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Papaya


Decio Luiz Gazzoni

Durante a discussão do projeto de Lei de Biossegurança, um dos exemplos que evidenciou o anacronismo e o obscurantismo da legislação brasileira sobre OGMs foi a impossibilidade de testar, no campo, uma nova variedade de mamão papaya, desenvolvida pela Embrapa através de técnicas de biotecnologia, resistente a uma virose devastadora - a mancha anelar. O teste teve que ser feito nos EUA, cuja legislação admite a pesquisa científica e tecnológica, mesmo considerando a rigidez da legislação de biossegurança americana.

EUA

Em 1996, as plantações de papaya do Hawai quase foram aniquiladas pela mancha anelar. Os cientistas americanos introduziram no genoma de três variedades de mamão (Laie Gold, Sun Up e Rainbow) um gene do próprio vírus que ataca o fruto. Esse gene produz uma proteína que "encapa" os cromossomos do vírus. Como a planta transgênica produz essa proteína, o seu sistema de defesa reage fabricando anticorpos, imaginando tratar-se de infecção do próprio vírus. Assim, quando o vírus, transmitido aos mamoeiros por pulgões, realmente infecta a planta, o seu exército de defesa já está mobilizado, repelindo o invasor. Quem vislumbrou semelhança com as vacinas aplicadas em humanos acertou em cheio: foi essa mesmo a inspiração. Enquanto os americanos solucionaram seu problema e viabilizaram o cultivo do mamão, o agricultor brasileiro paga o preço de não poder valer-se da mesma tecnologia de ponta.

Pragas

O apelo à biotecnologia para produzir variedades resistentes é efetuado quando existem sérios entraves à sua obtenção através de métodos convencionais. Para a maioria das doenças que atacam o mamoeiro, como a mancha de fitófora, existe variabilidade genética que permite identificar tipos de mamão selvagem, sem valor comercial, com características de resistência a enfermidades. Uma vez identificada a fonte de resistência, esse atributo é transferido para variedades que possuem alta aceitação dos consumidores.

Formação do pomar

Ciência não se resume à biotecnologia. O mamoeiro pode formar apenas flores macho ou fêmeas, ou então produzir flores perfeitas, que são aquelas que produzem os frutos preferidos pelos consumidores. Os estudos demonstraram que, plantando 5 mudas por cova, existe 97% de probabilidade de que uma das plantas produza flores perfeitas. O agricultor seleciona as plantas com flores perfeitas a partir da formação dos botões florais, entre 3 e 6 meses após o plantio. Mesmo assim, em 3% das covas, todas as plantas são eliminadas. Através da técnica de micropropagação, é possível testar a plântula ainda no laboratório, gerar a muda em estufa, e levar ao campo apenas aquelas que produzirão flores perfeitas. Além de reduzir os custos e agilizar o plantio, as plantas provenientes de micropropagação permitem a colheita entre 1 e 3 meses antes das mudas convencionais. Maiores informações podem ser obtidas com a Embrapa ou com engenheiros agrônomos da assistência técnica.

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