CI

Renda agrícola familiar tende a ampliar em 2015 e 2016


Climaco Cezar de Souza
Ao contrário da AGRICULTURA EMPRESARIAL, a AGRICULTURA FAMILIAR é bem menos concentrada em CULTIVOS TEMPORÁRIOS (soja, milho, algodão, arroz irrigado empresarial, cana industrial etc..) e bem mais focada em CULTIVOS PERMANENTES ou de médio prazo e também nas carnes e leite (café, mandioca, frutas, hortifruti irrigados ou não; flores/plantas de vasos; cana familiar para cachaça, rapadura etc.; madeiras cultivadas/eucaliptos; bezerros e bois magros; aves, suínos e ovos de forma independente, integrada ou colonial; caprinos/ovinos/peixes; leite/lácteos etc.), boa parte destes para agregação local de valor, ou seja, com possíveis maiores ganhos familiares pelas desintermediações e melhor qualidade. 
Também, a AGRICULTURA FAMILIAR é bem mais diversificada e melhor espacializada do que a EMPRESARIAL. Afinal, são milhares de pequenas propriedades familiares com diversas atividades de forma seqüencial ou se interagindo – inclusive para redução dos custos verticais (ex: milho familiar para suínos e aves familiares etc..) e horizontais (produção de sombra, umidade e de composto/ fertilizante orgânicos pelos animais e para usos agrícolas etc..) - e em quase todos os Estados.   
Já a AGRICULTURA EMPRESARIAL pode-se dizer que ocorre mais em grandes áreas mais caras, mais férteis, mais planas ou semi-inclinadas e com mais chuvas de estados centrais como SP, MT, MS, GO, MG, BA e mais recente no MA, PI e TO. Em geral, nestes locais a AGRICULTURA EMRPESARIAL domina em tamanho das áreas e das escalas produtivas, mas não domina em termos de números de propriedades, sendo cercada por uma imensidão de pequenas e até de médias propriedades familiares. Elas se interagem facilmente e a família rural mais pobre até cede mão-de-obra temporária para a família empresarial mais rica.  Também, muitas vezes, a AGRICULTURA FAMILIAR local pode ser beneficiada com maiores acessos às máquinas, às melhores tecnologias e suas disponibilidades locais e a maior demanda pelos produtos familiares com agregação local de valor, desde que com boa qualidade. 
Contudo, em anos com possível grande produção mundial dos grãos temporários mais dos prováveis estoques elevados desses nos países concorrentes (sobretudo nos EUA e China) e/ou no Brasil, a AGRICULTURA EMPRESARIAL, em geral, sai bem mais prejudicada do que a AGRICULTURA FAMILIAR pelas fortes quedas dos preços e das rendas futuras, também em decorrências dos fatores acima descritos.  
Em diversos anos (como no momento para a Safra mundial 2014/15 de soja e de milho) – ainda não por fatos reais e mais pelos boatos/fatos climáticos e, sobretudo, pelas elevadíssimas e incontroláveis especulações dos fundos, de alguns investidores e até de seguradoras famosas nas bolsas dos EUA  (todos contra os agricultores, mas só do Brasil) -, os preços futuros destas commodities para março a julho do ano seguinte (no caso 2015) já desabam entre agosto e novembro do ano anterior (como é o caso atual) nas Bolsas dos EUA e para níveis até inferiores aos seus custos de produção. 
Exatamente, pela possível atuação nefasta destes fundos, de investidores e até de seguradoras - reduzindo os estímulos, idem os cuidados climáticos, idem as produções e os estoques em 3 a 4 anos –, a agricultura mundial de commodities temporárias como os grãos parece que se tornou cíclica “em si” (quedas dos preços em 3 safras e incrementos nas 3 safras seguintes, ou seja, os fundos e as seguradoras estão sempre ganhando) e “entre si” com quedas dos preços das commodities temporárias em 3 a 4 anos, enquanto ampliam os preços e as rendas das commodities permanentes, semi-permanentes e das carnes/lácteos e de outros alimentos/agro-energias no mesmo período (também, obviamente favorecidas pelos menores custos das rações e por muita atuação dos especuladores, a titulo de criação de liquidez nas bolsas, situação falsa, pois há outras formas para também se gerar liquidez). 
Com isto, os AGRICULTORES EMPRESARIAIS de soja e de milho, que não tenham seguros de renda (já comuns nos EUA e no Canadá em substituição aos seguros apenas de produção, mas inexistentes no Brasil), têm que vender o máximo antecipadamente para entregas futuras às tradings ou  às cooperativas/cerealistas ou trocarem seus grãos futuros por insumos atuais e com altas demandas (como os fertilizantes, de forma a baixarem ao máximo seus custos) ou fazerem proteções imediatas contra as quedas dos preços nas bolsas (hedge) para os meses futuros em que precisarão fazer caixa no Brasil. Na corrente safra 2014/15, a maioria dos EMPRESARIAIS já comprou seus fertilizantes, ou trocou por soja futura, entre janeiro e maio/2014, aproveitando os preços bem menores dos fertilizante à época (estes, em geral, ampliam 30% entre julho e outubro).
Contudo, em 2015 e 2016, no caso dos preços futuros da soja e do milho no Brasil, pelos “fatores carnes e lácteos” (vide ao final), podem não ocorrer grandes quedas dos preços e das rendas dos AGRICULTORES EMPRESARIAIS e mesmo de AGRICULTORES FAMILIARES que a eles se dediquem (situação até comum no RS, PR, SC e parte de GO, MG, SP, MS e TO). Em recente relatório, a renomada Consultoria Informa Economics/FNP estimou que a “Demanda por carne elevará os preços dos grãos no país” (vide mais analises ao final).
Vide:
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vaivem/2014/08/1500666-demanda-por-carne-elevara-preco-de-graos-no-pais-preve-consultoria.shtml
No caso da AGRICULTURA FAMILIAR, em geral, também é bom lembrar que menores preços do milho também podem significar maiores produções independentes mais baratas - e/ou maiores alojamentos integrados - de bem mais suínos, idem de aves, idem de leite, mais caprinos/ovinos, melhor alimentação das famílias, maiores demandas regionais pelos produtos agregados etc.. 
Em 2015 e 2016, outro difícil fator sazonal adicional também tende a beneficiar mais a AGRICULTURA FAMILIAR (para os que colherem) do que a EMPRESARIAL. Desde o inicio de 2014, ocorre uma severa seca localizada em áreas mais centrais de SP mais sudoeste e sul de MG, sul de GO e áreas do sul do MT e leste do MS. A falta de água é tão severa que já falta até para uso humano, principalmente em SP. Em SP, especula-se que a seca atual já é a mais forte em 45 anos e que o Estado deverá demorar pelo menos 2 anos  (até 2016) para recuperar as perdas, isto se voltar a chover regularmente e em bons volumes, proximamente. 
Esta seca continuada, até o momento, está prejudicando bem mais algumas produções localizadas de CULTIVOS PERMANENTES FAMILIARES mais a cana industrial empresarial, do que osCULTIVOS TEMPORÁRIOS EMPRESARIAIS (já colhidos ou a plantar na 2014/15). Também, a bovinocultura de corte empresarial esta sendo prejudicada, o que provoca grande instalação imediata de semi-confinamentos e confinamentos rápidos, sobretudo em SP, GO, MG e MS.   
Com isto os preços atuais do café, da laranja, do açúcar, do boi gordo estão elevando rapidamente nas fazendas e nas bolsas e tendem a permanecer elevados até o final de 2016, caso as chuvas voltem a contento.  Ao subir, os preços do boi gordo, invariavelmente, também puxam para cima os preços das produções familiares de bezerros, das aves, dos ovos, dos suínos e do leite, lácteos, caprinos/ovinos etc.. 
Obviamente, os AGRICULTORES FAMILIARES que não conseguiram colher – ou vão colher menos - devido à seca continuada, mas localizada, podem ser os maiores perdedores, principalmente se afobarem e se venderem rapidamente ou não terem suas dividas prorrogadas/equacionadas.  Em geral, o chamado “efeito manada”, de vendas imediatas e localizadas, muito contribui para reduzir ainda mais os preços praticados naqueles locais, desabando ainda mais as rendas.  EM GERAL, ISTO OCORRE MESMO NUMA SITUAÇÃO DE TENDÊNCIA DE ELEVAÇÃO PROXIMA DOS PREÇOS (pelas menores produções comprovadas e/ou aguardadas), o que bastante ajudaria a sustentar as rendas locais e familiares. 
Também é bom lembrar que as produções permanentes, a maioria FAMILIAR como descrito, tendem a levar bem mais tempo para recuperar suas safras, após as secas e outros danos, do que as produções temporárias.  
A renda dos PRODUTORES FAMILIARES de café tende a ser muito boa nos próximos 2 anos, pois em MG, a quebra atual é de 30% a 35% em algumas regiões. Após produzir 50,8 milhões de sc. em 2012 e 49,1 milhões de sc. em 2013, a safra Brasil 2014 - pelos severos efeitos conjuntos da bienualidade mais da seca - deverá ficar abaixo de 45,0 milhões de sacas, provocando aperto na oferta, e já há preocupações sobre os efeitos da seca para a colheita em 2015 (quase certamente com preços elevadíssimos). Em 2014, o Brasil deverá exportar entre 34,0 milhões e 35,0 milhões de sacas, com consumo interno de 20,0 milhões de sacas. Os estoques de passagem de café do Brasil estão se esgotando e haverá dificuldades para acumular excedentes nos próximos anos.  
Mais 3 fatores muito podem colaborar para as maiores rendas da AGRICULTURA FAMILIAR em 2015 e 2016, a saber: 1) Bem maior demanda externa aguardada pelas carnes, lácteos e outros alimentos familiares processados, em especial pela RUSSIA, conforme já anunciado e em resposta ao bloqueio recente pelos  EUA e Europa no caso da invasão da Ucrânia; 2) Continuidade da ampliação da elevada demanda chinesa por grãos e carnes e, mais recente, até por alimentos processados, também em decorrência da maior confiança negocial adquirida com o Brasil (“guanxi”) e da bem maior parceria comercial futura aguardada, após os recentes acordos operacionais do BRICs; 3) Continuidade do crescimento da demanda interna por carnes, leite/lácteos  e alimentos processados, em decorrência da continuidade da ampliação da renda das famílias urbanas, mais da transferência entre classes de renda e mais do quase pleno emprego.  
ASSIM, NA MÉDIA BRASIL, A RENDA DA AGRICULTURA FAMILIAR TENDE A AMPLIAR MAIS EM 2015 E 2016 (BENEFICAMENTE), ISTO PARA OS QUE ESTARÃO COLHENDO E/OU BEM CUIDANDO.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.