a produção. Em contrapartida ficou com uma montanha de dívidas.

Mas há quem afirme que o produtor rural sabe plantar e executa bem as tarefas dentro da porteira, mas falha na compra dos insumos de produção e na comercialização da safra. Se bem isto possa ser verdadeiro para muitos produtores e seja uma das causas da crise e, por sinal, solucionável em nível do produtor, existe outras causas, as quais não estão na alçada do produtor resolvê-las: o câmbio desfavorável, por exemplo.

Este tema, assim como outros igualmente importantes foram amplamente debatidos no IV Congresso Brasileiro de Soja, realizado no Centro de Eventos e Exposições de Londrina, entre os dias 5 a 8 de junho de 2006. Esperamos que os destacados conferencistas presentes no evento tenham jogado alguma luz sobre a problemática atual do agronegócio brasileiro, nunca antes enfrentado a um conjunto de fatores tão desfavoráveis.

 

 

 

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