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Os porquês da alta dos alimentos


Amélio Dall’Agnol

No Brasil, por sermos grandes produtores de grãos e carnes, o impacto está sendo menor do que na maioria dos demais países. Mesmo assim, também o consumidor brasileiro está sentindo a diferença dos preços vigentes em 2005/06, comparados aos de 2007/08. E para piorar, análises prospectivas realizadas por organismos nacionais e internacionais indicam que os preços permanecerão altos por muitos anos ainda. Pior, eles jamais recuarão aos valores anteriores, pela simples razão de que os custos para produzi-los cresceram na mesma velocidade dos preços de venda.

Com melhores perspectivas de renda, o produtor rural deverá reagir e disponibilizar mais alimento, embora não possa fazê-lo de imediato, principalmente na produção de carne bovina, de vez que no período de preços baixos, o produtor foi obrigado a sacrificar as vacas que produzem os bezerros, para sobreviver. Sem a vaca não há bezerro e sem bezerros não teremos novilhos para o abate. Simples assim.

Hipocritamente, muitas organizações e indivíduos, mundo afora, se levantaram contra a produção de biocombustíveis, culpando-os pelo aumento no custo dos alimentos, o que é uma falácia. Se bem os biocombustíveis têm lá sua cota de responsabilidade na alta do preço da comida, principalmente o etanol feito de milho e trigo, sua culpa é marginal.

Até o mais humilde cidadão sabe que a causa principal do movimento altista dos alimentos está no desequilíbrio entre a oferta e a demanda e que parte desse desequilíbrio poderia ser creditada ao desestímulo à produção, por causa do baixo preço dos produtos agrícolas dos últimos anos. É importante que se esclareça aos consumidores urbanos que reclamam da alta dos alimentos, que seu preço ainda está baixo. Estudo da LMC International indica que de 1974 até 2001, o preço de alguns produtos estudados (milho, trigo, açúcar e óleos vegetais) caiu, em média, 2% ao ano (54% no período). Se o estudo continuasse, indicaria que os preços continuaram caindo até 2006.

A bem da verdade, se não ocorresse a atual recomposição de preços, haveria falta de alimentos, pela simples razão de que não haveria quem quisesse produzi-los. Portanto, é melhor ter comida mais cara, do que não ter comida alguma. Durante muitos anos o cidadão urbano comeu barato, enquanto o produtor rural empobreceu, se marginalizou. Trabalhou para colher prejuízos. Muitos, além de sacrificar as vacas que geram os bezerros, também venderam as suas terras e migraram para a periferia das cidades, onde constituem mão de obra desqualificada. Mas, pobre por pobre, na cidade se vive melhor. Lá tem até bolsa família.

As causas do desequilíbrio entre a oferta e a demanda de alimentos são muitas, mas a principal delas é o crescimento econômico dos países em desenvolvimento, particularmente do bloco conhecido por BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o qual responde por quase 50% da população mundial, 20% da área do Planeta e 15% do PIB global. Crescimento da economia significa aumento da demanda, inclusive de alimentos. Estudos indicam que a renda/cápita dos países em desenvolvimento cresceu 7,1% na última década, contra apenas 2,2% dos países desenvolvidos. Outro dado mostra que em 1990, 32% da população global não ingeriam a quantidade de calorias diárias necessárias. Hoje, é de apenas 15%. Nesse período, somente a China incorporou 400 milhões de cidadãos ao mercado de consumo. Esses novos consumidores, somados aos seis milhões que nascem todo o mês, pressionam a demanda e a lei é clara: se a demanda é maior do que a oferta, o preço sobe.

Além do crescimento econômico, que promoveu o aumento da renda/cápita, que promoveu o aumento do consumo, não podemos deixar de acrescentar outros fatores como responsáveis pela escalada dos preços dos alimentos, dentre os quais se destaca o aumento do custo de produção: o petróleo, que fornece o diesel usado no trator que cultiva a terra, no caminhão que traz os insumos e leva a produção e na colhedora que recolhe os grãos do campo, cresceu 350% - apenas nos últimos cinco anos. O minério de ferro, que fornece o aço usado na fabricação das máquinas e dos implementos agrícolas, cresceu 330% no mesmo período. Como produzir sem repassar esses custos ao produto final?

Ademais das causas já citadas, podemos enumerar outras, não menos importantes, nessa guerra de preços:

* Subsídios à produção agrícola dos países ricos, o que desestimula a produção nos países mais pobres,
* Redução da área agrícola, em função do crescimento das áreas urbanas, das áreas de preservação ambiental, das áreas de parques e de rodovias,
* Estoques mundiais de alimentos em queda (nunca estiveram tão baixos),
* Desvalorização do dólar frente a outras moedas (inclusive o Real),
* Especulação financeira dos fundos de investimento com commodities agrícolas (a produção mundial de trigo, milho e soja de 2007 foi vendida, respectivamente, 4.5, 9.4 e 19.6 vezes na Bolsa de Cereais de Chicago), e
* Mudanças climáticas provocando estiagens (Austrália e Ucrânia em 2007) e inundações (EUA em 2008).

Pode parecer provocação, mas a alta do preço dos produtos agrícolas foi uma bênção para o Brasil. Nunca o cenário nacional e mundial foi tão favorável ao País, principalmente na produção de alimentos e de bioenergia. Tudo conspira a favor do desenvolvimento econômico e social do Brasil, que tem o que o mundo moderno mais precisa: minérios, alimentos e energia.

O que mais nos diferencia dos concorrentes, é nossa capacidade para produzir mais, muito mais. Nossos produtores estão entre os mais dinâmicos e arrojados do mundo, necessitando, apenas, de ferramentas e de estímulos para avançar. O Brasil tem terra, clima e tecnologia para produzir em regiões tropicais, onde há muita luz e calor, o que favorece a produção de dois ou até três cultivos na mesma terra e no mesmo ano.

Já somos o primeiro produtor mundial de café, açúcar, feijão e suco de laranja; o segundo de soja, carne bovina, tabaco e etanol; o terceiro de milho, frutas e carne de frango e o quarto de carne suína. Mas, apesar de primeiro produtor de apenas quatro produtos agrícolas, o Brasil lidera na exportação de oito: soja, café, açúcar, carne bovina, carne de frango, suco de laranja, tabaco e etanol, e sinaliza com potencial para ir muito além, na eventualidade de o mercado continuar em alta e favorecendo a renda dos produtores.

O setor agro-industrial brasileiro cresce significativamente há décadas, resultado da expansão da área de produção e, principalmente, do aumento da produtividade. Hoje, o setor responde por cerca de 24% do PIB nacional, pela geração de 37% dos empregos e por 36% das exportações totais do País.  Em 2000, somavam US$ 20,6 bilhões as exportações do agronegócio nacional, cresceu para US$ 58,4 bilhões em 2007 e promete superar os US$ 70 bilhões em 2008, contribuindo significativamente para a geração de saldos comerciais para o Brasil. Na verdade, as contribuições do agronegócio representaram a totalidade (1994 a 2004 e em 2007) ou a maior parcela (85% em 2005 e 90% em 2006) do superávit da balança comercial brasileira. O superávit de 2007 foi de  US$ 42 bilhões e sinaliza para montantes ainda maiores em 2008, quando, se estima, o complexo soja e as carnes, responderão por 80% desse saldo.

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