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Plástico quase vivo


Decio Luiz Gazzoni
        Meu avô mal conhecia plásticos, meu pai os queria, eu os exijo biodegradáveis, meus filhos os veem regeneráveis, meu neto... vivo! Imagine que você não pagou a gorjeta ao cuidador de carros e ele risca um prego no para-choque plástico do seu carro. Quando você volta, a peça preta está vermelha na região do risco, feito uma ferida no seu braço. Mágica? Arthur Clarke já dizia que qualquer tecnologia avançada se confunde com magia.

        Depois do plástico biodegradável, de cana ou milho, agora temos um plástico que cicatriza, sem deixar cicatrizes: ele se regenera. Invenção apresentada num Congresso de Química pelo Dr. Marek Urban, da Universidade do Sul do Mississippi. Quimicamente plásticos são polímeros, ou seja, uma repetição ad nauseam de uma mesma molécula básica. O plástico que se regenera é um polímero que, entre estas moléculas básicas, tem pequenas pontes moleculares. Quando o plástico é danificado – o risco do guardador de carro – as pontes se quebram, mudam sua forma e sua cor. É a tal mancha avermelhada, parecida com a marca da picada de mosquito no braço ou no rosto. Sua função primeira é o alerta: Houston, temos um problema! (Filme Apollo 13).
O leitor já percebeu a vantagem: o problema fica claro, evidente, disparando a sequência de ações para seu conserto. No caso do carro, ela até pode esperar uma semana. Mas, e se for na asa de um avião? Sabendo deste fato, você viajaria em um avião, olhando pela janela e vendo a mancha vermelha sobre a asa?

        Mas a segunda e maior vantagem vem agora. No local da mancha vermelha (o sangramento) aplica-se o remédio, que pode ser um facho de luz em uma determinada frequência (ultravioleta, infravermelho), raio X, a própria luz solar, uma substância com acidez na dose certa ou contendo uma determinada molécula química e SHAZAM! (epa, esta é do tempo que o plástico não existia!) num passe de mágica a estrutura polimérica do plástico é recuperada e tudo volta a ser como dantes, no quartel de Abrantes. E o plástico pode ser feito com água mais amido de milho ou bagaço de cana. Parece coisa de Mandrake, mas é obra do cientista Marek Urban. Daí ao plástico vivo que se regenera automaticamente só depende de mais incentivo à Ciência.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
 

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