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O primeiro passo foi dado...


Amado de Olveira Filho
Semana passada foi realizado mais um Encontro Internacional dos Negócios da Pecuária (Enipec), um grande evento dedicado à atividade da pecuária. A cada dois anos este importante setor da economia se reúne para alavancar conhecimento e discutir os destinos da classe dos pecuaristas.
Ao final do encontro fiquei a imaginar e a me questionar sobre o que fazer para que os milhares de pecuaristas de nosso Estado possam ter remunerados seus fatores de produção e obter a tão necessária renda para a manutenção de sua família e ainda reinvestir continuadamente na modernização de sua propriedade.
Por mais de uma vez me veio à cabeça que se os pecuaristas reduzissem drasticamente o tamanho do rebanho e, por conseguinte, reduzissem a oferta de carnes para a região Sudeste do Brasil, especialmente para os Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, o Brasil voltaria os olhos para a pecuária, especialmente para a bovinocultura de corte.
Partindo da premissa de que, para o mercado "o que é caro é o que é raro", que consequências recairiam sobre a bovinocultura de corte de Mato Grosso que, em 1990, possuía um rebanho de 9 milhões de cabeças, já no ano 2000 alcançou 18 milhões de cabeças e agora, em 2010, ultrapassa os 27 milhões de cabeças de gado?
Sou crítico daqueles que defendem a transferência de áreas de pastagens para a agricultura, mas vejo que até pode ser uma solução, considerando que atualmente não é mais possível a abertura, em grande escala, de novas áreas. Ao transferir áreas para a agricultura, o setor da pecuária de corte voltaria a se capitalizar e, com um rebanho menor poderia impactar positivamente os preços ao setor primário da cadeia.
Segundo informações do Departamento Técnico da Famato, a atividade da pecuária em Mato Grosso ocupa 9 milhões de hectares com aptidão agrícola. Informações da Aprosoja dão conta de que nesse processo e, se resolvidas as questões de logística, a produção de soja poderia se elevar dos atuais 19 milhões de toneladas para até 29 milhões de toneladas.
Na hipótese de tudo isto ocorrer, teríamos finalmente reduzido o tamanho do rebanho bovino de Mato Grosso. Seu crescimento só ocorreria via aumento de produtividade. No Enipec vimos que isto é possível e existem conhecimento e tecnologia, disponíveis aos pecuaristas. A própria Acrimat está implantando um sistema denominado de "Programa de Gestão de Propriedades de Sucesso - GPS".
O programa GPS é uma interessante ferramenta de gestão que identificará, de forma simples e com a participação efetiva do produtor, os seus custos de produção que poderão ser cruzados com índices zootécnicos disponíveis. Após a obtenção de uma série histórica mínima as informações serão disponibilizadas aos pecuaristas para a orientação na tomada de decisão em seus negócios.
Dado o primeiro passo, ou seja, o conhecimento efetivo dos seus negócios, o pecuarista certamente buscará ganhos com aumento de produtividade, otimização de seu apascentamento, redução de custos de produção e, certamente verá que é bom negócio trabalhar com um rebanho menor.
Não se trata de nenhuma apologia simplista de reduzir a produção para aumentar preços, mas uma avaliação honesta com base no que se vê em todos os municípios mato-grossenses. Admitir que do jeito que está não dá para continuar é o passo seguinte.
Há quinze anos atrás, numa Assembléia Geral da Famato, que tinha como presidente o pecuarista Zeca D"Ávila, os reclames eram de mais crédito e renegociação de dívidas. Ouviu-se naquela Assembléia uma frase que continua atual até os dias de hoje: "Nós queremos apenas trabalhar ou queremos ganhar dinheiro?". Esta pergunta precisa ser repetida neste ano em todo o Brasil! Vamos reduzir a produção de forma continuada, num protesto silencioso e veremos que as autoridades e a população urbana aprenderão a reconhecer nossa importância.

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