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OGMs e o mercado internacional


Decio Luiz Gazzoni

Alguns leitores se assustaram em saber que os produtores gaúchos estão recebendo um valor maior pela soja transgênica que o paranaense pela não transgênica. Não se surpreendeu quem havia lido o estudo do IFPRI (USA) e do DIA (Holanda), prospectando o futuro do mercado internacional de alimentos. A assunções eram: a) países emergentes adotarão a tecnologia em diferentes graus; b) os EUA, o Canadá, a Austrália, a China e a Argentina manterão ou ampliarão a área de plantio; c) o Japão e a Europa permaneceriam parcialmente refratários. Os cientistas utilizaram um sofisticado modelo matemático do comércio mundial, abordando preços, produção e as conseqüências da mudança alimentar dos consumidores. Para o estudo, foram usados o milho e a soja (OGM e não OGM), com certificação de origem.

Percepção

De acordo com os analistas, os principais fatores que impulsionaram ou mantêm as restrições a OGMs são:

a. os consumidores de países ricos têm suas necessidades alimentares e nutricionais plenamente atendidas;

b. esses consumidores, de alta renda e baixo comprometimento do orçamento doméstico com alimentação, têm decisões de consumo inelásticas em relação aos preços;

c. existe um elevado grau de desinformação e desconhecimento em relação à biossegurança. O cidadão de Primeiro Mundo é bombardeado, diariamente, com informações sobre as mais díspares áreas do conhecimento

d. o cidadão bem nutrido e sem pressão do custo da alimentação não vê razão para qualificar sua informação sobre OGMs, assumindo a postura cômoda de questionar sua segurança;

e. é mais fácil assustar que tranqüilizar;

f. a seqüência de fiascos dos sistemas de proteção à saúde dos países europeus minou a confiança dos consumidores. Céticos da capacidade dos Governos para proteger a sua saúde, evitam riscos;

g. no inconsciente coletivo, é politicamente correto alinhar-se a ONGs que brandem bandeiras de proteção ao ambiente, justiça social, combate à fome temas incontestáveis. Essas ONGs também adotaram a luta contra OGMs;

h. até recentemente, a Europa estava tecnologicamente defasada em relação aos EUA, provocando uma onda de xenofobia tecnológica, discretamente induzida por governos e empresas concorrentes, em apoio às ações das ONGs. Com o avanço científico europeu, muda a postura dos Governos e empresas high-tech em relação a OGMs.

Mercado internacional

Os cientistas assumiram que o custo de produção de OGMs é menor e/ou que a sua rentabilidade é igual ou maior que equivalentes não OGMs - caso contrário os agricultores não adotariam a tecnologia em larga escala. Os resultados indicam que o mercado se ajustaria rapidamente, distribuindo as partidas de commodities de acordo com as exigências de cada mercado, sem ágio ou prêmios. Em mercados que aceitam OGMs, o preço de variedades não modificadas cai, em virtude do alto grau de substituibilidade entre OGMs e não OGMs, e também pela oferta de produtos não OGMs destinada a atender aos mercados restritivos.

Conclusões

Os autores concluem que os países com menores restrições a OGMs beneficiar-se-iam em maior grau. As regiões mais receptivas à biotecnologia e mais sensíveis aos aumentos de produtividade, apropriar-se-iam do maior quinhão de mercado. Entretanto, pela velha máxima do beati possidentis, quem, efetivamente, dominar a tecnologia, apropriar-se-á do maior ganho financeiro, qualquer que seja a forma de reorganização do mercado. Estrategicamente, mais importante que plantar ou consumir OGMs, será dominar a tecnologia, para auferir as oportunidades mercadológicas, afora os ganhos com a propriedade intelectual da inovação tecnológica.

Visão de futuro

A oportunidade está em direcionar as energias, atualmente despendidas em protestos contra conglomerados multinacionais que lideram o mercado de biotecnologia, passando a exigir maiores investimentos em institutos nacionais de pesquisa. Essa mudança de foco permitiria ao Brasil ombrear-se com outros detentores de tecnologia agrícola na fronteira do conhecimento, seja ela lastreada em biotecnologia ou em outra vertente que possa conferir ao agronegócio o mesmo grau de competitividade no mercado globalizado.

O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. Homepage www.gazzoni.pop.com.br

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