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Quando falta polinização o prejuízo é certo


Decio Luiz Gazzoni

A polinização é o ato sexual das plantas. As plantas partenocárpicas frutificam sem fertilização, porém, para as demais, sem polinização não há fertilização, logo não há sementes e, normalmente, não há frutos também. Ontem assisti, em São Paulo, a uma excelente palestra do Dr. Peter Kevan, professor da Universidade de Guelph (Canadá), um dos mais brilhantes ecologistas da atualidade, que estuda a polinização. Em sua palestra mostrou que há registros históricos de polinização insuficiente, anteriores ao nascimento de Cristo. Egípcios e assírios estranhavam a falta de frutos da figueira-doida e da tamareira. Solucionou-se o problema de duas formas: fazendo a polinização artificial ou favorecendo a polinização natural.

Quando há déficit de polinização, a produção cai. Em um primeiro instante, o produtor perde dinheiro por produzir menos. No segundo instante, pode se reequilibrar, porque o preço sobe. Mas, com polinização insuficiente, o consumidor sempre pagará preço maior pelo produto.
O déficit de polinização ainda é um problema atual, agravado pelo volume muito maior da produção agrícola. Instado por uma pergunta que lhe fiz, o Dr. Kevan pontuou que o déficit é um problema sério no Canadá, como no resto do mundo, o que fomentou grandes negócios de empresas que se dedicam a produzir polinizadores e vendê-los a agricultores – como se vende adubo ou semente. De acordo com ele, as principais causas atuais do déficit são: a) perda do habitat dos polinizadores, pelo avanço da agricultura, cidades, estradas ou indústrias sobre a vegetação nativa: b) pragas que atacam os polinizadores, efetuando seu controle biológico, tão importante para controlar pragas agrícolas, mas totalmente indesejável quando mata polinizadores; c) mudanças climáticas globais, que afetam tanto o polinizador diretamente quanto suas fontes de alimentos; d) operações agrícolas adversas, especialmente uso inadequado de agrotóxicos.
O desafio é enorme, mas não intransponível. O problema é global e a solução também, mas cada país, cada agricultor, precisa fazer sua parte, com ações que garantam as melhores condições possíveis para os polinizadores atuarem, auxiliando a obter alta produtividade na agricultura.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja e membro do CCAS. www.gazzoni.eng.br

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