CI

Quanto vale um barril de água?


Amélio Dall’Agnol

A sociedade finalmente despertou para a seriedade dos problemas ambientais causados pela atividade humana. Mais precisamente, essa conscientização teve início a partir de 1972, quando a ONU realizou a 1ª Conferencia sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 72), em Estocolmo, Suécia. Para análise e deliberações dos conferencistas, produziu-se, previamente ao evento, o documento “Nosso Futuro Comum”, contendo informações sobre as ameaças ao ambiente, representadas pela ação predatória do homem. Vinte anos depois se realizou a ECO 92, dessa vez no Brasil. O documento prévio elaborado pelos especialistas convidados pela ONU (Agenda 21) era integrado por mais de uma centena de projetos indicando soluções para salvar o Planeta no Século 21. Dentre os problemas ambientais considerados, os relacionados com o Clima e a Biodiversidade mereceram destaque, embora outras ameaças ao Planeta, de igual importância, tenham ficado em segundo plano na cobertura dada pela mídia, como, por exemplo, os riscos que pairam sobre o suprimento de água doce e limpa para o consumo da população humana e animal.

Oitenta por cento da superfície terrestre é coberta por água, mas é salgada. Só 2,6% da água do Planeta é doce e 71% dela está congelada nas calotas polares e outros 20% estão escondidos nas profundezas da terra. Só 0,3% da água existente no mundo é utilizada para consumo humano, industrial ou para irrigação. A Bíblia diz que Deus faz chover sobre justos e injustos, mas faltou esclarecer que essa distribuição é territorialmente desigual, pois chove muito em alguns países, enquanto em outros quase nada. O Brasil é o país mais beneficiado por essa água, concentrando 20% do seu total, cuja distribuição territorial é igualmente desuniforme, pois a Região Norte, com 7% da população, concentra 68% da água doce do País, enquanto o Nordeste, com 29% da população, fica com apenas 3%.

Mais de um bilhão de seres humanos sobrevivem sem a cota mínima de água, estimada em 50 litros diários/habitante. Serão mais de dois bilhões até 2020, se nada for feito para contornar o problema. A água tornou-se um bem escasso e conseqüentemente, sujeito a divergências e conflitos. Muitas guerras foram feitas para conquistar territórios, futuros conflitos bélicos poderão acontecer para ganhar mais acesso à água, já que nos últimos 50 anos, a população humana duplicou, mas o consumo de água quadruplicou.

No próximo dia 22 de Março comemoramos o Dia da Água. Será um bom momento para refletir sobre o tema, embora para um brasileiro, rodeado de água por todos os lados, fique difícil compreender como ela possa ser um bem escasso.

A propósito, poderá a água converter-se em commodity e ser comercializada igual se faz hoje com o petróleo? Se isso acontecer, bem aventurados serão os brasileiros que nos sucederão: trocarão um barril de água por outro de petróleo.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.