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O futuro do monitoramento de pragas


Decio Luiz Gazzoni
Há 40 anos, ao iniciar minha carreira na Embrapa, o primeiro grande desafio foi desenvolver e implantar o Programa de Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIPsoja). Logo percebi que o grande calcanhar de Aquiles do MIP, em soja ou qualquer outra cultura, era o levantamento das pragas na lavoura, que é fundamental para a decisão de aplicar ou não uma medida de controle. No início os agricultores alegavam falta de tempo ou acreditavam que as informações detalhadas e  frequentes  sobre as pragas eram desnecessárias. Nosso desafio era convencê-los a efetuar o levantamento. Já nos últimos anos, o problema ficou muito mais sério: não há mais mão-de-obra disponível no campo!

Há 40 anos, eu tinha uma visão de futuro: dia chegaria em que faríamos o levantamento de pragas, sejam insetos, doenças ou plantas daninhas, por imagens aéreas. Pois este dia está chegando. Com o uso de imagens hiperespectrais, é possível identificar pragas e seu nível de ataque na lavoura. A imagem hiperespectral coleta e processa informações de todo o espectro eletromagnético. O objetivo é obter o espectro para cada ponto (pixel) na imagem de uma cena, com o propósito de identificar materiais, objetos ou seres vivos, flagrados na imagem.
O olho humano vê a luz em três bandas (vermelho, verde e azul). A imagem espectral usa dezenas de bandas, dividindo a imagem de acordo com a banda e permitindo enxergar o que os olhos não veem. Cada objeto deixa “impressões digitais” únicas no espectro eletromagnético, conhecidas como assinaturas espectrais. Assim, é possível identificar um inseto ou o ataque de uma doença em uma lavoura.

Hoje, o custo de tomada, análise e interpretação de imagens espectrais para esta finalidade é proibitivo. Mas, com o avanço da técnica e dos equipamentos em outros campos, logo estaremos usando imagens espectrais para monitorar a sanidade ou a nutrição das plantas de uma lavoura, coletadas por um hiperespectrômetro, montado sobre um drone, que transmitirá as imagens para o escritório do agrônomo, o qual poderá efetuar recomendações mais rápidas e precisas. Será o equipamento de ultrassom, ressonância magnética ou tomografia dos agrônomos.
A minha visão de futuro, tida há 40 anos, está chegando no campo.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa. www.gazzoni.eng.br

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