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Parte 4. Redução de Queimadas em Pastagens da Amazônia Ocidental. Leguminosas forrageiras na recuperação de pastagens



Newton de Lucena Costa

A prática da queimada é utilizada para a limpeza da pastagem em substituição à roça, devido ao baixo custo operacional. A utilização de queimadas em pastagens cultivadas tem como objetivo eliminar restos de massa seca com grande proporção de talos que não foram consumidos pelos animais durante o período seco e, ao mesmo tempo, proporcionar uma nova rebrota, com forragem de melhor qualidade. As alternativas tecnológicas desenvolvidas para a recuperação de pastagens degradadas contemplam, em sua grande maioria, correção e adubação do solo, associadas à sua movimentação, com implementos agrícolas para a remoção de possíveis camadas compactadas de solo. Outra alternativa consiste na introdução de leguminosas, a qual além de incrementar a produção e qualidade da forragem produzida, por sua capacidade de fixação de nitrogênio, reduz a perda de peso doa animais durante o período seco. No entanto, a permanência da leguminosa na pastagem depende da exclusão da queima, uma vez que um dos efeitos deletérios do fogo é a destruição das leguminosas.

O preparo do solo através da aração e gradagem constitui sempre o melhor processo para o estabelecimento de leguminosas em pastagens degradadas. O fator mais importante é o controle do vigor da vegetação. O controle de sua agressividade dará maior chance de sobrevivência às plântulas recém-estabelecidas, reduzindo a competição por água, luz e nutrientes. O superpastejo antes ou após a semeadura da leguminosa tem sido utilizado como alternativa eficaz para reduzir a agressividade da cobertura existente. Quando o pastejo é realizado após o plantio pode ajudar a enterrar as sementes através do pisoteio e movimentar o solo, criando microrelevos que auxiliarão no estabelecimento, principalmente pelo aumento da superfície de contacto entre a semente e o solo. Em pastagens de capim-gordura (Melinis minutiflora), utilizando-se o superpastejo para reduzir a competição da vegetação, o plantio em sulcos foi o método mais eficiente para a introdução de Macroptilium atropurpureum cv. Siratro, Desmodium intortum e Centrosema pubescens.

A aração foi o método mais eficiente para a introdução de Calopogonium mucunoides em pastagens degradadas de Brachiaria decumbens, a qual propdocionou a melhor relação gramínea-leguminosa. Um ótimo estabelecimento de Pueraria phaseoloides e Desmodium ovalifolium, respectivamente, em pastagens de B. decumbens, foi obtido com a utilização da aração mais a gradagem em toda a área. No entanto, o preparo do solo em faixas pode ser uma alternativa a ser utilizada, visando reduzir os custos da recuperação. Sugere-se faixas de 2,5 leguminosa como a melhor alternativa para a introdução de P. phaseoloides em pastagens degradadas de B. decumbens. Em solos de baixa fertilidade natural, a utilização exclusiva de métodos físicos pode ser insuficiente para a recuperação da pastagem. Neste caso, torna-se indispensável assegurar um adequado suprimento, notadamente daqueles nutrientes limitantes à produção de forragem. Em Rondônia, pastagens de B. humidicola, recuperadas com a introdução de leguminosas (P. phaseoloides, Stylosanthes guianensis e C. pubescens) apresentaram maiores rendimentos de forragem com a aplicação de até 75 kg de P2O5/ha. O sucesso no estabelecimento de leguminosas em pastagens degradadas pode estar diretamente correlacionado com sua densidade de semeadura. A utilização de 20 sementes viáveis/m2 foi suficiente para o estabelecimento de M. atropurpureum cv. Siratro em pastagens de B. humidicola, sem qualquer interferência mecânica. Para pastagens degradadas de B. decumbens, independentemente da densidade de semeadura de S. guianensis cv. Mineirão (0,5; 1,0 e 2,0 kg/ha), a utilização da grade aradora + grade niveladora, seguida da passagem de rolo compactador foi o método que permitiu o melhor estabelecimento da leguminosa.

O desempenho animal, em pastagens recuperadas com a introdução de leguminosas, geralmente, está diretamente correlacionado com o estabelecimento e a sua participação na composição botânica da forragem em oferta. A introdução de M. atropurupureum e Neonotonia wightii, em pastagens de P. maximum, em vias de degradação, permitiu elevar a capacidade de suporte de 0,35 UA/ha para 0,81 e 1,1 UA/ha, respectivamente para o primeiro e segundo ano de utilização. Em pastagens de B. decumbens degradadas, a introdução de Centrosema macrocarpum CIAT-5713 e de C. acutifolium CIAT-5568, resultou em ganhos de 830 kg/ha/ano e 607 g/animal/dia, comparativamente a 550 kg/ha/ano e 451 g/animal/dia obtido na pastagem não recuperada. No Pará, o estabelecimento de P. phaseoloides, C. pubescens e S. guianensis em pastagens degradadas de Panicum maximum proporcionou incrementos de 16 e 63%, respectivamente para os ganhos de peso vivo/animal/ano e hectare/ano. Utilizando-se as mesmas leguminosas, em Rondônia, os acréscimos foram de 46 e 40% nos ganhos de peso vivo/ha/ano, respectivamente para pastagens degradadas de Hyparrhenia rufa e B. humidicola. No Acre, constatou-se a viabilidade da recuperação de pastagens de P. maximum através da introdução de leguminosas, associadas à fertilização fosfatada (50 kg de P2O5/ha), independentemente da carga animal utilizada, a qual resultou em incremento de 69% no ganho de peso/área (150 vs. 253 kg/ha/ano).

A recuperação de pastagens degradadas pode ser tecnicamente viável através da introdução de leguminosas forrageiras. Para tanto, torna-se imprescindível a adoção de práticas de manejo adequadas que assegurem um satisfatório estabelecimento, produtividade e persistência das espécies introduzidas (métodos de plantio, rebaixamento da vegetação com cultivo mecânico e/ou químico, densidade de semeadura, fertilização fosfatada etc.). Contudo, a utilização de germoplasma forrageiro com baixos requerimentos em nutrientes, paralelamente com sistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, devem ser considerados como a chave para assegurar a produtividade das pastagens e dos rebanhos, por períodos de tempo relativamente longos, nas áreas sob floresta do trópico úmido brasileiro.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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