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O futuro da população e dos alimentos


Amélio Dall’Agnol
O temor pela falta de comida é antigo e recorrente. Mesmo assim, de acordo com a FAO, a comida ainda falta na mesa de quase um bilhão de pessoas, mundo afora. Por incrível que pareça, a maioria desses subnutridos vive no campo, perto da produção, mas são incapazes de auto abastecer-se. Passam fome porque são produtores ineficientes ou porque, exercendo outras atividades, não conseguem renda para adquirir o alimento de outrem.
 
Para quem nunca passou fome, esta palavra não significa muita coisa. Mas busque saber o que ela significou para os imigrantes que por aqui aportaram no final do século XIX e início do século XX, forçados a abandonar o Velho Continente para não morrerem de fome. Lembro-me da intolerância dos meus pais, já na terceira geração de brasileiros de origem italiana, quanto a deixar comida sobrando no prato. Este era um hábito simplesmente inaceitável, dado o trauma que haviam herdado dos seus avós e bisavós, devido ao fantasma da falta de comida que os fez migrar para o Brasil.
 
Estima-se que lá pelo ano 2050 a população humana alcançará os nove bilhões de pessoas, e entrará em equilíbrio, igualando o número de nascimentos com o de óbitos. Já são comuns famílias optando por nenhum ou apenas um filho. Dois filhos por família é o mais comum, mas isto é apenas suficiente para repor os pais e manter a população estável. Foi-se o tempo das famílias gigantes, como a minha: eu e mais 13 irmãos.
 
Com a população estabilizada, cai a necessidade de aumentar o fornecimento de mais alimentos. Mas a queda na sua demanda não acontecerá logo após a estabilização da população, pois os idosos de 2050 certamente viverão mais, como resultado da melhoria nas condições de vida, o que lhes possibilitará ter uma alimentação mais abundante e saudável, além de melhor acesso à moderna medicina.
 
Não há riscos de que falte alimento no Planeta, a menos que ocorra alguma catástrofe ambiental imprevisível. As previsões de Malthus (1789), de que a população cresceria mais do que nossa capacidade de produzir alimentos perdeu a validade com os desenvolvimentos tecnológicos que vieram depois das catastróficas previsões dele. O que hoje pode faltar, e para muitos falta, é dinheiro para adquirir o alimento, que muitas vezes é desperdiçado no caminho percorrido do campo até a mesa do consumidor.
 
Uma importante preocupação, cada vez mais presente na sociedade, é com a sustentabilidade da produção, pois é necessário preservar o recurso natural que provê o alimento que hoje consumimos, para que as gerações futuras, também, possam produzir seus próprios alimentos e não sejam condenadas à fome pela ganância e imprevidência das atuais gerações.
 
Embora estudos indiquem estabilização da população após 2050, há outras análises indicando que a África poderá triplicar sua população e o Planeta chegar a 12 bilhões de cidadãos, em 2100. Se isto acontecer, a produção de alimentos precisará crescer significativamente, o que, estimamos, não será problema com o uso das modernas técnicas de produção hoje disponíveis, além da disponibilidade, ainda, de grandes áreas aptas para produzi-los, principalmente no Brasil e na própria África. Segundo a ONU, a demanda adicional por alimentos crescerá 20% na próxima década e 40% desse montante, se estima, deverá ser disponibilizado pelo Brasil, dada a sua disponibilidade de terras e do domínio tecnológico para produzir até três safras, em regiões tropicais com baixas latitudes.
 
É injusto que, com a disponibilidade das modernas tecnologias de produção e da abundância de terras aptas para produzir alimentos, ainda tenhamos gente passando fome, resultado, não da nossa incapacidade para produzir mais alimentos, mas da injusta distribuição das riquezas, tanto no campo quanto nas cidades. “Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome” (Mahatma Ghandi).

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