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O FUTURO DO PRODUTOR DE SOJA NO BRASIL


Amélio Dall’Agnol

Prospectar cenários, tomando como referência as tendências atuais, não deve ser considerado um simples exercício de adivinhação. Embora essas análises dificilmente consigam precisar o que irá acontecer amanhã, o cenário previsto sempre é um bom indicativo para quem deseja aventurar-se numa iniciativa dentro desse cenário imaginado.

Fazendo esse exercício com a soja e considerando o atual cenário mundial da commodity, seria pertinente afirmar que será azul o horizonte dos produtores brasileiros que produzem soja de forma competitiva para o mercado global, pois não se vislumbram em curto prazo, riscos de encalhe do produto por excesso de oferta e a conseqüente queda dos preços internacionais. Apenas para ilustrar, o crescimento da produção mundial nos últimos 33 anos tem sido de quase cinco milhões de toneladas/ano (41,8 milhões de toneladas em 1970 e 194 milhões de toneladas em 2003) e os estoques estão em seus níveis mais críticos, indicando que o crescimento da demanda tem sido ainda maior que o da oferta.

O aumento do consumo, principalmente de parte dos países asiáticos – tradicionais consumidores do produto – está crescendo na mesma velocidade que crescem as suas economias. O PIB da China, hoje convertida em nossa principal parceira no comércio de soja, cresce a impressionantes taxas de quase 10% ao ano, seguida de perto por outras economias da região (Índia, por exemplo). Boa parte desse ingresso adicional de recursos financeiros está sendo destinada à compra de alimentos – soja no meio. E o potencial de consumidores diretos ou indiretos de soja, apenas dessas duas nações, é de quase 2,5 bilhões de pessoas. Imagine-se o consumo adicional de soja se essas economias crescessem o suficiente para oferecer tão somente um frango por ano para cada concidadão.

E o que é mais estimulante para o produtor brasileiro é saber que o Brasil é o único país, dentre os grandes produtores mundiais da oleaginosa, que ainda dispõe de imensas reservas de terras aptas e disponíveis para o seu cultivo – particularmente nos Cerrados do meio-oeste - podendo incorporá-las rapidamente ao processo produtivo, quando e se o mercado assim o desejar.

Adicionalmente, a análise parece indicar que o cultivo da soja no sul do Brasil deverá estabilizar-se em torno da área atual e até decrescer sob condições desfavoráveis de mercado. Por outro lado, o centro-oeste deverá continuar crescendo, convertendo-se, antes do final da presente década, no grande celeiro nacional, com a soja liderando a produção de grãos. Por contar com mão de obra familiar e com possíveis dificuldades para competir com as grandes lavouras do meio oeste, as pequenas e médias propriedades agrícolas do sul tenderão a dedicar-se a atividades mais rentáveis, como produção de frutas, de hortaliças, criação de pequenos animais e, até, turismo rural.

Em última análise, o futuro do produtor brasileiro de soja depende, principalmente, da sua capacidade de competir e vencer a concorrência no contexto de uma economia aberta, globalizada e com os mercados integrados. Nessas condições, só tem êxito um produtor que tenha bom nível de escolaridade, que seja um consumidor intensivo de tecnologia, que tenha produção de escala e que se dedique integralmente ao negócio agrícola. Em outros termos, precisa ser um profissional da agricultura, de médio para grande porte e estar permanentemente antenado para as novidades do mercado, como novas tecnologias, tendências dos preços, custos de produção, processos de comercialização, entre outros.

Eventualmente, pequenos produtores de soja também poderão subsistir com êxito, mas como produtores de um tipo especial de soja, como soja orgânica, soja com características especiais para consumo (por exemplo) para atendimento a nichos específicos de mercado, o qual, em contrapartida, pagaria preços diferenciados. Também poderiam ter sucesso pequenos e médios produtores de soja convencional, desde que esta participasse de um sistema de produção intensivo, onde a soja entraria como um dos diversos componentes do sistema.

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