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Pesquisa, desenvolvimento e o futuro do agronegócio


Decio Luiz Gazzoni

Em 2004 o PIB do agronegócio será de R$537 bilhões, um crescimento de 5,8%, contra 6,5% do ano anterior. Como o agronegócio representa um terço do PIB nacional, sem a sua contribuição a economia brasileira teria encolhido 2,5% em 2003, ao invés dos 0,2% verificados. Com tal grau de maturidade, o agronegócio necessita de gestão profissionalizada, inclusive nos enlaces entre Ciência e Tecnologia e a sustentabilidade do agronegócio nacional. Apenas a contribuição das tecnologias da Embrapa representou um adicional de US$4 bilhões na renda dos produtores de grãos, em 2003. Analisamos, a seguir, alguns desafios da C&T do agronegócio, sem pretender esgotar o assunto.

Tendências do agronegócio

Conviveremos, por longo tempo, com os subsídios dos países ricos e, até a eternidade, com crescentes exigências ambientais. Os mercados tornam-se progressivamente mais competitivos, apesar do crescimento da demanda, em especial por novos produtos e do aumento do comércio internacional de agro-produtos. O desafio a enfrentar é a constituição de um sistema de Pesquisa, Desenvolvimento, Inovação e Empreendedorismo (PDI&E) calcado na competitividade e na proteção ambiental, integrando órgãos públicos e a iniciativa privada. Tecnologia adequada é a grande arma de que dispõe o produtor brasileiro para enfrentar os subsídios dos países ricos.

Tendências de consumo

O consumidor moderno tem consciência de seus direitos. O acesso amplo à informação está provocando alterações nos padrões de consumo de alimentos, com tendência à diversificação. Aumentam as pressões de organizações sociais e as exigências éticas e de qualidade no processo de produção. O desafio para a PD&I é assestar o foco no cliente final e dispor de capacidade de antecipar tendências e mudanças de hábitos de consumo.

Tendências do meio ambiente

O agronegócio do futuro terá seu destino indelevelmente associado à preservação ambiental. A preocupação com os efeitos negativos dos impactos ambientais incorpora-se no dia a dia dos negócios, exigindo tecnologias que protejam ar e solos, preservem a fauna e a flora e, particularmente, promovam melhor gerenciamento do uso da água. O desafio a enfrentar é o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, tanto do posto de vista econômico quanto social e ambiental, ou seja, produzir mais e melhor, com respeito ao capital ambiental e ao Homem.

Tendências tecnológicas

Antecipa-se a inevitabilidade da ampliação do uso de produtos derivados da biotecnologia e o crescimento da pesquisa em biofármacos, com mudança de foco gradual da indústria química. Outra vertente importante é a bioenergia e a química verde a ela associada. Independentemente do ramo do agronegócio, ganham importância os processos de certificação e de rastreabilidade.

Invariantes

Existem algumas “boas apostas” que podem ser feitas, como a urbanização, a desaceleração do crescimento populacional, a elevação do nível educacional da população - inclusive nas áreas rurais - e a maior consciência relativamente ao meio ambiente e ao desenvolvimento social. Neste particular, aumenta o poder de pressão dos movimentos sociais, conjuntamente com o acirramento da competição pelos mercados, o que conduzirá a maiores exigências do mercado consumidor, impondo diferenciais de competitividade que devem ser providos por investimentos em C & T.

Quo vadis?

O agronegócio crescerá como um conjunto, mas alguns segmentos serão mais atrativos. A grande aposta é a agricultura energética, atualmente um nicho de mercado, que será o maior componente do agronegócio, em algumas décadas. Alimentos tradicionais serão gradativamente substituídos por alimentos funcionais, mesclando os conceitos de saúde e nutrição. A exigência de melhor qualidade de vida impulsionará o mercado de flores e ornamentais, especialmente nos países ricos. O ponto de união entre os três segmentos será a transversalidade dos processos biotecnológicos, que dominarão os mercados de produtos e insumos, em um futuro tão próximo que já é quase o presente. E o agronegócio será modulado pela excelência de seus sistemas de PD&I e de defesa agropecuária.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage www.gazzoni.pop.com.br

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