Na Amazônia Ocidental, a exploração pecuária de carne e leite tem nas pastagens cultivadas o principal recurso para a alimentação dos rebanhos. Na época chuvosa, devido a alta disponibilidade e bom valor nutritivo da forragem, observa-se um desempenho satisfatório dos animais. No entanto, durante o período seco ocorre o oposto e, como conseqüência há perda de peso dos animais ou redução drástica na produção de leite. No estado predominam pastagens de gramíneas, destacando-se as de capim-colonião (Panicum maximum), notadamente em solos de média a alta fertilidade natural; jaraguá (Hyparrhenia rufa), brachiaria (Brachiaria decumbens, B. ruziziensis e B. brizantha cv. Marandu), além do quicuio-da-Amazônia (B. humidicola), as quais apresentam algumas restrições agronômicas. O colonião e o jaraguá apresentam reduções acentuadas na produção de forragem durante o período seco. Por outro lado, as brachiarias, exceto a B. brizantha, são muito susceptíveis às cigarrinhas-das-pastagens (Deois flavopicta e D. incompleta) e potencialmente podem causar problemas de fotossensibilização em bovinos e ovinos. O quicuio-da-Amazônia, mesmo sendo resistente ao ataque da referida praga é um excelente hospedeiro para a sua multiplicação, além de apresentar limitações de ordem qualitativa, principalmente proteica.
Uma das alternativas para minimizar a estacionalidade e qualidade da forragem, durante o ano, consiste na consorciação de gramíneas e leguminosas forrageiras, já que estas em relação àquelas apresentam alto conteúdo proteíco, maior digestibilidade, maior tolerância a seca e menor declínio do valor nutritivo com o avanço dos estádios fenológicos da planta. Ademais, através de associações simbióticas com bactérias do gênero Rhizobium podem adicionar quantidades expressivas de nitrogênio ao solo. Cerca de 80% do nitrogênio fixado pela leguminosa pode ser transferido para a gramínea associada via compostos solúveis liberados pela planta, resíduos vegetais e excrementos dos animais em pastejo.
A escassez de gramíneas e leguminosas forrageiras adaptadas às condições edafoclimáticas da região e que formem consorciações estáveis, produtivas e persistentes, tem sido apontada como a principal causa para o uso efetivo de pastagens consorciadas na região. Para as condições ecológicas do estado, foram selecionadas as consorciações de B. brizantha cv. Marandu e Paspalum atratum BRA-09610 com Pueraria phaseoloides e Desmodium ovalifolium, avaliadas sob regime de cortes mecânicos, como bastante promissoras, em termos de produção de forragem, composição botânica e persistência.
No manejo de pastagens consorciadas o principal objetivo é assegurar a produtividade animal a longo prazo, mantendo a estabilidade das mesmas, principalmente da leguminosa, tida como componente mais valioso e instável da associação. Dentre as diversas praticas de manejo de pastagens, a pressão de pastejo e uma das mais importantes, pois influencia diretamente na utilização da forragem produzida, estabelecendo uma forte interação entre disponibilidade de forragem, em função do crescimento das plantas, da intensidade de defoliação e do consumo por parte dos animais. Em associações de gramíneas e leguminosas este efeito é especialmente relevante, devido ao papel decisivo que exerce o balanço entre estes dois componentes da pastagem na produção animal em sistemas de pastejo. A proporção de leguminosas na pastagem é o parâmetro mais pratico para se determinar a taxa de lotação adequada, a qual deve oscilar entre 20 e 40 % para que ocorram efeitos significativos na produção animal. Em pastagens de Setaria sphacelata consorciada com Desmodium intortum, verificou-se que a utilização de 1,11 an/ha, após três anos de pastejo, a consorciação apresentava uma proporção de 50 % de leguminosa e 50 % de gramínea e ausência de plantas invasoras. Já, com 2,96 an/ha a participação da leguminosa diminui de 23 para 6 %, ocorrendo uma percentagem de 43 % de plantas invasoras. Na taxa de lotação baixa os aumentos de peso permaneceram constantes, com rendimentos anuais de 200 kg/ha e 180 kg/an, em relação a 178 kg/ha e 59 kg/an registrados com a taxa de lotação alta. Já, na mistura Andropogon gayanus com Stylosanthes guianensis cv. Bandeirante, observam um decréscimo na proporção de leguminosa de 40 para 16 % com o aumento da carga animal de 1,0 para 2,0 an/ha, depois de um período de pastejo de três anos. Na consorciação de A. gayanus com Centrosema brasilianum CIAT-5234, constatou-se que os maiores rendimentos de forragem e a melhor relação gramínea-leguminosa, durante um período de avaliação de dois anos, foram verificados com carga de 1,5 an/ha em comparação com 3,0 an/ha. Do mesmo modo, foram observadas reduções significativas na disponibilidade de forragem e no conteúdo de leguminosas em pastagens de B. humidicola com D. ovalifolium CIAT-350, a medida em que a carga animal foi incrementada de 2,0 para 3,0 e 4,0 an/ha. Em pastagens de Panicum maximum consorciado com Neonotonia wightii e D. intortum, detectaram-se um declínio na percentagem de leguminosas de 31 para 3 %, como conseqüência do aumento da carga animal de 1,0 para 2,0 vacas/ha, após um período de avaliação de quatro anos. Na mistura de P. maximum com N. wightii, submetida a diferentes cargas (1,3; 1,6; 1,9 e 2,5 vacas/ha), verificaram uma correlação altamente significativa e positiva entre a produção de leite/vaca e a percentagem de leguminosa, a qual decresceu de 37 para 14 % com o incremento da carga animal.
No entanto, as alterações provocadas pela taxa de lotação nem sempre tem o mesmo efeito sobre o balanço graminea-leguminosa. Na avaliação de Urochloa mosambicensis associado com Stylosanthes humilis, observou-se que ao incrementar a carga animal de 0,8 para 2,5 an/ha, a percentagem de leguminosa passou de 8 para 75 %, havendo uma estreita correlação entre a produção por animal e por área com a proporção desta presente na pastagem. Da mesma forma, em pastagens de Hyparrhenia rufa com S. guianensis e P. maximum com Macroptilium atropurpureum, verificou-se que com a utilização de 2 an/ha havia um predomínio da gramínea, ocorrendo o inverso na taxa de lotação alta (5 an/ha). Em pastagens de Setaria anceps consorciada com M. atropurpureum, avaliou-se o efeito de diferentes cargas, variando de 0,8 a 2,8 an/ha e três freqüências de pastejo (quatro dias de pastejo a cada três, seis ou nove semanas), obtendo-se uma interação entre estes dois fatores. Tanto a disponibilidade como a densidade da leguminosa declinaram marcadamente com o aumento da carga animal no sistema de três semanas de descanso, ocorrendo menores decréscimos, mesmo com cargas altas, no sistema de nove semanas de descanso. Da mesma forma, verificou-se que o pastejo contínuo proporcionava maior percentagem de leguminosa com a utilização de 2,25 an/ha na associação de Cynodon dactylon com D. intortum; nas demais taxas de lotação (3,07; 3,90 e 4,73 an/ha), maiores proporções de leguminosa foram obtidas com o pastejo rotativo (7 dias de ocupação e 21 dias de descanso). Em Rondônia, na consorciação de A. gayanus cv. Planaltina com D. ovalifolium, submetida a pastejo rotativo, o aumento da carga animal reduziu significativamente a disponibilidade total da forragem, ocorrendo o inverso quanto aos teores de proteína bruta. A percentagem de leguminosas na pastagem foi diretamente proporcional à carga animal. Considerando-se a disponibilidade e qualidade da forragem e a sua composição botânica, recomenda-se a utilização de 1,5 e 1,0 UA/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco.
A aceitabilidade ou palatabilidade das leguminosas quando em consorciação com gramíneas é um fator de grande importância no manejo da pastagem, tanto no período de maior crescimento (balanço entre os componentes) quanto durante o período seco (disponibilidade e valor nutritivo da forragem disponível). No primeiro período, a leguminosa não deverá ser muito palatável, quando comparada a gramínea, pois e nesta fase que a gramínea tem o máximo desenvolvimento e, por esta razão, a leguminosa deve assegurar e manter sua participação na mistura, visando maior poder competitivo com a gramínea. Algumas espécies como Cajanus cajan, D. ovalifolium, Cratylia florimbunda, Calopogonium mucunoides podem ser relacionadas como sendo de baixa palatabilidade no período chuvoso, contudo no período seco, como a produção e a qualidade da gramínea, geralmente, diminuem, as leguminosas são consumidas pelos animais, inclusive contribuindo como forma de melhorar o aproveitamento da gramínea de qualidade inferior. Avaliando a reciclagem de nitrogênio em pastagens de B. decumbens consorciada com C. mucunoides, submetidas a um sistema de pastejo continuo, observou-se que o consumo da leguminosa pelos animais, durante a fase vegetativa, foi nulo, aumentando, consideravelmente a partir da época de florescimento (maio-junho). Avaliando-se a aceitabilidade relativa de algumas leguminosas forrageiras tropicais, constatou-se que no primeiro trabalho, Stylosanthes guianensis e M. atropurpureum cv. Siratro foram mais palatáveis que Centrosema pubescens, P. phaseoloides e N. wightii. No segundo, todas as leguminosas estudadas tiveram boa aceitação pelos animais, destacando-se entre as mais consumidas N. wightii, P. phaseoloides e M. atropurpureum cv. Siratro. Também foi verificado que M. atropurpureum cv. Siratro era mais consumido pelos bovinos durante o outono, do que na primavera e verão. Este fato pode ser uma das razões de sua boa persistência em diferentes condições ambientais da África e, notadamente na Austrália. Na Amazônia, utilizando bovinos de corte para avaliar a aceitabilidade de leguminosas forrageiras, observou-se que Stylosanthes gracilis e P. phaseoloides foram as mais palatáveis.
Newton de Lucena Costa – Embrapa Amapá