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Reservas indígenas ou agricultura?


Decio Luiz Gazzoni
Há 45 dias, cerca de 50 auto-denominados ativistas, falando em nome de toda a população brasileira, invadiram um laboratório, destruíram equipamentos, interromperam pesquisas de uma década, e levaram os cães cobaias – alguns soltos nas ruas, atropelados ou  vendidos a preços exorbitantes. À época propus que, antes de agir em nome da população, esta deveria ter o direito de se manifestar.

O mesmo ocorre em relação às disputas de terras entre agricultores, quilombolas, índios e assentamentos de reforma agrária. Toda a área cultivada do Brasil (hortaliças, frutas, cereais, oleaginosas, cana, florestas cultivadas, flores, etc) ocupa menos de 75 milhões de hectares (Mha), gerando emprego e renda para 30 milhões de brasileiros, que abastecem 600 milhões de pessoas, aqui e em outros países.
As terras indígenas somam, hoje, 109 Mha, onde, supostamente, vivem 482 mil índios. Entrementes, a grande maioria (crianças, jovens e adultos) vive nas áreas urbanas, nas reservas ficam os idosos e infantes. Para a reforma agrária, já foram destinados, nos últimos 30 anos, 87 Mha. Difícil é conseguir estatísticas do que é produzido nos assentamentos. Confrontando-se com a área agrícola, deveriam alimentar outras 700 milhões de pessoas, mas os números não aparecem.
Quilombolas possuem o direito legal de autodeclararem determinada área como sua, havendo casos em que uma investigação séria demonstrou não corresponder à verdade. E a discussão pode ingressar em questões intangíveis, como um grupo de quilombolas que autodeclarou que, em determinada cascata no interior de uma fazenda, habitava um orixá, portanto atendia o preceito legal de preservação de sua cultura. Logo, a terra era sua. Não queria estar na pele de um juiz que julgasse esta questão.

O exposto é para justificar o título: Falta muito debate neste país. Sobre invasões de laboratórios. Sobre distribuição de terras. Sobre aplicar o dinheiro público, aquele da saúde, segurança e educação em Copa do Mundo. Pior ainda, sobre doar estádios construídos com dinheiro público para times de futebol. Sobre financiamentos do BNDES para ditadores africanos ou sul americanos. Um ano eleitoral, 2014, deveria ser o ano do grande debate.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo. www.gazzoni.eng.br

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