Na Amazônia, as pastagens cultivadas representam o principal suporte alimentar para os rebanhos. Após a derrubada e queima da floresta, as pastagens apresentam excelente produtividade nos primeiros anos, como consequência da incorporaçãoao solo de grandes quantidades de nutrientes contidos nas cinzas da biomassa incinerada. No entanto, com o decorrer do tempo (cinco a seis anos de utilização), verifica-se uma gradativa redução em sua produtividade, podendo redundar na sua degradacao. Este processo se manifesta pela dominância de plantas invasoras, as quais apresentam maior adaptacao as condições ecológicas predominantes na região. Inúmeros fatores contribuem para o processo de degradação, entre os quais, destacam-se a baixa fertilidade natural do solo, baixa adaptabilidade dos ecotipos introduzidos, manejo inadequado e altas pressões bióticas.
Para as pastagens retomarem seus níveis de produtividade originais, devem sofrer um processo de renovação ou recuperação, o que via de regra, representam elevados custos para os produtores, podendo inviabilizar tais processos. Buscando minimizar os custos de reforma de pastagens, vem sendo bastante difundida na Amazônia a prática da reforma da pastagem associada ao plantio de culturas anuais.
A recuperação das pastagens é de grande importância, pois com a sua intensificação pode-se reduzir a expansão em áreas de florestas, propiciando benefícios de ordem ecológica (preservação da floresta), econômica (custo de formação de pastagem maior que o de recuperação) e social (necessidade de mão-de-obra). Pesquisas realizadas na Embrapa Amazônia Oriental apontam alguns aspectos a serem considerados para o êxito da exploração de pastagens em solos ácidos de baixa fertilidade nos trópicos úmidos, tais como: 1) adaptabilidade das gramíneas e leguminosas forrageiras às condições prevalecentes (edáficas-bióticas-climáticas); 2) eficiente capacidade de fixação de nitrogênio e reciclagem de nutrientes; 3) alta capacidade de estabelecimento e persistêcia de pastagem com gramíneas e leguminosas e, 4) intensificação da produção mediante a aplicação de tecnologias de baixo custo. Sendo o estabelecimento ou reforma de pastagens via associação com culturas anuais uma das alternativas viáveis para tanto.
O uso de culturas anuais na formação e/ou renovação de pastagens é uma pratica recomendadaa para diminuir os custos, pois aproveitam-se o preparo do solo e a adubação exigidas pela cultura associada. Na escolha da cultura a ser associada deve-se considerar o seu hábito de crescimento, ciclo, além do método de plantio (densidade e época de semeadura, espaçamento, arranjo espacial etc.), os quais devem ser compativeis com os da planta forrageira, visando minimizar a competitividade entre ambas. Para pastagens de Brachiaria decumbens estabelecidas em associação com a cultura de arroz (IAC-47), cujas sementes foram misturadas e plantadas em sulcos, no espaçamento de 0,5 m entre linhas, constatou-se que a produtividade do arroz oscilou entre 1.000 e 1.350 kg/ha, nao sendo afetada pelos niveis de adubacao fosfatada (0 a 300 kg de P2O5/ha) e nem pelas diferentes densidades de semeadura da forrageira. Os melhores estabelecimentos foram obtidos nas densidades de 1,66; 2,33; 3,00 kg/ha, com populações médias de 15, 19 e 25 plantas da gramínea/m2, respectivamente.
No Pará, pastagens degradadas de capim-coloniao, estabelecidas em solo tipo Latossolo Amarelo (Oxisolo), foram renovadas utilizando-se diferentes métodos de plantio simultâneo de gramineas (Andropogon gayanus cv. Planaltina. Panicum maximum e Brachiaria humidicola) consorciadas com leguminosas (Centrosema pubescens e Calopogonium mucunoides) em associacao com milho (BR-5102) e arroz (IAC-47). A producão de grãos de milho foi de 2798 kg/ha e a de arroz 254 kg/ha, quando plantado na densidade de 20 kg/ha com espacamento entre as linhas de 1,0 m, sendo as forrageiras cultivadas na mesma linha ou no espaço entre linhas. Os rendimentos de forragem de A. gayanus (1766 kg/ha) e de P. maximum (1446 kg/ha) superaram os do B. humidicola (322 kg/ha). Quanto ao método de plantio, as gramíneas forrageiras tiveram melhor desempenho quando cultivadas em linhas espacadas de 1,0 m da cultura associada recebendo adubação na linha. As produções das leguminosas foram afetadas pela espécie de gramínea e pelo método de plantio, sendo os maiores rendimentos obtidos quando em consórcio com A. gayanus (632 kg de MS/ha) e plantadas na mesma linha da cultura precursora, com espaçamento de 2,0 m e as gramineas estabelecidas em linhas distantes 1,0 m destas. Os resultados obtidos demonstraram ser o milho a melhor cultura para associação, principalmente com o A. gayanus. Em pastagens concorciadas de B. decumbens com leguminosas, os rendimentos de arroz foram de 3,5 t/ha, enquanto que as forrageiras produziram 560, 113 e 174 kg de MS/ha para a gramínea, Centrosema acutifolium e Stylosanthes capitata, respectivamente, sendo a participação das plantas invasoras de apenas 175 kg de MS/ha.
No Amapá, foram avaliados diferentes sistema de formação de pastagens em associação com a cultura de arroz. As gramíneas introduzidas foram o A. gayanus e a Brachiaria humidicola, consorciadas ou nao com o guandu (Cajanus cajan) e Desmodium ovalifolium, tendo como cultura precursora o arroz IAC-47, as quais foram semeadas simultaneamente em sulcos. A produtividade do arroz decresceu com o decorrer do tempo, passando de 869 kg/ha de grãos com casca no 1º ano para 64 kg/ha no 3º ano. A associação do arroz com A. gayanus produziu 915 kg/ha de grãos, enquanto que com B. humidicola o rendimento foi de 783 kg/ha; durante o 2º e 3º anos os rendimentos do arroz associado com B. humidicola foram o dobro dos obtidos com A. gayanus. O rendimento de forragem das gramíneas foi de 2,1; 4,4; 3,2 t de MS/ha, respectivamente para o 1º, 2º e 3º anos, sendo a produção total de A. gayanus (7,7 t de MS/ha) superior a de B. humidicola (5,9 t de MS/ha). Quando as gramíineas foram implantadas no 1º ano de cultivo, houve uma redução de custos na ordem de 26% para B. humidicola e de 31% para A. gayanus, comprovando a viabilidade bioeconômica da formação de com a cultura de arroz no primeiro ano de exploração de solos sob vegetação de cerrado no Amapá. Em Rondônia, para o arroz de sequeiro cv. Progresso semeado em associação com gramíneas tropicais, os rendimentos de arroz em casca foram de 2.166; 1.870 e 1.305 kg/ha, respectivamente para os consórcios com B. brizantha cv. Marandu, B. humidicola e Paspalum atratum cv. Pojuca, comparativamente a 2.578 kg/ha quando plantado em monocultura, independentemente do método de plantio (linhas ou à lanço).
A renovação de pastagens em associação com culturas comerciais é uma alternativa viável sob os aspectos agronômicos, econômicos, sociais e ecológicos, desde que sejam adotadas práticas de manejo que envolvam a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras e sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema.
Claudio Ramalho Townsend, Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte)