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O paraíso agronômico


Decio Luiz Gazzoni
Há 45 anos eu cursava Agronomia em Porto Alegre, e o paradigma era o Corn Belt dos EUA, onde se praticava a agricultura mais moderna da época, com elevados índices de eficiência e produtividade. Era um sonho juvenil conhecer a região, que visitei em 1975 e para onde retornei inúmeras vezes.

Há 40 anos conheci o Mato Grosso. De Cuiabá a Manaus ou a Porto Velho, eram milhares de quilômetros de mata cerrada - sequer picada havia no meio da selva. Nos últimos anos, visitei inúmeras vezes o Mato Grosso, acompanhando a evolução da sua agropecuária. No início, a pecuária extensiva, ineficiente, necessitando de 3 hectares para cada cabeça, abatidas com mais de 3 anos. Os primeiros colonos derrubavam um pedaço da floresta, plantavam arroz por poucos anos. Ao esgotar a fertilidade, derrubavam outro pedaço da floresta e o ciclo recomeçava. Esta agropecuária extrativista e itinerante gerou milhões de hectares de terras degradadas Brasil afora.
Mas, na década de 1970, com a minifundização do Rio Grande do Sul, milhares de gaúchos iniciaram o seu Exodus, por ser impossível sobreviver em pequenos lotes de terra nos pampas. Colonizaram o Paraná, depois Mato Grosso do Sul, chegaram ao Mato Grosso e a todo o resto do país, da América Latina e hoje já estão na África e alhures. O mote inicial era terra farta embora pobre, portanto barata. Chovia de fim de setembro a fim de abril e não caía uma gota de água de maio a setembro. Não havia estradas, escolas, hospitais, supermercados. Mas havia empreendedorismo, capacidade gerencial, visão de negócio.

Semana passada voltei ao Mato Grosso, onde se pratica a agropecuária mais moderna do mundo, em bases sustentáveis. Com inovações tecnológicas avançadas, hoje o agricultor colhe duas safras de grãos por ano e, depois, ainda planta capim para o gado, que continua engordando durante a seca! A produtividade de grãos, o ganho de peso e a idade de abate do gado estão entre os melhores índices do mundo. Sobrevoando o Estado, testemunha-se o xadrez da floresta nas APPs e RLs - afinal três safras na mesma área reduzem a demanda de áreas novas. Mato Grosso deixou muito para trás o Corn Belt, com sua única safra, cujos agricultores dependem dos subsídios do Governo para se manter no negócio.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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