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Produtividade de Leguminosas Forrageiras sob Sombreamento de Eucalipto



Newton de Lucena Costa

Em Rondônia, a pecuária de corte e/ou é uma das atividades de maior expressão econômica do estado. O suporte alimentar dos rebanhos é constituído, basicamente, por pastagens cultivadas, as quais apresentam limitações quanto a produtividade e qualidade da forragem, face a utilização de práticas de manejo inadequadas (germoplasma pouco adaptado a região, sistema de pastejo contínuo e elevadas cargas animal etc.), baixa fertilidade dos solos, incidência de pragas, principalmente a cigarrinha-das-pastagens (Deois incompleta e D. flavopicta). Ademais, a ocorrência de um período seco bem definido, implica na obtenção de rendimentos de forragem extremamente baixos, reduzindo, consequentemente, a capacidade de suporte das pastagens. Estes fatores, isolada ou conjuntamente tem contribuído decisivamente para o inicio do processo de degradação das pastagens, tornando-se necessário a derrubada de novas áreas de florestas para a manutenção dos rebanhos. Nesse contexto, os Sistemas Silvipastoris (SS) é uma das alternativas que pode otimizar a utilização racional e econômica dos recursos naturais, fornecendo produções contínuas de madeira, alimentos e forragens, alem de diminuir os impactos ecológicos. A adoção de SS pode consolidar ou aumentar a produtividade dos estabelecimentos agropecuários, das mais diversas dimensões ou, pelo menos, evitar que ocorra a degradação mais acentuada do solo e das pastagens, bem como a diminuição da produtividade com o decorrer dos anos. Neste trabalho avaliou-se o desempenho agronômico de leguminosas forrageiras tropicais, sob sombreamento de eucaliptus, visando selecionar as mais promissoras para a formação de pastagens em sistemas silvipastoris.

O ensaio foi conduzido no Campo Experimental da Embrapa Rondônia, localizado no município de Porto Velho, durante o período de dezembro de 1996 a março de 1998. O clima da região e tropical úmido do tipo Am, com estação seca bem definida (junho a setembro), pluviosidade anual entre 2.000 e 2.500 mm; temperatura média anual de 24,9 graus C e umidade relativa do ar de 89%. O solo da Área experimental é um Latossolo Amarelo, textura argilosa, com as seguintes características químicas: pH em água (1:2,5): 4,1; Al: 2,5 cmol/dm3; Ca mais Mg: 1,6 cmol/dm3; P: 2 mg/kg e K: 65 mg/kg. O delineamento experimental foi em blocos casualizados com três repetições. Os tratamentos consistiram de dez leguminosas forrageiras (Pueraria phaseoloides CIAT-9900, P. phaseoloides BRA-0612, Desmodium ovalifolium CIAT-350, Arachis pintoi, Centrosema macrocarpum CIAT-5062, C. macrocarpum CIAT-5065, Stylosanthes guianensis cv. Mineirão, S. guianensis var. Vulgaris, Calopogonium mucunoides cv. Comum e C. mucunoides CPAC).

O plantio foi realizado durante a primeira quinzena de dezembro de 1996, em uma área estabelecida com eucaliptus há cerca de 12 anos, no espaçamento de 3 x 3 m. A adubação de estabelecimento constou da aplicação de 50 kg de P2O5/ha, sob a forma de superfosfato triplo. A densidade de semeadura foi de 3,0 kg de sementes/ha (Valor Cultural de 70%). Cada parcela foi constituída por quatro linhas de 4,0 m de comprimento, espaçadas de 0,5 m, utilizando-se as duas linhas centrais como área útil e como bordadura uma linha em cada lateral e 0,5 m nas extremidades. Os cortes foram realizados mecanicamente, a intervalos de 12 e 16 semanas, respectivamente para os períodos chuvoso e seco, sendo o material colhido, após pesado, devolvido as parcelas. Os parâmetros avaliados foram altura das plantas, percentagem de cobertura, rendimento de matéria seca (MS) e composição química da forragem (teores de nitrogênio, fósforo, cálcio, magnésio e potássio). Durante o período experimental foram realizadas quatro avaliações, sendo três durante o período chuvoso e uma no período seco.

Das espécies avaliadas, S. guianensis cv. Mineirão e S. guianensis var. Vulgaris não conseguiram se estabelecer, provavelmente como consequência dos efeitos alelopáticos exercidos pelo eucaliptus sobre as mesmas. Doze semanas após o plantio, as espécies que se destacaram com maiores percentagens de área coberta (85 a 100%) foram C. macrocarpum CIAT-5062, D. ovalifolium CIAT-350, P. phaseoloides BRA-0612 e CIAT-9900, C. mucunoides cv. Comum e CPAC. Com relação a ocorrência de pragas, detectou-se um leve ataque (5 a 10% de danos) de insetos do tipo comedores (vaquinhas), notadamente nas espécies do gênero Centrosema, Pueraria e Desmodium.As maiores alturas de plantas, independentemente das estações do ano, foram registradas em D. ovalifolium, C. macrocarpum CIAT-5062 e CIAT-5065. Durante o período chuvoso, as espécies que se destacaram com 100% de área coberta foram P. phaseoloides BRA-0612, C. mucunoides CPAC e D. ovalifolium; já, durante o período seco apenas D. ovalifolium manteve seu percentual de área coberta, enquanto que para os genótipos de Calopogonium, além de A. pintoi, observou-se uma drástica redução na percentagem de área coberta, a qual oscilou entre 5 e 20%, evidenciando baixa adaptabilidade às condições edafoclimáticas prevalescentes. Nos dois períodos de avaliação, os maiores rendimentos de MS foram fornecidos por D. ovalifolium CIAT-350, seguindo-se P. phaseoloides BRA-0612 (1321 kg/ha) e P. phaseoloides CIAT-9900 (827 kg/ha), respectivamente para os períodos chuvoso e seco. Independentemente das épocas de avaliação, A. pintoi cv. Amarillo e C. mucunoides cv. Comum e CPAC foram as espécies menos produtivas. Todas as espécies avaliadas apresentaram crescimento estacional, sendo esta característica mais acentuada em A. pintoi cv. Amarillo e C. mucunoides cv. Comum e CPAC, as quais, durante o período seco, contribuíram com apenas 23; 22 e 34% do total de forragem produzida durante o ano. Já, as espécies que apresentaram a melhor distribuição estacional da produção de forragem foram C. macrocarpum CIAT-5065, P. phaseoloides CIAT-9900 e D. ovalifolium. Estes resultados confirmam as observações relatadas em outros trabalhos, onde constatou-se excelente desempenho agronômico de D. ovalifolium e P. phaseoloides, submetidas a sombreamento por pinheiros e coqueirais, respectivamente.

Durante o período chuvoso, os teores de cálcio e potássio não foram afetados pelas leguminosas avaliadas. O maio teor de nitrogênio foi obtido por A. pintoi cv. Amarillo; os de fósforo por D. ovalifolium CIAT-350 e C. mucunoides cv. Comum, enquanto que P. phaseoloides BRA-0612, D. ovalifolium CIAT-350 e C. mucunoides CPAC forneceram as maiores concentrações de magnésio. No período seco, os teores de todos os nutrientes foram superiores aos registrados no período chuvoso, possivelmente como consequência de um efeito de concentração, em função da menor produção de forragem. Os maiores teores de nitrogênio foram verificados em A. pintoi cv. Amarillo e C. macrocarpum CIAT-5062; D. ovalifolium CIAT-350 forneceu as maiores concentrações de fósforo e cálcio, enquanto que o maior teor de magnésio foi obtido com P. phaseoloides BRA-0612. Já, os teores de potássio não foram influenciados pelas leguminosas avaliadas. As concentrações verificadas neste trabalho superaram em mais de 50% aquelas reportadas para as mesmas leguminosas a pleno sol.

As leguminosas avaliadas apresentaram respostas distintas às condições de sombreamento por eucaliptus; considerando-se os rendimentos e a distribuição estacional de forragem, composição química e cobertura do solo, as leguminosas mais promissoras para a formação de pastagens em sistemas silvipastoris foram D. ovalifolium CIAT-350, P. phaseoloides CIAT-9900 e BRA-0612 e C. macrocarpum CIAT5065.

Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá); João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte); Claudio Ramalho Townsend; Ricardo Gomes de A. Pereira (Embrapa Rondônia)

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