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Os 4 bi do Pan


Kenio de Gouvêa Cabral

Muito se está falando do “Pan do Rio” e da sua importância. E de alguma forma dá para achar alguma verdade nisso. Mas, convenhamos, os 4 bilhões gastos para organizá-lo são muita coisa! São mais de 13 vezes o orçamento inicial.

Dói saber que um país como nosso tão carente de recursos em todas as áreas se deu ao luxo de assumir isso. Dói ainda mais saber que o Governo liberou tudo isso sem maiores burocracias. Assim, rapidinho.

Imaginem um plano de reestruturação das escolas do país. Quanto tempo levaria para o governo liberar 4 bi?

Imaginem projetos vários na saúde, segurança, transporte. Não, não dá para imaginar, pois nada seria tão rápido ou urgente. Prioridade mesmo é o Pan do Rio. Então, tá aqui: 4 bi.

É impressionante como temos dificuldade de priorizar coisas.

Digo “temos”, pois a horda de políticos que nos representa e decide os desígnios da nação foi selecionada democraticamente, ou seja, uma maioria enxergou neles o representante ideal para os seus interesses.

Mas o que é maioria no Brasil? Quais são os interesses dessa maioria?

Para uma população com taxa de analfabetismo acima de 10%, com uma média aproximada de seis anos de estudo e com um analfabetismo funcional podendo chegar a 80%, fica difícil dizer. Está mais do que provado e discutido de que esse quadro reflete a qualidade da democracia brasileira.

Mas nada justifica a falta de sensibilidade de nossos políticos em atender as prioridades da população.

Exemplos não faltam. Vamos considerar um deles, o setor agropecuário.

No primeiro semestre, esse setor já soma 26,75 bilhões de dólares, o que responde em grande parte pelo superávit comercial brasileiro.

Desse total, pode-se praticamente distribuir 50% para a agricultura e 50% para a produção de carnes, principalmente de frango e bovina.

São milhões de pessoas envolvidas com toda essa produção, gerando divisas e receita para o país.

O certo seria um investimento maciço nesse setor, para fortalecer as bases que suportam essa produção e que poderiam fazê-la crescer ainda mais.

Entretanto, toda essa pujança do setor agropecuário não traduz ainda o seu potencial. Pelo contrário, está longe disso.

Por exemplo, o Brasil é campeão em commodities agrícolas. Deveria reverter isso para o processamento industrial de sua produção agrícola e agregar valor aos seus produtos. Geraria mais empregos e mais divisas para o país.

O Brasil, também, é campeão na produção e exportação de carnes. Entretanto temos deficiências. A questão higiênico-sanitária é um entrave sério para as exportações. Precisamos implementar programas, treinar pessoas e colocar técnicos a campo. Tudo isso é urgente!

O Brasil possui uma flora diversificada que alberga medicamentos e essências para aplicações de altíssimo valor agregado. Atualmente empresas estrangeiras aplicam vultosas quantias em pesquisas para o desenvolvimento desses produtos, que mais tarde, nós, o povo que não conhece seus interesses, irá comprá-los a preço de ouro.

Os centros de pesquisas brasileiros, grandes responsáveis pelo boom do setor agropecuário, estão sucateados e seus pesquisadores são mal remunerados.

Como se vê com 4 bi daria para fazer outras coisas muito mais prioritárias que o Pan do Rio.

Não me surpreenderia se, após o Pan, surgissem notícias como “MST invade Vila Olímpica do Pan” ou “Desvios de dinheiro nas obras do Pan” ou até “CPI do Pan”.

Infelizmente, também não me surpreenderia, se tudo isso depois acabasse em “pizza”, como tem sido com todos os escândalos estratosféricos em nosso país.

Enfim, como se diz muito por aí, enquanto nossos políticos deitam e rolam, menosprezam e tratam com escárnio os seus papéis enquanto líderes da nação, as prioridades já seculares continuarão pendentes como um quadro na parede, que, por estar sempre lá, ninguém mais nota.

E tudo isso acontecendo exatamente assim, debaixo de nossos narizes, em um país que poderia estar bem melhor do que é.

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