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Reprodução Animal: o Futuro Chegou?


Decio Luiz Gazzoni

Em verdade, em verdade, ainda não chegou e talvez nunca chegue, no sentido de que os avanços científicos e tecnológicos rompem novas barreiras a cada ano, e de sã consciência ninguém pode afirmar que atingimos um patamar de difícil superação. Hoje não há mais condição econômica de prosseguir na atividade a menos que se mantenha um estágio mínimo de atualização tecnológica, pois a base da competitividade tem uma de suas pilastras na modernização tecnológica.

 

Os avanços da pecuária

Os avanços genéticos sempre estiveram de braços dados com a pecuária leiteira e de corte. Aliás, a genética aplicada, o melhoramento genético tiveram na exploração da bovinocultura um de seus mais importantes laboratórios a céu aberto. A diversidade genética do Bos taurus muito contribuiu para tanto, porém o entendimento de que a biodiversidade tinha um componente econômico importante foi a alavanca que permitiu colocar a ciência a serviço da produção de carne e de leite. Inicialmente, foram os trabalhos empíricos de adaptação do gado a micro-climas específicos, que levou à proliferação de raças na Europa, particularmente na Inglaterra. 

 

Depois, houve o desafio de aclimatar a espécie a ambientes bem diferentes, em especial quando a pecuária avançou pelo Novo Mundo, incorporando áreas tropicais e subtropicais à produção. Neste aspecto, as raças zebuínas prestaram uma colaboração ímpar, permitindo a expansão dos rebanhos para áreas que não eram propícias às exigências das raças européias. No entanto a pecuária sempre buscou a sofisticação, utilizando o ferramental genético disponível, ou rompendo as fronteiras da ciência. Primeiro foram os cruzamentos industriais, buscando explorar ao máximo as potencialidades de cada raça, corrigindo defeitos adaptativos ou adequando a oferta às exigências qualitativas do mercado, sempre tendo em vista o aumento da rentabilidade econômica.

 

A inseminação artificial
A inseminação artificial foi o passo lógico na seqüência de busca de melhoria qualitativa e de aumento da rentabilidade, permitindo a expansão quase ilimitada dos rebanhos com base nas características dos melhores reprodutores, abrindo um portfólio de oportunidades aos criadores que desejassem melhorar continuamente seus rebanhos. Serviu também para eliminar barreiras geográficas, ao permitir o transporte do sêmen entre localidades distantes. Foram-se os tempos românticos em que o pião levava a vaquinha ao sítio do compadre para ser coberta pelo touro que havia sido escolhido por critérios empíricos, ou pior, por ser a única opção disponível.

 

O futuro chegando
A necessidade de melhoria não tem limites. Seguiu-se a técnica de divisão de embriões, que permitia aproveitar duplamente as características do pai e da mãe, ampliando também as possibilidades de uso de matrizes superiores, na melhoria da qualidade dos rebanhos. Foi a ante-sala da clonagem, tema da moda até pouco tempo, por haver suscitado discussões éticas profundas e temores de distorção de seu uso, ao vislumbrar-se a possibilidade de utilização da técnica na reprodução humana. Entretanto, do ponto de vista da reprodução animal, abre perspectivas incríveis, ao permitir multiplicar assexuadamente, em número teoricamente ilimitado, matrizes e reprodutores de elevado ganho de peso ou produção de leite. Esta técnica, associada a modelos matemáticos de alta precisão, que permitam associar e interagir as diversas características do animal e do ambiente, e do mapeamento cromosômico, que reportam ao cientista exatamente qual a localização e qual a função de cada gene, abrem perspectivas que pertenciam ao imaginário da ficção científica até pouco tempo.

 

Clonagem de animais
Mas comentamos que a polêmica da clonagem está superada. Superada porque os cientistas romperam uma nova fronteira, que também contém possibilidades ilimitadas. Trata-se da clonagem associada ao "implante" de genes de outras espécies: ovelhas foram clonadas contendo genes de embriões humanos. Aparentemente uma fantasia de cientistas remunerados para brincar com equipamentos sofisticados e de alto custo. Na prática uma gama entusiasmante de novas possibilidades para a biotecnologia, em especial para a farmácia e a medicina. Além de carne e leite, além de ovos, os animais domésticos podem passar a produzir substâncias específicas, encontradas em outras espécies, em especial no Homem, com custo muito reduzido em relação à produção industrial, com melhor controle de qualidade e com menores riscos à Humanidade e ao ambiente. Pode significar a produção em larga escala de insulina, de hormônios de crescimento, de hormônios reprodutivos, ou de outras substâncias essenciais para o desenvolvimento normal do ser humano, e que, por problemas congênitos, encontram-se ausentes ou em baixas doses em determinados organismos. Será mais uma missão nobre de animais domésticos em prol do conforto da Humanidade, e, sem dúvida, um filão de oportunidades para os pecuaristas, que agora também podem ser criadores de hormônios!

 

Ciência e competitividade
Não é apenas no melhoramento genético que a ciência vem contribuindo, mas também na saúde animal e na conversibilidade e qualidade dos alimentos. No entanto, conforme aumentam as perspectivas de melhoria genética, diminuem as constrições à expressão do potencial máximo dos rebanhos, melhorando sua qualidade e sua produtividade, permitindo colocar um animal para o abate precocemente e a um menor custo. Como tal, aumenta a oferta e a disponibilidade da carne e do leite junto aos consumidores. Pela inexorável lei do mercado, este fenômeno significa redução de preços, parcialmente compensada pelo aumento do consumo per capita decorrente do aumento da renda urbana, e da própria queda de preços dos produtos. Porém, este aumento não será suficiente para contrabalançar a tendência histórica de longo prazo, em que os avanços tecnológicos beneficiam num primeiro instante o produtor, mas no instante seguinte também o consumidor. Eis porque afirmávamos acima Os criadores que não atentarem para a modernização tecnológica e para a necessidade do mais elevado estado sanitário de suas criações são sérios candidatos a serem ex-pecuaristas no curto prazo.

 

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