Em Rondônia vem ocorrendo um acentuado processo de “pecuarização”, uma vez que no interstício compreendido entre os anos de 1985 e 1996 (Censo Agropecuário do IBGE) o efetivo bovino apresentou uma taxa de crescimento geométrico próxima a 16% a. a., sendo estimado em mais de 8 milhões de cabeças (IDARON). Neste mesmo período, a área de pastagens cultivadas teve um incremento de aproximadamente 66%, representando hoje, cerca de 4,5 milhões de ha, as quais constituem o principal suporte alimentar dos rebanhos. Desta área, cerca de 40 % apresenta pastagens em diferentes estágios de degradação, o que torna necessário a derrubada de grandes áreas para a manutenção dos rebanhos, resultando numa pecuária itinerante.
A pecuária envolvendo as fases de cria, cria e recria são desenvolvidas na maior parte dos estabelecimentos (92%), onde são adotados os sistemas de criação extensivo e semi – extensivo, aja visto os índices zootécnicos obtidos (taxa de natalidade de 56%, mortalidade de bezerros de 8,5%, idade a primeira cria próxima aos 3,5 anos e de abate aos 4 anos, além da produção média de 2,95 litros de leite/vaca/dia e peso médio de abate de 390 kg). Como, cerca de 35% dos estabelecimentos dedicam-se a pecuária leiteira e apenas 6% desenvolvem a fase de engorda, pode-se inferir que predomine uma pecuária de caracter misto, ou seja, visando a produção de carne e leite, evidenciando-se nas regiões onde os estabelecimentos apresentam área entre 10 e 100 hectares, os quais representam 56,6% do total e 20,5% da área dos estabelecimentos, onde concentra-se 46% do efetivo bovino
Via de regra, as pastagens são estabelecidas em área de floresta, após a derrubada e queima da vegetação original, podendo ser ou não precedida de lavouras. Geralmente, as pastagens são formadas sem qualquer orientação técnica e manejadas inadequadamente (altas taxas de lotação e sistema de pastejo contínuo), além de sofrerem altas pressões bióticas, o que tem contribuído para um rápido e crescente processo de degradação, comprometendo o processo produtivo. Tal tendência vem ocorrendo em estabelecimentos de todos os tamanhos e pode ser explicado, entre outros fatores, pela escassez de mão-de-obra, descapitalização dos produtores e baixos preços praticados com relação aos produtos agrícolas.
A degradação de uma pastagem se manifesta pela queda gradual e constante de produtividade das plantas forrageiras, devido a vários fatores, tais como: a baixa fertilidade dos solos, manejo inadequado das pastagens (altas cargas animal e pastejo continuo), ausência de adubações de manutenção, uso indiscriminado do fogo, compactação do solo e as altas pressões bioticas (pragas, com ênfase às cigarrinhas - das - pastagens, e doenças), o que culmina com a dominância total da área por plantas invasoras, mais adaptadas as condições ecológicas prevalecentes na região. Deste modo, os métodos tradicionais de manutenção, como limpeza e queima das pastagens, tornam-se cada vez mais inócuos.
Visando substituir o uso indiscriminado da queimada no processo de limpeza e manutenção das pastagens, prática bastante difundida entre os produtores de Rondônia, que não tem se mostrado eficiente, além de representar grandes prejuízos ambientais. Surge como alternativa a técnica de Recuperação/Renovação de Pastagens.
O processo de intervenção em uma pastagem visando a sua recuperação/renovação depende de seu estagio de degradação, pois quanto mais avançado for, maiores serão os investimentos necessários. A principio deve-se determinar quais os fatores que estão contribuindo para sua degradação, e adotar medidas de controle específicas para cada caso.
Estratégias de Recuperação
Descanso: vedações em épocas estratégicas, como florescimento e frutificação da(s) espécie(s) forrageira(s) desejada(s), bem como, na fase de germinação das sementes e desenvolvimento das novas plantas; diferimento de pastagem, através da utilização menos intensa ou parcial de alguns piquetes durante os últimos meses do período de chuvas, com vistas a armazenar forragem em pé para alimentação do rebanho durante o período seco, procurando manter uma disponibilidade mínima de 1500 kg de MS/ha;
Ajuste de Manejo: quando for detectado o superpastejo, reduzir a carga animal, podendo ser ajustada com base na capacidade de suporte dos pastos no período seco;
Limpeza: visa o controle de plantas invasoras, pode ser feita através roçada, arranquio ou herbicida, o controle deve ser feito antes do amadurecimento das sementes das invasoras predominantes na pastagem, levando em consideração a eficiência e economicidade;
Subdivisão das pastagens: a divisão racional das pastagens, em piquetes com área máxima de 25 ha, além de facilitar o manejo das pastagens e do rebanho, propicia o máximo aproveitamento da forragem produzida, evitando o desperdício pelo subpastejo ou o rebaixamento excessivo das plantas pelo superpastejo, pois pode-se controlar melhor o sistema planta/animal, a distribuição de bebedouros e cochos para mistura mineral nos piquetes, deve ser feita de tal maneira que proporcione o deslocamento dos animais por toda sua área. No caso de ser adotado sistema de pastejo rotativo, deve-se considerar que: os ciclos de pastejo deverão ser regulados afimde propiciar uma perfeita recuperação das pastagens e acúmulo de reservas, conciliando a produção e qualidade da forragem; em geral, períodos curtos de descanso propiciam forragem de melhor qualidade, no entanto, podem comprometer a longevidade das pastagens, principalmente, quando associados a períodos longos de ocupação. Como indicativos podem ser adotados ciclos de pastejo de 1 a 7 dias de utilização e 28 a 36 dias de descanso, conforme a estação do ano e condições das pastagens. O emprego de cerca elétrica, contribui significativamente na redução dos custos de implantação de sistemas de pastejo rotativo, já que representam aproximadamente 40 a 70% dos custos de construção das cercas convencionais (em torno de 698,00 R$/km), sendo uma excelente alternativa para subdivisão dos pastos.
Calagem e Adubação: serão recomendadas conforme resultados de análise de solo e exigências nutricionistas da(s) espécie(s) forrageiras existente(s) ou a ser(em) introduzida(s), considerando também, o nível de produtividade a ser atingido e sua economicidade, como indicativo de recomendação, pode-se inferir: a calagem para espécies como Brachiaria brizantha (Braquiarão, Marandu, Brizantão), B. decumbens e B. ruziziensis (Braquiarinhas), B. humidicola (Quicuio-da-Amazônia, Quicuio) e Andropogon gayanus (Andropogo) deve visar a elevação de bases à níveis entre 30 e 40%, já para espécies como Panicum maximum (Colonião, Tobiatam, Tanzânia, Mombaça), Cynodon spp. (Estrela Africana, Bermuda, Tifton) e Pennisetum purpureum (Capim - Elefante, Napie, Cameroon) atingir 45 a 50%, dando-se preferência a calcário dolomítico; a adubação fosfatada ficará entre 50 e 80 kg de P2O5/ha, divididos em ½ fonte de alta solubilidade e ½ de baixa solubilidade;
Descompactação do Solo: sendo constatado a existência de camada de empedimento no solo, deve-se proceder sua descompactação, que conforme seu grau será, superficial através de gradagem ou aração leves, ou profunda através de aração profunda ou subsolagem;
Introdução de Leguminosas: visa fornecer N (a fixação biológica pode atingir cerca de 100 kg de N/ha/ano) ao sistema e melhorar a qualidade da forragem consumida pelos animais, na escolha da espécie considerar a sua adaptabilidade as condições edafoclimáticas predominantes no local e a compatibilidade à gramínea que esta sendo consorciada, como espécies promissoras pode-se citar: Pueraria phaseoloides, Desmodim ovalifolium, Stylosanthes guianensis, Arachis pintoi, Leucaena leucocephala;
Introdução de Gramíneas: na escolha da espécie considerar a sua adaptabilidade as condições edafo-climáticas predominantes no local, visando sempre a diversificação das pastagens; considerando-se apenas o nível de fertilidade natural do solo, as espécies de gramíneas forrageiras mais indicadas são: nas condições de média a alta fertilidade Panicum maximum cvs. Comum, Colonião, Mombaça, Vencedor, Centenário,Tanzânia e Massai, Brachiaria decumbens, B. humidicola, B. ruziziensis, B. mutica, B. dyctioneura, B. brizantha cv. Marandu, gênero Cynodon; em solos de baixa fertilidade B. humidicola, B. ruziziensis e Andropogon gayanus cv. Planaltina, novas variedades de gramíneas estão prestes a serem lançadas pela Embrapa, como: Paspalum atratum cv. Pojuca, recomendado para áreas sujeitas a inundação, P. maximum cv. Massai e B. brizantha cv Xaraes;
Renovação em Associação com Culturas Anuais: tem como principal objetivo, minimizar os custos de renovação da pastagem, além de propiciar renda advinda da comercialização de grãos, cultivos simultâneos de gramíneas com arroz de sequeiro e milho, têm obtidos resultados satisfatórios.
Considerando-se a necessidade anual de incremento de 4% e a renovação de 10% da área de pastagem existente em Rondônia, são necessários 180 mil ha para formação e 450 mil ha na recuperação/reforma de pastagens, além do mais, existem cerca de 2,25 milhões de ha que já se encontram e vias de degradação, necessitando de intervenções visando restabelecer sua capacidade produtiva. Com a utilização da Tecnologia de Recuperação/Renovação de Pastagens, espera-se reduzir significativamente o uso da queimada dos pastos, minimizando os efeitos adversos sobre o meio ambiente e aumento na capacidade produtiva das pastagens já existentes, consequentemente diminuindo a pressão sobre a derrubada de novas áreas de floresta.
Claudio Ramalho Townsend (Embrapa Rondônia), Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte)